Segurança, conforto, confiança. São estas as palavras mais pronunciadas pelos responsáveis por cada região do país. Some-se, ainda, tantos outros desígnios a (re)descobrir num roteiro de Norte a Sul, com escala nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Afinal, há que reerguer Portugal dentro e fora de portas.
Falámos com os presidentes das regiões de turismo de Portugal Continental, o Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira e a Diretora Regional do Turismo dos Açores. Objectivo? Conhecer as estratégias desenvolvidas, no sentido de reerguer o sector pelo qual são responsáveis, relembrar o quão eclético é Portugal e incitar os leitores a explorar todos os seus (r)encantos.
“Aqui costumamos dizer que ‘temos tudo’”
Luís Pedro Martins, Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal / © Gonçalo Villaverde
Comecemos pela região Porto e Norte. Aqui, as atenções estão centradas numa campanha promocional orientada para o mercado nacional e realizada em conjunto com a Associação Turismo do Porto. A acção é, “depois, estendida ao mercado espanhol e mais tarde a todos os mercados internacionais”, afirma Luís Pedro Martins, Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Este é apenas um dos pontos de partida para “Reerguer o Turismo”, plano esse “que será concretizado em dois anos e que assenta em três eixos: Norte mais qualificado; Norte mais atrativo; Norte com mais energia.” Segundo a explicação de Luís Pedro Martins, o primeiro consiste em reorganizar o produto turístico com base nas actuais exigências e na aposta de “‘vender’ o Porto e Norte de Portugal como uma região absolutamente segura, potenciando a percepção já existente a nível mundial sobre o nosso destino”. O segundo incide no desafio de “intensificar a comunicação do destino”. O terceiro será desenvolvido até 2022 e “prende-se com o reforço da promoção de eventos que consideramos estratégicos, com capacidade de atração de turistas estrangeiros ao território”, esclarece o Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
“O Centro de Portugal é um território vasto – o mais vasto do país – e muito diversificado, composto por realidades diferentes e que se complementam”
Pedro Machado, Presidente do Turismo Centro de Portugal
Viajemos até ao Centro de Portugal, cujo conjunto de iniciativas turísticas de tão vasto território revela o trabalho imparável liderado por Pedro Machado. Destaque-se as mais recentes. Além da dupla de guias feitos em colaboração com a equipa do Boa Cama Boa Mesa do jornal Expresso, é de destacar os filmes promocionais premiados fora de portas. É o caso de “Haverá Tempo” distinguido com o Certificado de Excelência Criativa, na 53.ª edição do Festival Internacional de Filme e Vídeo dos Estados Unidos, que decorreu em Los Angeles, ou “A Vida é Agora”, vencedor na categoria “Destinos Turísticos – Região”, do 13.º Festival Internacional de Filmes de Turismo “TourFilm Riga”, que teve lugar na capital da Letónia.
Ou o projecto “Ao Volante pelo Centro de Portugal” resultante do protocolo assinado entre o Turismo Centro de Portugal e a Sodicentro oferecendo, esta empresa, vouchers no valor de €50 a quem adquirir, entre 10 de Junho e 10 de Julho, viaturas nas suas instalações de Coimbra e Leiria, sendo aqueles utilizados apenas em empresas do sector do turismo desta região que exibam o selo “Clean & Safe”, por exemplo.
“Estou a falar, por exemplo, de campanhas que têm como objetivo principal dinamizar a procura pelas empresas da região, através de ofertas concretas que incluem alojamento, experiências, incentivos complementares e cartões Lisboa Card”
Vítor Costa, Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa / © D.R.
Façamo-nos à estrada, rumo a Lisboa. Além dos procedimentos veiculados neste “novo normal”, Vítor Costa, Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, sublinha o trabalho constante em parceria com a Associação Turismo de Lisboa, no sentido de desenvolver programas dirigidos ao mercado interno. “Estou a falar, por exemplo, de campanhas que têm como objetivo principal dinamizar a procura pelas empresas da região, através de ofertas concretas que incluem alojamento, experiências, incentivos complementares e cartões Lisboa Card”, esclarece Vítor Costa.
