Irreverência, leveza, frescura. As três palavras juntas definem a identidade deste produtor vitivinícola do Alentejo. Acresce a qualidade, o querer fazer melhor e a aposta maior em prolongar o estágio em garrafa, para engrandecer o vinho e dignificar a marca.
Antão Vaz foi a casta eleita para a colheita de 2019 do JJ Talha da Morais Rocha Wines, empresa cuja vinhas estão dispersas em três propriedades localizadas na Vidigueira, em pleno Alentejo
A meio da estrada velha de Vila de Frades, via de comunicação existente entre esta localidade e a Vidigueira – vila do distrito de Beja grandemente conhecida pelas particularidades muito apreciadas do vinho desta sub-região da região do Alentejo – está a Morais Rocha Wines. Fundada, em 2004, por José Joaquim Morais Rocha tem na sua génese a Vidigueira, matriz de uma infância em que o gosto pela terra ali nasceu e cresceu, tendo continuado a aumentar já em Lisboa, para onde se mudou aos 15 anos e enveredou pela administração de empresas.
Com a premissa de voltar à Vidigueira, José Joaquim Morais Rocha foi somando património com a compra de parcelas limítrofes e dele colheu frutos através da produção de uva e de vinho. A primeira vindima aconteceu em 2006, ano da estreia do JJ – iniciais de José Joaquim e de seu pai, João José Rocha – que perfez o total de 15 mil garrafas. Os produtos eram objecto de oferta a amigos do empresário mas, ao final de dez anos, é a filha, Ana Rocha quem dá um novo rumo à Morais Rocha Wines.
Ana Rocha, filha de José Joaquim Morais Rocha, mentor da Morais Rocha Wines, é o rosto da nova geração deste negócio familiar da qual o nome consta no rótulo dos seus vinhos topo de gama
Formada em Administração e Gestão de Empresas, pela Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, Ana Rocha quis enveredar pelo caminho do Marketing. Fez questão de iniciar o seu percurso profissional fora da empresa da família, mas é após o MBA na referida área tirado, em 2012, na Fundação Getúlio Vargas, na cidade brasileira de São Paulo, e o trabalho em uma empresa de new media do mesmo país, que decidiu voltar a Portugal e integrar a empresa da família. “Foi quando a Morais Rocha Wines se tornou um negócio” com a reformulação do portefólio e a criação de mais referências, afirmando a qualidade dos seus vinhos sem desvirtuar a identidade da empresa.
Estamos em 2021 e a Morais Rocha Wines reúne 19 hectares de vinha dispersos por três propriedades próprias localizadas na Vidigueira: Águas Lebres de Cima, Herdade dos Veros e Quinta da Borralha. Nesta última estão instalados a adega e o lagar de azeite construídos, no início do projecto, por José Joaquim Morais Rocha e ampliados com o tempo, para dar resposta à evolução da produção. Ademais, 20 hectares de terra da Quinta Borralha – onde está concentrado o equipamento necessário à autonomia da empresa no âmbito da feitura de vinho, engarrafamento e rotulagem, e de azeite – já estão a ser preparados para, em 2022, serem ocupados por vinha, com a possibilidade da preferência recair na Touriga Nacional, na Cabernet Sauvignon, na Alicante Bouschet, na Trincadeira e/ou na Aragonez. “Iremos manter o perfil que temos, até porque nem todas as castas são compatíveis com o microclima da Vidigueira”, justifica Ana Rocha e “conseguimos tirar partido do terroir que nos permite fazer vinhos muito bons”.
As castas Arinto e Aragonez fazem parte do blend que deu origem ao primeiro espumante, o Herdade dos Veros Brut Nature 2018 caracterizado por uma frescura e uma vivacidade fora do comum dos vinhos da região
No portefólio constam o rótulo Morais Rocha, com os Grande Reserva e os Reserva, bem como a gama completa que ostenta o nome Herdade dos Veros – inclui a primeira colheita desta gama, o Selection tinto de 2011, e o Espumante Brut Nature de 2018, uma estreia em 2020, feito a partir das castas Arinto (branca) e Aragonez (tinta), e seguindo o método tradicional. Acresce os JJ que, em 2020, incluíram o vinho de talha feito em homenagem a João José Rocha, por ocasião da data em que completaria cem anos – e Sei Lá!, marca criada, em 2016, por Ana Rocha, apresentada em tom de provocação e definida pela jovialidade, pela frescura e pela irreverência, atributos associados ao desempenho de Ana Rocha na empresa que, até 2018 contou com a enologia de Diogo Lopes e, a partir de então, tem Luís Leão a desempenhar esse papel na adega.
“Quando se bebe um vinho, podemos receber informação sobre esse vinho, mas trata-se sempre de uma algo sensorial e que tem a ver com o estado de espírito de cada um”, daí o nome atribuído ao entrada de gama da Morais Rocha Wines “e não é por ser desconhecido que não tem qualidade”, reforça o rosto da nova geração desta empresa, onde o estágio em garrafa é levado a sério e a maioria é elaborado a partir de blends – “só os de talha são feitos com uma casta” e “está a evoluir muito bem” –, apesar da vindima ser feita por casta e a vinificação das uvas também.
Ainda para este ano, Ana Rocha quer apresentar o primeiro vinho reserva branco da colheita de 2019 para a gama Herdade dos Veros, cujo estágio em garrafa começou no início de 2021, e acrescentar uma nova marca ao portefólio vínico da Morais Rocha Wines. “Trata-se de um projecto que dura há três anos e espero lançar depois do Verão. Será um reserva feito em homenagem às mulheres.”
Este tributo tem uma razão de ser. A explicação prende-se com o facto de ser dado maior protagonismo às mulheres no universo dos vinhos que veio trazer “uma certa irreverência que fazia falta a este mercado”, além de que “a nova geração [de produtores] começa a olhar para este mundo de uma forma diferente, até porque se todos se unissem e falassem da região, ganharíamos todos!” Por isso, quer ser “conhecida pela família produtora de vinhos da Vidigueira para o mundo”.
+ Morais Rocha Wines
© Fotografia: D.R.