O ano de 2012 marca a estreia dos vinhos da Herdade Vale d’Évora no mercado. Uma década depois, o terroir de Mértola permanece associado a cada rótulo, seja nos vinhos feitos a partir de castas clássicas portuguesas, seja nos “mais modernos”.
Muito mudou ao longo dos últimos dez anos em relação aos vinhos, seja no panorama nacional, seja no contexto alentejano. Filipe Sevinate Pinto, enólogo da Herdade Vale d’Évora – propriedade localizada em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana, no concelho de Mértola, Baixo Alentejo –, nomeia algumas dessas alterações. A primeira tem a ver com “o reafirmar da qualidade dos vinhos em geral e muito especificamente em brancos, cuja evolução tem sido mais significativa em anos recentes, ao contrário dos tintos, cuja evolução já vinha de trás”.
“A preocupação na utilização de práticas de sustentabilidade na vinha e na adega” é outro dos aspectos focados pelo enólogo, bem como “a procura de elegância e frescura nos vinhos, adaptando a técnicas de extração durante a fermentação e o estágio, com incorporação de barricas de maior volume, usadas e, por vezes, estágios mais curtos e parciais”.
Filipe Sevinate Pinto destaca ainda “um maior afastamento estratégico entre projectos, nomeadamente os que assentam as suas bases na autenticidade e sentido de origem dos vinhos que produzem e os outros”.
Feita a análise de uma década inerente ao panorama vitivinícola em Portugal, avancemos para as boas novas da Herdade Vale d’Évora, pertencente a duas famílias – a de Paulo Alho, natural de Sesimbra, e a de Vítor Pereira, com raízes em Vila Nova de Famalicão – e onde a vinha ocupa dez hectares dos 550 de área total. São vinhos feitos “em anos excepcionais” sem que haja necessidade de “obedecer a regras, nem anos, nem castas”, reforça Miguel Alho, filho de Paulo Alho.
“São todos vinhos clássicos alentejanos no sentido de transmitirem o calor da origem”, dos quais “alguns [são] clássicos portugueses nas castas, que apresentamos nos nossos Grandes Discórdias – um Arinto e uma Touriga Franca e n’As Tourigas da Discórdia, e outros [são] mais modernos, como o Syrah e o Reserva”, explica Filipe Sevinate Pinto.
“Embora defendamos os vinhos de lote”, na lista constam três monovarietais nos topos de gama, “o que não deixa de ser uma discórdia”, continua o enólogo. É o caso da segunda edição do Grande Discórdia branco, desta feita, da colheita de 2020 (€34). Feito a partir de Arinto, este vinho denota o seu carácter mineral e a acidez que lhe é intrínseca, bem como a estrutura e alguma complexidade, ambas conferidas pelo estágio em barricas de madeira.
No âmbito do classicismo das castas nacionais, é de enaltecer o Grande Discórdia tinto 2019 (€67,50), com uma produção limitada a 850 garrafas. Feito maioritariamente a partir de Touriga Franca, com uma pequena percentagem de Alicante Bouschet (sete por cento). Este vinho revela o potencial da casta tinta predominante e grande capacidade de envelhecimento, perfeito para os dias de Inverno que se avizinham.
No alinhamento das novidades, consta “um dueto muito invulgar no Alentejo”, segundo Filipe Sevinate Pinto, protagonizado por As Tourigas da Discórdia tinto 2020 (€16,50), elaborado a partir do lote constituído por Touriga Nacional e Touriga Franca. A elegância, a sensação de mineralidade e o final de boca prolongado são adjectivos, que, associados a este vinho, sobre o qual o enólogo destaca a Touriga Franca, variedade de uva que “tem tido uma consistência incrível” na Herdade Vale d’Évora e que, “desde o primeiro momento, tem sido parte integrante nos lotes”.
Feito a partir das quatro castas tintas plantadas na propriedade alentejana (Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah e Alicante Bouschet), o Discórdia Reserva tinto 2019 (€19,90) é o reflexo do terroir de Mértola, caracterizado por dias quentes e onde os solos áridos de xisto intensificam o calor; e o Syrah da Discórdia (€16,50) mostra, no copo, a casta tal como ela é. Perfeito para quem tanto aprecia esta variedade de uva tinta.
Sobre Mértola, Filipe Sevinate Pinto destaca o facto de ser “relativamente recente no panorama vitivinícola alentejano, embora já com um reconhecimento assinalável. Neste enquadramento os pressupostos mudam em relação ao resto do Alentejo, juntamente com o clima, o tipo de solos e a envolvência natural.”
Brindemos!