O propósito é levar os visitantes a circular gratuitamente e, através do acesso livre, conhecer melhor os museus, bem como explorar outros pontos de interesse turísticos. Esta missão é partilhada com os municípios da região, entre os meses de Julho a Setembro, no que ao preço e aos conteúdos diz respeito. A partir de Julho, o investimento será canalizado para campanhas promocionais junto dos mercados com maior peso na região de Lisboa – Espanha, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Rússia.
Paralelamente, o Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa reforça a necessidade de se “continuar a investir em projectos que reforçam a zona ribeirinha” e outros a realizar em parceria com várias câmaras municipais da região, para acicatar a procura por parte de potenciais turistas.
“Procuramos a colaboração das câmaras municipais, para conseguir chegar a esses agentes, no sentido de lhes dar toda a informação com uma palavra de ânimo, de esperança, para que não desistissem”
Ceia da Silva, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo / © D.R.
“A questão da sustentabilidade sanitária dos turistas é, para nós, decisiva”, declara António Ceia da Silva, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, referindo-se à Certificação de Compromisso com o “Destino Seguro e Sustentável”.
Com uma plataforma online própria (www.destinocertificado.pt ), criada para a sua obtenção por parte dos empresários das pequenas e médias empresas do território, esta acção traduz-se em “três guias de requisitos para a atribuição dessa mesma certificação”, no âmbito do alojamento, da restauração e da animação turística. “São mecanismos de apoio, nomeadamente, de informação, para os potenciais empresários da área”, explica António Ceia da Silva, os quais visam esclarecer as práticas a implementar, para garantir a segurança e a sustentabilidade nos seus estabelecimentos e, consequentemente, do destino. “Procuramos a colaboração das câmaras municipais, para conseguir chegar a esses agentes, no sentido de lhes dar toda a informação com uma palavra de ânimo, de esperança, para que não desistissem, não fechassem as suas unidades, porque tão interessante é um hotel de cinco estrelas, como é uma tasquinha com 20 lugares que muitas vezes dá o nome e o relevo a um destino turístico.”
A promoção interna é, nesta primeira fase, outra das questões fundamentais para o Alentejo e o Ribatejo. Trata-se de “um factor com o qual deparamos foi que a estadia média aumentou”, ou seja, “hoje, as pessoas marcam já para seis, sete dias, procuram concentrar-se na unidade para onde vão e estão mais dias nessa unidade. Esse é também um dado novo deste fenómeno pós-covid”, garante António Ceia da Silva. A esta boa nova, o Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo soma, ainda, um outro conjunto de iniciativas disponíveis para quem eleger este território para umas férias merecidas. São de destacar, por isso, “a nossa rede de cicling, a nossa rede de walking, a nossa rota de património imaterial, as rotas de turismo cultural”, que proporcionam a descoberto da identidade de tão vasta área com a tão desejada calma, e o site renovado do Alentejo (www.visitalentejo.pt), a adir ao do Ribatejo (www.visitribatejo.pt).
“A partir de julho, a oferta hoteleira estará na sua plenitude em funcionamento”
João Fernandes, Presidente da Região do Turismo do Algarve / © D.R.
Em terras mais a sul, João Fernandes, Presidente da Região do Turismo do Algarve, sublinha o desenvolvimento do extenso Manual de Boas Práticas “Algarve Clean & Safe”. “Trata-se de um documento que pretende reforçar a segurança do destino e a confiança de turistas, trabalhadores do setor e residentes e está estruturado com dicas específicas por ramo de actividade.” A promoção apresenta resultados positivos, sendo visível “a retoma gradual dos voos comerciais de passageiros, com diversas companhias já com calendários de viagens para o destino para os próximos dias”.
