A Quinta do Pinto abriu as suas portas para provas de edições especiais de três dezenas de brancos e tintos produzidos nesta propriedade centenária, onde a aposta no enoturismo é um bem maior.
O ancestral solar e a vista para a parte da vinha já conhecida como a pequena Toscana portuguesa
Estamos na região dos Vinhos de Lisboa ainda desconhecida por muitos, mas que urge explorar, até porque a tradição das quintas vitivinícolas de Alenquer denotam um forte impulso nesta área. Esta temática é destacada por António Pinto Cardoso, o proprietário da Quinta do Pinto – conhecida como Quinta do Anjo –, localizada na Aldeia Galega da Merceana, em Alenquer, onde uma parte da vinha é conhecida como a pequena Toscana portuguesa. Foi precisamente “por acreditar no potencial agrícola desta região próxima do mar” – nas palavras da administradora e filha, Rita Cardoso Pinto –, que o nosso anfitrião decidiu adquirir esta propriedade em 2003. “Aqui já se fazia vinho” cujas uvas eram vindimadas no terreno circundante ao solar do século XVII, com a Serra de Montejunto, à direita, e o Oceano Atlântico, em linha recta, à esquerda.
Dos cerca de 400 hectares do passado, a propriedade soma, hoje, 120, dos quais 63 estão ocupados por vinha. Das 27 castas plantadas, 40 por cento são brancas e 60 por cento são tintas, “com grande predominância das regionais, seguidas das nacionais e das estrangeiras”, sublinha Rita Cardoso Pinto. A vinha mais velha conta já com 43 anos.
“A vinha não é regada”, garante Rita Cardoso Pinto, mas “fazemos pedicure e a manicure feita à vinha todos os dias”. Sobre os tratamentos, a administradora da Quinta do Pinto assegura “actuamos quando é necessário, o que obriga a um maior trabalho humano”.
Os 50 depósitos de cimento antigos continuam a ter o seu papel preponderante da produção vínica desta propriedade vinhateira da região dos Vinhos de Lisboa
O trabalho na adega – de arquitectura antiga, onde os seus 50 depósitos de cimento originais permanecem “activos” – está nas mãos do enólogo Bernardo Saianda. A Rita Pinto Cardoso cabe “a aprovação final do lote a engarrafar”, função partilhada com o pai, António Cardoso Pinto. “A aproximação a todo o processo de produção foi acontecendo. Nunca tinha imaginado que acabaria por abraçar esta profissão, mas o chamamento da terra foi mais forte. Vamo-nos envolvendo com todo o ciclo da planta e com o desenrolar dos vinhos e fiquei ‘presa’. Não me vejo a fazer outra coisa! Este projecto era um sonho do meu pai e, com o tempo, toda a família acabou por embarcar!” É o caso de Ana Cardoso Pinto, responsável pelo marketing e por parte da exportação e pelo enoturismo deste negócio familiar.
Entre brancos e tintos, prevaleceram a Vinhas do Lasso, referência criada em homenagem à avó das duas irmãs – Rita e Ana –, enquanto a Quinta do Pinto é o tributo à moeda de ouro do reinado de D. João V – época em que o vinho produzido na Quinta do Anjo “valia mais um pinto” – e naturalmente ao pai de ambas, António Cardoso Pinto. Com particular atenção para as edições limitadas do Quinta do Pinto feitas a partir de “casta únicas, que se revelam já na vinha”, segundo Ana Cardoso Pinto. “São vinhos com elegância e diferenciação não só da casta, mas também do nosso terroir”, com particular atenção para a dupla de castas Marsanne e Roussanne dos Quinta do Pinto Limited Edition, vinho inspirado nos néctares de Rhône e a prova da paixão de António Cardoso Pinto pelos brancos.
Rita Cardoso Pinto fala ainda sobre a “fermentação casta a casta”, trabalho que “permite explorar o potencial máximo daquele talhão”. Após o loteamento é feito o trabalho em barrica para “todos os tintos e alguns dos brancos, nomeadamente da gama Quinta do Pinto e Anjo”, continua. As barricas são de várias origens – portuguesa, húngara, francesa, americana. A escolha depende daquela que melhor se adapta ao vinho que querem produzir.
A casta portuguesa Tinta Miúda é tida como uma das mais importantes do portefólio vitivinícola
No que aos tintos diz respeito, Rita Cardoso Pinto falou acerca da importância dada à Tinta Miúda ou não fossem os únicos da região dos Vinhos de Lisboa a produzir esta casta. “Quando adquirimos a quinta, havia um talhão de Tinta Miúda com mais de três décadas. Achámos um sacrilégio arrancá-la. Por isso, decidimos mantê-la na vinha”. O resultado é a edição limitada do Quinta do Pinto Tinta Miúda iniciada com a colheita de 2003.
Eis a boa nova da lista de referências vínicas, o Quinta do Pinto Chenin Blanc da colheita de 2018
Em contrapartida, há a boa nova do momento, o Quinta do Pinto Chenin Blanc 2018, o branco feito a partir da casta originária do Vale do Loire, em França, para conhecer este Verão.
Os vinhos produzidos na Quinta do Pinto podem ser degustados na companhia de pão saloio caseiro, queijo e enchidos no âmbito dos programas de enoturismo desenvolvidos na propriedade. Há visita guiada à adega, de segunda a quinta-feira, às 10h30 e às 15h30, sempre mediante marcação. Almoçar na quinta é uma possibilidade quando combinado previamente, bem como “participar em todas as actividades de vinha e de adega que aqui se desenrolam nesse dia”. O preço por pessoa depende do número de visitantes. Quanto a novidades, “estamos a estudar a hipótese de explorar a casa para alojamento, tipo estalagem”. A abertura de um espaço de restauração semelhante a uma taberna está a ser igualmente estudada.
Apesar do esforço que tem vindo a ser feito por parte da Quinta do Pinto – e dos Vinhos de Lisboa – Rita Cardoso Pinto é da opinião de que “falta que os restaurantes de Lisboa tenham ‘Lisboa’ com mais força nas suas cartas e nas suas sugestões. A qualidade da região esta lá, mas precisamos de um impulso para chegar ao copo do consumidor. No mercado internacional a avaliação do vinho é baseada na sua qualidade intrínseca. A apreciação não vem ‘presa’ a uma ideia preconcebida de região de origem. É feita uma avaliação ao produto e ao seu preço.”