Duas décadas, adega nova e a aposta no enoturismo / Lavradores de Feitoria

A Quinta do Medronheiro, em Sabrosa, é agora a sede deste projecto agregador duriense, que aposta fortemente na qualidade das uvas, em prol de um resultado superlativo. A visitar, já que a casa também está aberta a quem quiser provar os seus vinhos.

Olga Martins faz parte da Lavradores de Feitoria desde 2001


A história é importante, para melhor conhecer o percurso deste projecto, cujo primeiro teste data de 1999, ano da colheita de Três Bagos tinto. Em 2000 é constituída a empresa e dado o nome Lavradores de Feitoria. A oficialização deste marco “começou com 15 lavradores na ‘união’”, comenta Olga Martins, CEO da empresa. Pela mesma altura, realizam-se os primeiros ensaios de vinhos brancos. Em 2002, decidiram fazer vinhos de lote, “com as uvas de todos”, acrescenta Paulo Ruão, Director de Enologia, que integra a equipa em 2005.

A constituição desta empresa baseou-se na criação de uma equipa técnica e comercial, no sentido de “pegar nos recursos, os transformar e os vender pelo mundo fora”, esclarece Olga Martins, que faz parte da Lavradores de Feitoria desde Setembro de 2001. A filosofia permanece actualmente.

Depois da zona da recepção, entra-se no espaço reservado às cubas de inox


Ao fim de duas décadas, a Lavradores de Feitoria soma 53 accionistas. Destes, 16 são proprietários de 19 quintas, às quais se soma mais uma, a Quinta do Medronheiro, em Sabrosa, de oito hectares de área total, dos quais 6,5 estão ocupados por uma vinha ideal para castas brancas, em modo de produção biológico, comprada em 2008. Foi a eleita para aí se instalar a nova adega, com espaço reservado às cubas de inox, sala de barricas, zona de engarrafemento e rotulagem, armazém, entre outras divisões indispensáveis à logística de feitura de um vinho.

Idealizado em papel pelo arquitecto transmontano António Belém Lima, o edifício é materializado em 2020 e concluído na época das vindimas de 2021. “Esta adega é de pessoas, de pessoas do Douro”, afirma Olga Martins, “porque foi construída com o dinheiro das pessoas que fazem parte da Lavradores de Feitoria”. Esta nova casa, onde está instalada igualmente a sede da empresa, tem uma estrutura, que permite a futura ampliação da mesma, sem interferir na paisagem.

A sala de provas e a loja partilham o mesmo espaço, no piso superior do edifício da empresa


A sala de provas e loja estão integradas nesta nova casa da Lavradores de Feitoria, que é também o espaço de enoturismo da empresa. As acções incluem visita guiada (€10). Esta pode ser associada a uma das cinco tipos de prova de vinhos disponíveis, cujo valor varia entre €17 e €80 (neste caso, a visita guiada é €5), podendo estas ser realizadas a solo (são subtraídos €5 à prova seleccionada). 

O horário estabelecido é de segunda a sexta-feira, às 11h00 e às 16h00, e carece de reserva. Se a preferência recair numa visita privada, o agendamento deve ser tratado em conformidade.


A riqueza do património duriense 

O edifício foi projectado pelo arquitecto António Belém Lima


Ao todo, esta casa duriense reúne 600 hectares de vinha localizados nas sub-regiões do Baixo Corgo, do Cima Corgo e do Douro Superior. Este património vitícola congrega um conjunto considerável de cepas de diversas idades, plantadas em solos díspares e diferentes altitudes. 

Olga Martins realça a existência de “tantos Douros dentro do Douro”, bem como a importância das “uvas de montanha”, descrição metafórica, que ilustra a dificuldade evidente na época das vindimas, assim como ao longo do ano, com a poda e a monda na vinha. É de salientar que, graças a tão heterogéneo, as uvas beneficiam de várias exposições solares e traduzem-se num acervo de castas castas tipicamente durienses a preservar. 

A prova de que a produção em modo biológico é uma realidade na Quinta do Medronheiro


Sobre este assunto, a CEO da empresa reforça: “Aqui temos uma riqueza de massas quase inigualável.” Mesmo assim, há que incentivar os lavradores a produzirem uva de qualidade. Para o efeito, “o pagamento é estipulado em reunião geral da Lavradores de Feitoria e entre todos os accionistas”, explica Olga Martins, no âmbito da remuneração efectuada relativamente as uvas. São estabelecidos três patamares de qualidade distintos – base superior e extra. A título de exemplo, na categoria “extra” entra a matéria-prima seleccionada para os vinhos com as referências ‘Grandes Escolhas’ e ‘Vinhas’.