Assegurada está, também, a implementação das medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde no Aeroporto Internacional de Faro onde, quem chegar, será submetido à medição da temperatura. Além disso, “tem à disposição higienizadores de mãos em todos os terminais, bem como sinalética a indicar o distanciamento físico e informação sobre o uso de máscara, havendo também proteções nos balcões de atendimento”, entre outras medidas a respeitar. Quanto às praias, João Fernandes assegura “estão já reunidas as condições para esta retoma” e, “a partir de julho, a oferta hoteleira estará na sua plenitude em funcionamento”.
“O início das certificações sanitárias acontece já no início de Julho, havendo capacidade para responder a uma média mensal de 150 empresas ou entidades”
Eduardo Jesus, Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira / © Hélder Santos
Reconhecida é, também, a actuação implementada na Madeira no que diz respeito ao turismo, área com forte impacto na vertente socioeconómica do arquipélago. Eduardo Jesus, Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira afirma que “desde a primeira hora que ouvimos o setor. Dessa auscultação, resultou a criação do Manual de Boas Práticas em relação à gestão de riscos biológicos, com o destino a tornar-se na primeira região de turismo do país a ter um documento daquela natureza. Abrange as viagens, os aeroportos, os transfers e os transportes turísticos, o alojamento, a animação turística, os postos de turismo, as agências de viagens, os espaços públicos, os eventos de animação turística, e ainda os museus, os centros culturais e os monumentos”. Registou-se, ainda a criação do projeto da certificação sanitária de empresas e entidades, com o intuito de conferir conforto e segurança a quem escolhe a Madeira para as suas férias. “O início das certificações sanitárias acontece já no início de Julho, havendo capacidade para responder a uma média mensal de 150 empresas ou entidades”, revela Eduardo Jesus.
A partir de 1 de Julho entrará em vigor o Plano de Normalização para a Acessibilidade Aérea na Região Autónoma da Madeira. “É um plano que estipula parâmetros para toda a viagem e chegada aos aeroportos da Madeira e do Porto Santo, através do ‘Preenchimento e Submissão de Inquérito Epidemiológico’, da ‘triagem térmica’, da apresentação da realização de ‘Teste para a doença Covid-19’, da ‘Monitorização’, entre outros”, esclarece o Secretário Regional de Turismo e Cultura. Se os passageiros efectuarem o teste 72 horas antes do desembarque e o resultado deste for negativo, “ao desembarcarem, seguem para o seu destino, mediante a apresentação do respetivo relatório que pode, também, ser submetido, antecipadamente, em conjunto, com o inquérito epidemiológico, ou carregado numa app específica da região”, acrescenta. Quem não tiver realizado o teste, terá de fazê-lo à chegada, no aeroporto, após o qual, “o passageiro seguirá para o seu destino, respeitando as regras do distanciamento social, uso de equipamentos de proteção individual e segurança sanitária”. A informação sobre o resultado será dada “nas horas seguintes”.
“[Os Açores são] um destino não massificado e de Turismo Natureza – o primeiro e o único no Mundo, certificado pela EarthCheck, como Destino Turístico Sustentável, ao abrigo dos rigorosos critérios da Global Sustainable Tourism Council”
Marlene Damião de Medeiros, Directora Regional do Turismo dos Açores / © D.R.
Ainda no Atlântico, avancemos até ao próximo destino. Os Açores são “um destino não massificado e de Turismo Natureza – o primeiro e o único no Mundo, certificado pela EarthCheck, como Destino Turístico Sustentável, ao abrigo dos rigorosos critérios da Global Sustainable Tourism Council”. As palavras são de Marlene Damião de Medeiros, Directora Regional do Turismo dos Açores, que refere a importância da elaboração do Manual de Boas Práticas para o sector do turismo no arquipélago açoriano. O objectivo deste consiste em “melhorar a prestação dos serviços turísticos, do ponto de vista sanitário, de forma a inspirar a confiança dos visitantes, aquando do regresso à atividade das empresas regionais ligadas a esta área, sendo que este manual, por sua vez, está na base da atribuição do selo ‘Clean & Safe Açores’”, informa.
Na ordem dos trabalhos vão estimular, para já, os fluxos turísticos internos. A fase seguinte estará dedicada aos mercados nacional e internacional.
