Se um dia te perguntasses sobre o que é a tecnologia e como esta pode influenciar o teu dia a dia, como reagirias? Talvez começando por perguntar “o que é o dia a dia?”, ou, melhor dizendo, a “rotina”. Por “rotina”, entendemos algo que nos está garantido, pois é uma força de hábito, mas, vivendo nós, portugueses, numa democracia, todos os aspetos da liberdade estão presentes no nosso dia a dia, ou na nossa rotina.
Diria que dificilmente se arranja um conceito mais abstrato do que “liberdade”. Se eu falasse numa tesoura, todos os leitores saberiam identificar o objeto, o qual tem apenas um propósito: cortar. Falando da liberdade, o nosso pensamento diverge bastante. Para começar, pensamos em vários tipos de liberdade, como a liberdade de expressão, ou de livre circulação. Porém, porque não pensar sobre o conceito como um só, como um todo, visto que todas as liberdades, previstas na Constituição e na Lei encaminham-se para o mesmo propósito: escolha.
Ao sermos livres, podemos escolher viajar para um qualquer país e não outro, seja por termos lido sobre o país, ou porque algum amigo nos falou muito bem sobre ele. Falando da União Europeia e do Espaço Schengen, se quisermos ir passar um fim-de-semana a Espanha basta apanhar um avião, ou sentarmo-nos ao volante do carro e ir. O problema é que tomamos esta liberdade, a de livre circulação, e muitas outras, como garantidas, não pensando que em muitos outros países é muito mais difícil, ou mesmo proibido atravessar as fronteiras.
Outra das escolhas são as eleições livres e democráticas, baseadas apenas na decisão dos eleitores. Uma das provas de que esta e outras liberdades são tidas como garantidas é a elevada abstenção que se tem verificado nas eleições legislativas portuguesas. Nas eleições de 1975, ano que sucedeu o 25 de abril, a taxa de abstenção dos cidadãos portugueses residentes em Portugal foi de 8,3%, ao passo que nas mais recentes, em 2024, o valor registado foi de 33,8%, segundo a PORDATA.
A tecnologia é uma peça muito importante na manutenção dos regimes autocratas, mais conhecidos como ditaduras, em todo o mundo, para controlar e vigiar mais facilmente a população. Estes regimes apoiam-se mutuamente e utilizam as mesmas técnicas para controlar a população, utilizando a tecnologia para impedir a população de ter acesso a informação livre, tanto vinda de outros países, como de outros lugares do próprio país, limitando a comunicação e corroboração dos acontecimentos.
Uma destas técnicas é a limitação e a censura do acesso à internet. O número de pessoas que tem acesso a este serviço tem vindo a decrescer de ano para ano. Há 20 anos, pensaríamos que o livre e não censurado acesso à internet viria a aumentar gradualmente, alcançando cada vez mais seres humanos, sem fronteiras a impedi-lo, de forma a que todos pudessem usufruir deste serviço. Infelizmente, não é o que tem vindo a acontecer.
Outras tecnologias que apoiam estes regimes são a vigilância social e o reconhecimento facial, entre outros tipos de tecnologias de identificação, os quais têm vindo a ser utilizadas de forma ampla, como forma de controlar a população.
Há 10 anos, menos de 40% da população mundial vivia numa autocracia.
Hoje, é mais de 70%.
Leopoldo López
Líder da Oposição Venezuelana na Web Summit 2024, em lisboa
Leopoldo López, Líder da Oposição Venezuelana, que esteve presente na edição da Web Summit de 2024 falou de um exemplo concreto: “Há 3 meses, houve eleições na Venezuela e Maduro roubou estas eleições. A reação do povo foi sair às ruas e muitos jovens mandaram abaixo aproximadamente 100 estátuas de Hugo Cháves” presidente venezuelano que governou entre 1999 e 2013, ano da sua morte. A sua presidência foi um tanto controversa, pois reuniu muitos poderes em si próprio, sendo por muitos considerado um ditador. Segundo Leopoldo, este foi um momento icónico, como forma de demonstrar que o povo não está feliz com este acontecimento e não se calou, idem, saindo às ruas para se manifestar. Todavia, utilizando a tecnologia de reconhecimento facial, entre outras, centenas de jovens, que protestavam desapareceram, às mãos do regime de Maduro. Muitos deles foram torturados, ao passo que outros foram mortos.
Sem o apoio dos países democráticos, será difícil que a Venezuela conquiste a liberdade, pois luta sozinha contra os países autocráticos, pois estes apoiam-se mutuamente na manutenção dos já instaurados, como neste caso, e também na instauração de novos. Já com os democráticos não acontece o mesmo.
A 19 de setembro de 2024, o Parlamento Europeu reconheceu Edmundo González como presidente venezuelano eleito, afirmando que faria todos os esforços para que este entrasse em funções a 10 de janeiro de 2025. Porém, nada faz acreditar que assim se sucederá.
Os países democráticos apenas se apoiam constitucionalmente, não havendo um apoio na prática, o que tem levado muitas pessoas a deixar de acreditar nesta ideologia política. Outras das razões, como referiu Leopoldo López, deve-se ao facto de que as nações democráticas não encaram a defesa da democracia como uma prioridade na agenda global.