Re-publicamos, re-editando, a nota sobre a exposição “O Paraíso Segundo José Maria”, de João Ferreira pois a mesma, depois de já ter estado patente na cidade de Leiria, viaja agora até Lisboa. A Pequena Galeria prepara-se para receber a exposição do fotógrafo leiriense entre 20 de Setembro (inauguração agendada para as 18h00) até 20 de Outubro.
João Ferreira, fotógrafo, traz-nos um novo trabalho inspirado numa obra do escritor português João Tordo. Tal como no livro “O Paraíso Segundo Lars D”, “neste ensaio fotográfico os homens revelam-se no silêncio. Um silêncio apenas interrompido pelas orações, que são proferidas em longas caminhadas diárias, de trinta a quarenta quilómetros, ao longo dos oito dias em que grupos de romeiros percorrem a ilha de S. Miguel, nos Açores“.
Um ritual de recolhimento, com origem no século XVI, que “procura a reconciliação do homem com a natureza através de preces pelo fim das erupções vulcânicas e dos movimentos sísmicos“. É um projecto que o fotógrafo de Leiria apresentou, pela primeira vez, ao público no passado mês de março, na galeria da Livraria Arquivo, na sua cidade natal. A primeira mostra do projecto, contou com uma selecção de imagens – que agora, neste Setembro, é alargada – no âmbito de uma residência artística que se realizou no final do mês de março, na ilha de São Miguel. O resultado final será apresentado a 20 de setembro, n’A Pequena Galeria (Lisboa), e em Janeiro de 2019, no Mira Fórum (Porto). Relembremos a sinopse com que João Ferreira nos apresenta o seu projecto:
“O arquipélago era assolado por inúmeros terramotos e erupções vulcânicas.
Uma ilha onde se está só entre pedras negras e um verde denso.
Um caminho feito lentamente, ao som de orações, num mantra envolvente e pacificador.
Desde o século XVI vários grupos de homens percorrem, em romaria, a ilha de S. Miguel, num movimento circular no sentido dos ponteiros do relógio, mantendo o mar sempre do seu lado esquerdo.
Um culto religioso com séculos de tradição. Restrito a homens dos oito aos oitenta. A presença do feminino torna-se visível na indumentária dos romeiros. O xaile, o lenço nas costas, o bordão e a cevadeira – adereços que encontramos em comum nesses homens.
Rostos de traços vincados por um arquipélago à deriva num oceano.
Os terços. As orações. A fé. A busca da paz interior. O acalmar dos terramotos. O apaziguar das tormentas. Oito dias de comunhão com a força da natureza, sacrificando o corpo pela fé, purificando a mente pela introspecção.”
João Ferreira nasceu em Leiria (1976), onde reside e trabalha. Desde a década de 1990, a fotografia tem acompanhado João Ferreira num percurso paralelo a todas as suas outras actividades. A partir de 2008 passa a desenvolver os seus trabalhos com recurso à fotografia digital, utilizando pontualmente processos analógicos. Entre 2010 e 2011 publica em algumas revistas de automóveis clássicos, em Portugal e França. Já em 2012 os temas dos seus trabalhos começam a ser essencialmente dedicados à fotografia documental humanista, tendo projectos elaborados e publicados em diferentes países. “1.3 Billion” foi apresentado em 2014 no m|i|mo Museu da Imagem em Movimento em Leiria, como um retrato de uma China contemporânea, percorrendo o país em diversas exposições a solo, incluindo os Açores e no exterior na Corunha, inserido no Outono Fotográfico. Em 2016 o ensaio Arquipélago, desenvolvido em duas ilhas de Cabo Verde, foi seleccionado pela agência Magnum e pela Canon, para a leitura de portefólios no Visa Pour l’Image em Perpignan, França, foi finalista do Prémio Revelação, dos Encontros da Imagem, Braga e recebeu uma menção honrosa no Tokyo International Photo Awards, Japão. Em 2017 foi vencedor do Prémio Internacional Fotojornalismo Estação Imagem, na categoria vida quotidiana. Expõe regularmente desde 2012.
Por este percurso já consolidado e sempre em desenvolvimento, pelo trabalho que já lhe conhecemos, pela sinopse que nos chega, “O Paraíso Segundo José Maria” é uma exposição a ter de visitar, agora em Lisboa, n’A Pequena Galeria (de quarta a sexta: 18h00 às 20h00 / sábados: 16h00 às 20h00). Patente até dia 20 de Outubro de 2018. •