“O novo CNAD é uma espécie de farol para o mundo. Acredito que vai criar uma nova visão sobre aquilo que é a criação e a promoção cultural de Cabo Verde.”
Irlando Ferreira, diretor-geral do CNAD.
Foi agora apresentado o novo, desejado, necessário e arrojado Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design – CNAD de Cabo Verde. Na sessão em que se desvendou este bem precioso para a cultura Cabo Verdiana participaram o director-geral e curador, Irlando Ferreira, o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, assim como Eloísa Ramos e Moreno Castellano do gabinete Ramos Castellano Arquitectos, responsável pela extensão e requalificação do edifício que se prepara para receber quem tem na cultura o vício saudável; a curadora e crítica de design Adélia Borges e Ana Cunha e Gonçalo Santana, do ACBD studio, criadores da nova identidade visual.
A inauguração oficial do novo edifício, agendada para o próximo dia 30 de julho de 2022, marca um virar de página na história cultural de Cabo Verde, assim como na paisagem da cidade do Mindelo. Resulta de um encontro visionário entre a missão do centro, que é estimular, potenciar e fomentar o desenvolvimento das diversas linguagens artísticas, com particular destaque para o artesanato e o design nacional, num diálogo permanente com o extenso campo das artes visuais, a mestria dos arquitectos Eloísa Ramos e Moreno Castellano e a composição musical do compositor Vasco Martins.
O novo CNAD teve como base de trabalho a antiga casa do Senador Vera-Cruz, localizada na Praça Amílcar Cabral, conhecida por Praça Nova, a partir da qual foi construído um novo edifício que apresenta um traçado contemporâneo e linhas retas, representando uma ponte para o futuro, a partir do passado.
Sobre o edifício, segredam-nos ainda que a fachada, inteiramente coberta com tampas de bidons, evoca a comunidade cabo-verdiana na diáspora e assenta numa ideia de sustentabilidade e economia local que define, não só a filosofia do novo centro, como todos os projectos do gabinete Ramos Castellano Arquitectos. A palete de cores vibrantes das tampas lança um desafio ao público: os diferentes tons compõem as notas de uma sinfonia musical criada de propósito pelo compositor mindelense Vasco Martins, numa homenagem a uma das linguagens mais fortes da cultura cabo-verdiana: a música.
Esta extensão e requalificação, que já marca indelevelmente a paisagem surpreendente do Mindelo, forma o novo complexo de edifícios onde o novo CNAD irá funcionar. E é também ela um marco na arquitectura do país e o melhor exemplo da continuidade e da premissa que esteve na base da criação deste centro cultural: desenvolver e potenciar o artesanato e o design, numa ligação constante entre o tradicional, o contemporâneo e as muitas linguagens artísticas.
O novo centro revela-se desde a sua génese um pólo de desenvolvimento para a cultura de Cabo Verde e um ponto de viragem na divulgação dos seus artistas, sendo a primeira instituição cultural construída de raiz em Cabo Verde, preparada para acolher exposições temporárias e permanentes, desenvolver residências criativas e servir ainda de base para um arquivo documental e artístico da produção de arte tradicional e contemporânea cabo-verdiana.
Aí localizam-se as galerias Manuel Figueira (dedicada à exposição permanente), Luísa Queirós, Bela Duarte e Zero (dedicadas às exposições temporárias), a Biblioteca e Centro de Investigação Nhô Damásio, o Centro de Formação e Residência Nhô Griga, o espaço de acervo do CNAD, que inclui mais de 1700 peças; e ainda os escritórios, a loja e um café. O que une os dois edifícios é um pátio pensado como uma ágora [do grego ágora, que significa local de reunião], com um espaço aberto e livre, onde os visitantes podem sentar-se a ler, conversar ou simplesmente descansar.
A escolha dos nomes para cada espaço partiu da vontade de homenagear os membros fundadores e os mestres-artesãos do CNA – Centro Nacional de Artesanato –, a instituição cultural que está na origem do agora intitulado CNAD.
Numa altura em que aumenta a procura por novas vozes na arte contemporânea, sobretudo no campo da criação artística africana, este novo espaço representa um potenciar das novas formas de olhar e interpretar a sociedade cabo-verdiana, num diálogo constante entre África e o resto do mundo.
