No contexto de celebração dos 500 anos da sua primeira edição, com mais de 100 sessões apresentadas e vista já por mais de 11 mil espectadores, o espectáculo “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente, regressa este mês ao palco do Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, para uma nova temporada e segue para outros palcos para deixar ainda mais público rendido à arte de bem representar o universo Vicentino.
Estreado em Outubro de 2016, “Embarcação do Inferno” é uma co-produção entre A Escola da Noite e o Centro Dramático de Évora, encenada pelos directores artísticos das duas companhias, que junta em palco oito actores dos dois grupos (e alguns bonecos): Ana Meira, Jorge Baião, José Russo, Rosário Gonzaga e Rui Nuno (Cendrev) e Igor Lebreaud, Maria João Robalo e Miguel Magalhães (A Escola da Noite).
Numa altura em que se comemoram os 500 anos da sua primeira apresentação e da sua primeira publicação (2016-2018) do “Auto de Moralidade da Embarcação do Inferno”, também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”, A Escola da Noite e o Cendrev, ambas com um longo e aprofundado trabalho em torno do reportório vicentino, construíram a sua versão do grande clássico do teatro português. O espectáculo é um convite ao público para que volte a olhar para a peça e a confrontar-se com tudo o que ela continua a ter para nos oferecer, cinco séculos depois. No programa do espectáculo, José Augusto Cardoso Bernardes, consultor científico do projecto, afirma: “pela mão qualificada, segura e inventiva da Escola da Noite e do Centro Dramático de Évora, ficamos em condições de problematizar temas de sempre: Morte e Vida, Mal e Bem, Ter e Poder. E, para tal, nem sequer precisamos de sair completamente do século XXI. Com os pés assentes no nosso tempo, bastará alongar o ouvido e apurar a visão para escutar a sensibilidade e a moral de um outro tempo que, afinal, não está ainda tão afastado de nós como pode parecer”.
Como é marca habitual das duas companhias, o espectáculo apresenta o texto na íntegra (na versão fixada por Paulo Quintela, na década de 50 do século XX), com uma abordagem cénica contemporânea. Da equipa artística do espectáculo fazem ainda parte João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano (cenografia), Ana Rosa Assunção (figurinos e bonecos), António Rebocho (luz) e Luís Pedro Madeira (música).
Neste regresso a Coimbra, “Embarcação do Inferno” cumprirá uma temporada de 10 sessões para o público escolar (9 a 16 de Novembro, de terça a sexta-feira, às 11h00 e às 15h00) e é apresentado em duas sessões para o público em geral, a 17 e 18 de Novembro (sábado às 21h30 e domingo às 16h00). Logo a seguir, o espectáculo rumará a Braga (Theatro Circo, 22 e 23 de Novembro sempre às 21h30 – apresentada também ao público escolar no dia 22 às 10h00 e 15h00, e 23 de novembro às 15h00) e a Ponta Delgada (Teatro Micaelense, 30 de Novembro e 1 de Dezembro).
Partindo de versões mais antigas dos textos de Gil Vicente para apresentar o célebre capítulo da dramaturgia portuguesa, que utiliza a viagem das almas para retratar os vícios e males terrenos, as duas companhias convidam os espectadores a voltarem a olhar para a peça e a confrontarem-se com tudo o que ela continua a ter para nos oferecer, cinco séculos depois.
A acrescentar ainda que em Braga, paralelamente à apresentação da peça “Embarcação do Inferno”, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva vai acolher, no dia 20 de novembro (18h30), a conferência “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo”, sobre a vida e obra do primeiro dramaturgo português. A conferência conta com a coordenação de José Augusto Cardoso Bernardes, um dos maiores especialistas em Gil Vicente e consultor científico deste projeto que uniu A Escola da Noite e o Cendrev. A conferência é de entrada livre.
E não tenha medo de embarcar nesta Barca do Inferno pois é conduzida a preceito com toda a excelência, de fazer inveja a Caronte. Apenas tenha medo de não ir ao Teatro, pois isso é que lhe pode fazer mal. •