Tudo boas razões para viajar por cá
“Aqui costumamos dizer que ‘temos tudo’”, começa o Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, enfatizando a ideia de que “no Norte podem fazer-se umas férias a la carte”. O roteiro é vasto. Há “praias, rios, albufeiras, serras, património mundial, património iconográfico, geoparques, parques naturais, numa riqueza imensa e com todo um mundo por descobrir, sem esquecer as pessoas que são um dos nossos maiores ativos”. Acrescente-se o facto da “esmagadora maioria das unidades de hotelaria e restauração” ostentarem o selo “Clean & Safe” e o facto das medidas estabelecidas nos manuais de boas práticas estarem a ser implementadas com rigor.
A hospitalidade é transversal em todo o país e na cidade do Porto, bem como em toda a região do Norte, o alojamento tem vindo a apostar na qualidade e no conforto, ingredientes que propiciam um serviço de excelência.
“O Centro de Portugal é um território vasto – o mais vasto do país – e muito diversificado, composto por realidades diferentes e que se complementam”, descreve Pedro Machado. “É um território seguro”, garante e “onde a menor densidade populacional se apresenta como uma vantagem: aqui, não falta espaço para desfrutar em segurança de tudo o que a região tem para oferecer”. A autenticidade e a genuinidade dos locais, a hospitalidade, as experiências e as tradições que convidam a viajar ao passado, desde a História à gastronomia, e a sustentabilidade ambiental e social – com as microempresas ou empresas familiares a preencherem a maior fatia da lista de empresas turísticas –, são apontados pelo Presidente do Turismo Centro de Portugal como factores preponderantes na escolha deste território para vários roteiros.
“A quinta razão, como não poderia deixar de ser, prende-se com a beleza incomparável da região. Uma visita ao Centro de Portugal constitui um festim para os cinco sentidos. Estes territórios são um luxo do século XXI, porque aqui se encontram experiências que são cada vez mais raras: a paz, a tranquilidade, o bem-estar, o tempo de qualidade… Tudo longe dos destinos turísticos massificados e com um conforto que não se encontra noutras paragens”, salienta. Sem deixar de parte a herança associada à cozinha regional, “diria que, fruto da grande diversidade da região, haveria muito para degustar, tanto em pratos principais como em sobremesas!”
A gastronomia é, por si só, um produto turístico e, simultaneamente, uma referência. “Constitui uma das novas tendências de procura turística mais importantes e é, para muitos visitantes, um dos motivos que os levam o Centro de Portugal.” Mas não só! Pedro Machado diz mesmo “come-se divinamente no país todo”, mas “no Centro de Portugal há iguarias verdadeiramente ‘de comer e chorar por mais’. Quem não fica com água na boca só de se imaginar a saborear o pão, os enchidos das Beiras, o Queijo da Serra, da Beira Baixa ou do Rabaçal, o Leitão à Bairrada, a chanfana e a lampantana, o cabrito, a vitela de Lafões, os míscaros, a lampreia ou o peixe e marisco de toda a costa? Finalizando, claro, com as cerejas da Cova da Beira e o mel ou a doçaria conventual, de que sobressaem os Pastéis de Tentúgal ou de Vouzela, os Ovos-Moles de Aveiro, o Pão de Ló de Ovar, o Arroz Doce do Mondego, e muitos, muitos mais!”
Eis uma parte do roteiro de sabores a descobrir aliado a uma oferta de alojamento turístico variada, realidade que garante uma maior capacidade de escolha por parte dos turistas, sejam portugueses, sejam estrangeiros. “Na região Centro de Portugal, neste momento, conta com 1.028 empreendimentos turísticos (hotelaria e turismo em espaço rural), a que correspondem mais de 47.000 camas, perto de 100 parques de campismo e caravanismo e mais de 9.200 estabelecimentos de alojamento local registados, com uma capacidade agregada de 67.000 camas.” Para já, “44,7 por cento dos empreendimentos turísticos da Região Centro de Portugal já ostentam o Selo ‘Clean & Safe’”, mas espera-se que o registo destes dados venha a aumentar.