Através dos seus pilares – visão e acção integradas e de longo prazo, e sustentabilidade dos projectos, atendendo às próprias características do arquipélago de Cabo Verde na sua relação com os diversos continentes –, o CNAD está num lugar privilegiado para este alargar do palco artístico e da visibilidade das artes criativas de origem africana. É, sem margem para qualquer dúvida, um novo edifício à altura da riqueza cultural de Cabo Verde.
Programação Expositiva
A partir do dia 30 de Julho, é possível ver as duas mostras que revelam parte da colecção do CNAD. Com curadoria de Adélia Borges – curadora e crítica de design, um dos maiores nomes brasileiros relacionados com o artesanato, que tem assim a sua estreia em África – e de Irlando Ferreira, director do CNAD, “Criação cabo-verdiana: Percursos” é a exposição permanente do Centro. Patente na Galeria Manuel Figueira, apresenta uma selecção de obras do acervo da instituição e divide-se em dois momentos: nas décadas de 1970 e 1980, com um conjunto de peças recolhidas pelos membros integrantes do então Centro Nacional de Artesanato (CNA); e desde 2015, quando a colecção é construída a partir do resultado de residências criativas, concursos e aquisições promovidas no sentido de estimular a criação contemporânea a partir da tradição.
“FIOS – Tapeçaria de Cabo Verde”, com curadoria de Irlando Ferreira, evidencia a importância da tapeçaria na herança cultural de Cabo Verde. Patente na Galeria Luísa Queirós, a exposição destaca três gerações de artistas, artesãos e artesãs: a que cria a tapeçaria cabo-verdiana no CNA; e as duas seguintes que têm vindo a acrescentar novas abordagens, explorando a multiplicidade de olhares possíveis.
Num dos momentos mais aguardados da primeira programação do Centro, a coreógrafa e bailarina Marlene Monteiro Freitas, natural de Cabo Verde, apresenta “Idiota” na Galeria Bela Duarte. Esta instalação performática – comissionada pelo CNAD – tem a sua base num diálogo entre Marlene Monteiro Freitas e o trabalho do pintor Alex da Silva (1974-2019). Em jeito de homenagem e tributo ao legado incontornável deixado por da Silva, Marlene constrói uma conversa que tem início numa performance para se estender enquanto instalação.
“Fundação e Emergência”, do fotógrafo Diogo Bento, é a exposição que apresenta o processo de requalificação do novo edifício, através de fotografias que são exibidas no espaço Zero do CNAD.
As três exposições ficam patentes até Fevereiro de 2023.
Programa Inaugural
No dia 30 de Julho, para além das portas que se abrem e das exposições que são dadas a conhecer, toda a cidade de Mindelo será também palco de várias propostas artísticas que marcam a inauguração do CNAD: uma performance inédita de Marlene Monteiro Freitas, o concerto de Vasco Martins e uma performance de Caplan Neves.
No arranque da instalação “Idiota”, patente na Galeria Bela Duarte, Marlene Monteiro Freitas protagoniza uma performance com o mesmo nome.
Porque a fachada do edifício é uma pauta de música, o compositor e músico Vasco Martins dá a conhecer “Luzência”, o concerto inédito em que reproduz – em formato trio (teclados, baixo e bateria) – alguns dos temas compostos para este encontro entre arquitectura, música e a cidade.
“A Coroa das Cabras na Urdidura dos Sonhos” tem lugar na Praça Amílcar Cabral (Praça Nova), em frente ao CNAD. Da autoria de Caplan Neves, esta performance pretende constituir-se através de um exercício entre géneros artísticos, linguagens, idiomas, formas de expressão e mundos, e forma-se do complexo exercício poético de edificar uma Coroa de Sonetos planeada para a oralidade e concebida como uma narrativa dramática.
Nova Identidade Visual
Com assinatura dos portugueses ACBD studio, com direcção criativa de Ana Cunha e Gonçalo Santana, a nova identidade do CNAD bebe inspiração na fachada do edifício e elege também como elemento principal as formas e cores das tampas dos bidons. O resultado é um novo branding rico e moderno, que celebra a abertura, a diversidade e a liberdade criativa que o CNAD propõe.
Se estiver por Cabo Verde ou este for um próximo destino de férias (ou de mudança de vida), não deixe de passar pelo CNAD e mergulhar na riquíssima cultura Cabo Verdiana de forma singular.
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