Vinhos de lote e vinhos de vinha

Eduardo Ferreira, responsável pelo departamento de enoturimo, e Paulo Ruão, Directo de Enologia deste projecto duriense


É a partir desta heterogeneidade de solos, exposições solares, cepas e castas centenárias e com décadas de existência, que Paulo Ruão cria uma panóplia de referências enquadradas em dois segmentos: vinhos de lote e vinhos de vinha. Lavradores de Feitoria e Três Bagos fazem parte do primeiro, enquanto Vinha de Meruge, Quinta da Costa das Aguaneiras e Vinha do Sobreiro, uma estreia, integram no segundo. Para melhor compreender as diferenças, é preciso conhecer vinhos recentes, viagem essa que se inicia com brancos, que têm tido “uma procura crescente pelos países nórdicos”, exemplifica Olga Martins.

Lavradores de Feitoria branco 2021 (€5,19) é feito a partir das castas brancas vindimadas em cotas altas, situadas acima dos 400 metros de altitude, “para ir buscar elegância e frescura”, que combinam tão bem com saladas, massas e pratos simples de peixe.

Já o Três Bagos Reserva branco 2020 (€8,49) é a companhia perfeita de pratos de peixe mais elaborados e marisco. Como o nome indica, é elaborado a partir de um trio de variedades de uva colhidas em vinhas de altitude, de modo a evidenciar, neste vinho, a frescura e a acidez que Paulo Ruão procura. Uma das três castas é a Viosinho, a mesma que é usada na feitura do Meruge branco 2019 (€21,99), um branco com mais corpo e, por isso, apetecível com pratos de marisco mais requintados.

Reserve a caldeirada para o Três Bagos Sauvignon Blanc 2020 (€9,99), pela frescura e a sensação de mineralidade deste vinho muito aromático, com notas vegetais commumente associadas a esta casta branca.

Uma das companhias ideais para os pratos de marisco, que tanto apetecem nesta época do ano


Da colheita de 2021, houve ainda a prova de Lavradores de Feitoria rosé (€5,19). Feito, inicialmente, com Touriga Nacional, o Director de Enologia decide, agora, pela casta Tinta Roriz, porque “é mais floral”, permite que haja menos extracção da cor e atribui maior elegância ao vinho. Para beber a solo ou com pratos de peixe e marisco.

O desfile de vinhos que estiveram à prova na sala desenhada para este fim


Na passagem para os tintos, é de frisar a harmonização do Três Bagos Reserva tinto 2018 (€9,69), com enchidos, bacalhau e pratos de carne, graças aos seus taninos suaves e acidez equilibrada. Feito a partir de castas proveniente das três sub-regiões durienses e de diferentes níveis de altitude, este vinho é elaborado a partir de Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional, de vinhas com mais de 30 anos.

Para pratos de carne e de caça, há três vinhos a salientar. Um deles é Meruge tinto 2018 (€21,99). Mais leve, comparativamente aos demais tintos durienses, tem na sua base Tinta Roriz, a par com vinhas velhas (inclu-se aqui Touriga Nacional e Touriga Franca), da Quinta de Meruge, resultando num “vinho fresco, aromático e muito elegante”, segundo Paulo Ruão. Vinha do Sobreiro tinto 2016 (€21,99), feito a partir de Touriga Franca, à qual o Director de Enologia da Lavradores de Feitoria juntou vinhas velhas de Tinto Cão e Touriga Nacional, todas colhidas da homónima da Quinta das Pias, no Vale do Pinhão, é outra excelente companhia de pratos de carne mais elaborados, assim como o Quinta da Costa das Aguaneiras tinto 2018 (€21,99), elaborado com as castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, bem como variedades de uva de outras vinhas com idades compreendidas entre os 30 e os 60 anos.

Três Bagos Grande Escolha tinto 2016 (€36,99), um field blend integrado no patamar dos topos de gama desta casa duriense, denota estrutura e complexidade, com a promessa de tornar-se um tinto de truz daqui a uns anos.

A colheita de 2016 desta referência chega ao portefólio da Lavradores de Feitoria depois das de 2010 e 211


Termine-se este périplo vínico com Três Bagos Colheita Tardia 2016 feito exclusivamente com a casta branca Sémillon. Deste vinho sobressaem as notas cítricas, bem como de figo e flores, no nariz, enquanto na boca revela-se fresco e com alguma acidez, e um perfil seco, perfeito para a sobremesa.

Brindemos!


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© Fotografia: João Pedro Rato

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