Diversidade, qualidade, mobilidade, autenticidade e atractividade são as cinco razões apontadas por Vítor Costa para visitar a região de Lisboa. A primeira define o perfil eclético dos turistas que visitam este território, em que as actividades turísticas se desdobram em múltiplas experiências, “como sol e mar, natureza, golfe, surf, gastronomia e vinho, cultura, compras e eventos”. Este conjunto de ofertas desmultiplica-se entre Tejo, Lisboa Centro, Lisboa Oriente, Belém-Ajuda, Sintra, Cascais, Ericeira, Mafra, Arrábida, Costa da Caparica, Arco Ribeirinho Sul e a Reserva Natural do Estuário do Tejo.
A qualidade prende-se, por sua vez, com o facto de Lisboa ser considerado “um destino que prima pela excelência da sua oferta, associada à segurança, arte de bem-receber, oferta diversificada e capacidade distintiva da região em responder às diferentes motivações de cada visitante”, de acordo com o resultado do inquérito do Observatório do Turismo de Lisboa cuja taxa de satisfação dos turistas ronda os 80 por cento. Na mobilidade, Vítor Costa sublinha que, na região de Lisboa, “os vários pontos de visita são de fácil acesso e a oferta dos vários polos turísticos podem ser combinadas de maneira a proporcionar uma experiência alargada, de acordo com a motivação individual”, a somar à “autenticidade da história, das pessoas, dos bairros e do património cultural e monumental que potencia a harmonia entre quem nos visita e aqui vive”.
Na atractividade, o inquérito do Observatório do Turismo de Lisboa enaltece a renovação constante desta região, “sem descurar a sua identidade”, bem como a capacidade de “oferecer uma experiência à medida do desejo de cada turista”, daí o destaque do Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa para a transformação da zona ribeirinha, “nomeadamente através do novo Cais de Lisboa e da Rede Cais do Tejo”.
Para António Ceia da Silva “tudo é importante”. A tranquilidade e a segurança são dois elementos-chave do território que abrange o Alentejo e o Ribatejo, assim como a beleza e a heterogeneidade da paisagem. “É um puzzle com todas as peças, que vão desde o interior à costa litoral alentejano, ao lago artificial da Europa ao parques naturais, desde os mergulhos na praia a uma viagem de balão, a um passeio de bicicleta.” As cozinhas típicas alentejana e da lezíria ribatejana pesam, também, aquando da decisão com, respectivamente, a açorda de pejos, o ensopado de borrego ou as migas e a sopa da pedra de Almeirim, o magusto, a fataça ou o torricado.
As praias são o cartão de visita de terras algarvias e vão desde o “areal extenso no Sotavento às praias nas arribas no Barlavento, passando pela Costa Vicentina e pelas ilhas na Ria Formosa”, descreve João Fernandes. Assim como a natureza cuja diversidade é, para o Presidente da Região de Turismo do Algarve, um dos pontos fortes da região. “Cerca de 44 por cento do território da região tem estatuto de proteção natural, estando nele integrados quer a serra, quer os dois parques naturais da Ria Formosa e Costa Vicentina. É esta diversidade que permite, por exemplo, fazer mergulho na costa e encontrar espécies como cavalos marinhos ou caminhar ao lado de cascatas no interior algarvio.”
O convite estende-se à História e às suas tradições. “São várias as provas: o Castelo de Silves, característico pelo seu tom de paredes vermelhas, edificado naquela que foi a capital do Algarve; a Fortaleza de Sagres, um marco para os Descobrimentos e um local de pôr do sol místico, onde se celebraram, inclusive, missas das várias crenças religiosas; o Museu de Portimão, que reaviva a memória de uma região rica em indústria conserveira; e Cacela Velha, vizinha da Ria Formosa, amada em tempos pelos poetas árabes, que hoje dão nome às suas ruas.” É de incluir os peixes e os mariscos neste roteiro, assim como a famosa laranja do Algarve, o figo, a amêndoa ou a alfarroba. “Tudo isto complementado com os vinhos da região, que vão desde a frescura dos rosés aos encorpados tintos”, adianta João Fernandes.
