Será Louise Bourgeois…

…e serei eu e serás tu e será ele/a e seremos nós e sereis vós e serão ele/as e será a Lua e será o Sol e será uma pedra e será uma árvore e será um gato e será um cão e será um pássaro e será um ovo e será uma cama e será um livro e será um olho…

O que fazem as obras de arte? Emmanuel Levinas, inicialmente, repudiou as obras de arte: pelo seu mutismo, pela ausência de rosto, pela palavra que não existe, aquela palavra que nunca nos dirigiriam. Sendo um filósofo que faz radicar a bondade na linguagem, correlativa da revelação que encontra no Livro e se transforma em letra derradeira cravada em cada pessoa, será compreensível a sua irritação para com esses “objectos inertes” que são as obras de arte; ao longo da sua vida, e consequente pensamento, acabaria por aproximar-se paulatinamente da arte e rever, não invertendo propriamente, esse seu repúdio inicial, para considerar as obras de arte promessa de algo inacabado e, por tal, não exactamente inefáveis, mas veículos de uma respirabilidade positiva. Já para Walter Benjamin as obras de arte são as irmãs dos problemas filosóficos: não será de menosprezar tal irmandade; ele não diz que a arte é a irmã da filosofia, atenção, mas que as obras de arte são as irmãs dos problemas filosóficos. Julgo que certa obscuridade, ou a ausência de uma claridade discursiva, poderá provir de, precisamente, ausência de familiaridade, não empatia, mas, então, daquilo a que se refere Walter Benjamin.

Como explicar que uma obra de arte é como um regador? Como explicar que uma obra de arte é como um aspersor? Como explicar que uma obra de arte é como um fertilizante? Apenas quando já nada, nada, pode convocar, nada pode despertar, nada pode, apenas então, acabamos. 3 irmãs – coração, pulmões, vísceras, para 1 problema filosófico – o que fazem as obras de arte? As obras de arte, então, parece-me: correm mais velozes que um puma, caem do céu como estrelas cadentes, brotam da terra como rosas, ajoelham-se e rezam absortas, ficam a olhar no escuro, leais, insubordinadas, doces, exaustas. Uma obra de arte é como um pirilampo. O coração pulsa, os pulmões respiram, as vísceras operam as distribuições – tudo é uma maquineta de procissão, com a “Sculptress” de Louise Bourgeois, com a minha palavra dada, com a vossa letra ferrada. Uma obra de arte pode ser também como um ferro em brasa a penetrar a pele. Mas pode ser igualmente uma catarata proeminente a lavar uma cegueira. Mas o que é uma obra de arte?

Será Louise Bourgeois…

Siga a Mutante em mutante.pt, no facebook , no instagram  e no twitter