Para o fim, mas não menos importante, é a segurança. “Nunca é demais sublinhar que continuaremos a reforçar e adaptar, sempre que necessário, as medidas de segurança para proteger turistas e residentes, sendo que todas as equipas multissectoriais – do turismo à saúde – têm a adequada capacidade de resposta.” Ao mar some-se “as margens do Guadiana – com a vila raiana de Alcoutim – passando pelo barrocal – com a típica aldeia de Alte e a sua envolvente natural – ou subindo à Serra de Monchique, com a sua vista sobre a terra e o mar”.
Deixemo-nos levar pelo Atlântico até desembarcar no arquipélago da Madeira. Aqui, Eduardo Jesus evidencia a diversidade, seja nas actividades do mar à montanha, seja na oferta cultural aliada à tradição, à autenticidade e à arte de bem-receber tão genuína na ilha da Madeira. Sem esquecer a Floresta Laurissilva da Madeira – Património Natural Mundial da Humanidade, pela UNESCO – “composta por árvores da família das lauráceas e endémico da Macaronésia”, nem “os passeios pelas levadas, ao longo de 1.400 quilómetros, e os outros trilhos que rasgam as montanhas que ligam lugares”. Adicione-se o surf, o BTT, o canyoning, o mergulho, o snorkeling, o stand up e o paddle à lista de actividades outdoor, o que comprova a versatilidade desta região no que a diferentes faixas etárias diz respeito. A confiança e a segurança foram reforçadas, “para que agora possamos reabrir portas com esses factores distintivos em plano de evidência”.
A oferta diversificada no alojamento é outros dos pontos fortes no arquipélago. A começar pelas charmosas Quintas da Madeira, merecedoras de um roteiro próprio, tal é a importância deste património edificado na ilha, terminando nos boutique hotéis, uma aposta ganha, sobretudo, mediante um público mais exigente e que procura um tratamento mais personalizado, passando pelos verdadeiros refúgios, bem como pelos glamourosos hotéis da cidade do Funchal.
O Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira inclui o calendário dos eventos que, “tal como o Bordado Madeira, que segue padrões, decorrem ao longo de todo o ano, nas mesmas alturas, onde se destacam as Festas de Natal e de Fim do Ano, já classificado como o ‘Maior Espetáculo Pirotécnico do Mundo’, o Carnaval, a Festa da Flor, o Festival do Atlântico, a Festa do Vinho, o Festival de Colombo, na Ilha do Porto Santo, e o Festival da Natureza.” Por fim, Eduardo Jesus destaca a proximidade com Portugal Continental ou não estivesse o arquipélago a apenas a uma hora e meia de distância.
A restauração é outro dos factores determinantes no turismo madeirense e o receituário regional tem vindo a ganhar notoriedade. “Temos igualmente a cozinha de alto nível, com restaurantes com estrelas Michelin consolidadas, e com ligação aos produtos da Madeira”, reforça. Acrescente-se as actividades inerentes a esta temática, como as semanas gastronómicas realizadas anualmente nos concelhos da Região Autónoma da Madeira e, acima de tudo, o projecto “Saborea: Destinos Turísticos Gastronómicos e Sustentáveis” cujo objectivo consiste em definir a antiga Macaronésia – Madeira, Açores, Canárias, Carbo Verde, Senegal e Mauritânia – como um modelo de destino gastronómico sustentável. Este está assente na recuperação da origem dos seus pratos, dos seus produtos, das suas técnicas e das demais tradições à mesa, no sentido de reavivar e fomentar a ligação no âmbito da gastronomia e da cultura, através da criação de mapas, rotas e itinerários culinários, e da sua comercialização. “Os resultados, no caso da Madeira, traduzir-se-á na realização de um Festival Gastronómico Regional, que vai incluir stands com os produtos e produtores dos diferentes territórios que fazem parte do projecto e concursos e atividades inter-ilhas, onde poderá ser promovida a diversidade culinária da Macaronésia”, esclarece Eduardo Jesus.
Já os Açores apresenta nove razões para serem visitados. As nove ilhas são a prova disso mesmo, “pela singularidade e autenticidade da oferta de cada uma”, diz-nos Marlene Damião de Medeiros. A Directora Regional do Turismo dos Açores refere, também, a importância do factor segurança, a respeito do qual há que salientar o facto da European Best Destination como ‘Coronavirus Safest Destination’ ter distinguido o arquipélago como um dos destinos mais seguros na Europa em 2020. “Depois, temos um conjunto infinito de razões, desde os recursos naturais e biodiversidade, a história e oferta cultural, a conservação e a preservação dos lugares, a gastronomia e os vinhos, o alojamento turístico, com destaque para o Turismo em Espaço Rural e alojamento local, até à simpatia e hospitalidade da população e todo o Património da Unesco – Angra do Heroísmo, como Cidade Património Mundial, a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e as ilhas do Corvo, Flores e Graciosa, assim como as Fajãs de São Jorge, como reservas da Biosfera.”
Quanto ao alojamento, este é predominado por unidades de pequena e média dimensão – alojamento local e Turismo no Espaço Rural –, as quais são “pensadas, preferencialmente, para um perfil de turista que privilegia um turismo não massificado”, o que “assume especial importância, neste contexto de pandemia e de distanciamento social, em que a segurança e a saúde pública são essenciais na escolha de um destino de férias”.
Pela rota do enoturismo português
A afirmação do turismo aliado ao vinho assume um papel cada vez mais importante dentro do próprio sector do turismo de cada região. “É um segmento de procura que tem ainda muito para crescer e que está associada uma imagem de exclusividade, charme e privacidade”, afirma Presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, que reúne quatro regiões demarcadas: Douro, Távora e Varosa, Trás-os-Montes e a dos Vinhos Verdes. Neste contexto, Luís Pedro Martins faz referência ao Wine Music Valley, festival que, em 2019, uniu a música ao vinho em pleno Douro, bem como a temporada dedicada a Portugal da série televisiva “The Wine Show”.
Nesta fase, a sua equipa, as referidas comissões vitivinícolas e o Instituto do Vinho do Douro e Porto estão a trabalhar conjuntamente na estruturação das rotas de enoturismo. O resultado será apresentado através das respectivas campanhas de promoção. As estratégias de cooperação no âmbito da dinamização enoturística vão, a Norte, além fronteiras, desta feita com a Junta de Castela e Leão. Trata-se do projeto Douro/Duero, “que irá ter como base o Rio Douro, os vários patrimónios da Humanidade dos dois países e, claro está, os produtos natureza, cultura e gastronomia e vinhos, grandes âncoras da nossa região”, explica Luís Pedro Martins.
A região Centro, por sua vez, integra cinco regiões demarcadas – Bairrada, Dão, Beira Interior, parte dos Vinhos do Tejo e parte dos Vinhos de Lisboa –, uma mais-valia para o território no âmbito do turismo. Pedro Machado dá como exemplo “a estratégia de desenvolvimento e apoio à Fileira do Vinho em curso na Região Centro, um programa orientado para o aumento da competitividade do sector, que visa fomentar a internacionalização e notoriedade, estimular a aposta na inovação e na diferenciação e promover a coesão territorial e a sustentabilidade”. Este plano conta com a adesão das respectivas comissões vitivinícolas e de entidades públicas regionais e nacionais. “Deste modo, o Enoturismo integra as prioridades de comunicação do destino Centro de Portugal”, realça Pedro Machado.
A mesma opinião é partilhada por Vítor Costa, para quem esta valência turística “é um dos grandes qualificadores da oferta da região”. A dinâmica é visível através das visitas e provas vínicas nas adegas, bem como dos programas de vindimas e, por outro lado, no incremento da importância associada ao vinho, seja na restauração, seja na hotelaria. “Nesta fase, as campanhas serão transversais à oferta existente, pelo que o enoturismo será promovido juntamente com outras experiências disponíveis em toda a região,” revela o Presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa.
António Ceia da Silva demarca, por sua vez, a relevância deste assunto com base em dois guias de enoturismo: um dedicado ao Alentejo e outro ao Ribatejo. Aqui, o território vitivinícola é vasto – engloba a maior região do país, a parte sul da Região Vitivinícola da Península de Setúbal e, ainda, parte dos Vinhos do Tejo (pertencente à lezíria ribatejana).
No Algarve, “o enoturismo tem vindo a conquistar terreno”, declara João Fernandes. Esta notoriedade deve-se às acções de promoção conjuntas realizadas entre “a Região de Turismo do Algarve (em Portugal e Espanha), a Associação Turismo do Algarve (nos mercados externos) e a Comissão Vitivinícola do Algarve e, naturalmente, através do investimento direto feito pelo tecido empresarial”. O “Mapa da Região Vitivinícola do Algarve”, da respeitante comissão vitivinícola, é disso exemplo, bem como a recente apresentação da nova identidade dos Vinhos do Algarve. Para breve, está prevista a nova edição do “Guia de Vinhos do Algarve”.
Já na “Pérola do Atlântico” o icónico Vinho Madeira preserva a sua história. “Faz parte da nossa identidade cultural, pois há cerca de 600 anos percorre o Mundo, sendo desde cedo reconhecido como um produto de excelência, de renome internacional, referenciado por monarcas, escritores, apreciado nas Cortes europeias, na Rússia e nos Estados Unidos da América, merecendo destaque o célebre brinde dos Founding Fathers com este néctar na Celebração da Independência dos Estados Unidos, em 1795”, acrescenta Eduardo Jesus. Junte-se o vinho tranquilo, seja o de Denominação de Origem “Madeirense”, seja o de Indicação Geográfica Protegida “Terras Madeirenses”, que está a conquistar terreno, sobretudo pelas suas características singulares. Além de atribuir ambas as certificações e de promover este produto, o Instituto do Vinho, do Bordado e Artesanato da Madeira, “que pertence ao Governo Regional da Madeira, tem proporcionado aos agentes económicos a oportunidade para promoverem os seus vinhos e as suas marcas, em certames e eventos regionais e nacionais”.
A criação da Rota dos Vinhos da Madeira, em Setembro de 2019, comprova a aposta crescente nesta vertente dentro do sector turístico. “Inclui diferentes temáticas: a história, a produção e comercialização do vinho e um conjunto de eventos anuais associados ao vinho, assim como os pontos de interesse turístico associados à paisagem marcada por esta produção”, explica o Secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira. Por isso, reuniu todos os 19 produtores de vinho da região e conta com a adesão de 121 estabelecimentos, entre hotéis, restaurantes, wine bars e garrafeiras.
O desenvolvimento do enoturismo é, igualmente, marcante nos Açores. Esta realidade resulta, para Marlene Damião de Medeiros, em “um esforço cada vez maior na preservação da sua genuinidade, de forma a aumentar a produtividade dos vitivinicultores, e no aumento da sua visibilidade como elemento dinamizador do turismo regional”. Além de considerar um “factor valorizador e diferenciador”, a Directora Regional do Turismo dos Açores sublinha a importância dos vinhos no contexto da oferta turística regional, “como impulsionador dos primeiros projetos que começam a aparecer no arquipélago, na área do enoturismo, pelo que se pode efetivamente afirmar que este produto é realmente uma mais-valia para o turismo regional”, remata.
As mãos cheias de roteiros que fazem partir à descoberta do país são, por conseguinte, intermináveis. Ou não fossem do mar à montanha, passando pelas praias fluviais, a Natureza nas suas mais variadas vertentes condizentes com a região e o clima, o legado da História associado a monumentos, a lugares, a eventos e ao receituário tão diversificado quantos as regiões que cabem neste mapa. Sem esquecer o enoturismo, o alojamento, nem a restauração, indissociáveis à hospitalidade e a um potencial que se quer ver retomado.
Boas viagens!