O tempo, esse que não nunca pára, tem-nos levado, a cada novo trabalho de originais, ao encontro dos conimbricenses The Twist Connection (TTC). Neste novo álbum, a perceção de que o tempo não espera por ninguém é uma das forças que impulsiona a banda, onde a vida – com o seu desespero, amor, perdas e constantes roubos – volta a ser o grande tema. Continuando a trilhar uma sonoridade muito própria, devotos à sua energia, entregam-nos um novo capítulo discográfico com todos os ingredientes para nos manterem fiéis à sua existência numa estética musical tão deles, ou não fosse a Mutante uma acólita da banda.
Com “Crime” e “Concentrate” como singles de avanço, o disco confirmava a essência dos The Twist Connection: uma sonoridade poderosa, marcada pelo foco e paixão pelo rock. Em “Concentrate”, a participação especial da inconfundível Tracy Vandal adiciona uma nova camada de brilho: a sua voz entrelaçando-se de forma perfeita com o ritmo pulsante da canção.
Mas havia mais para descobrir. Faixas como “I Can’t Breathe Now” e as restantes composições que se alinham neste trabalho demonstram a maturidade de uma banda que construiu um percurso sólido, onde o talento e a persistência os trouxeram até aqui – prontos para novos voos e com um som que lhes pertence e a mais ninguém. Não há prova mais evidente do que as impressões digitais espalhadas neste disco.
O novo álbum “Concentrate, Give it up, It´s too late”, composto por oito canções mais viciantes que nunca, apresenta-se como um registo curto, sóbrio e direto, onde se percebe bem de onde a banda vem e para onde quer ir. O mote perfeito para nos perdermos, por uns breves instantes, num tête-à-tête com Carlos Mendes (a.k.a Kaló) e Pedro Chau, onde mais do que esmiuçar o lado mais técnico da música, entramos na existência da banda com o que a rodeia e a molda.
O que é o Estado Puro do Rock’n’Roll que falam na carta de apresentação de “Concentrate, Give It Up, It’s Too Late” e qual a relação com este novo trabalho?
Kaló: Em relação a este trabalho – com qual estou muito satisfeito, é o álbum que mais gosto dos The Twist Connection – havia, para mim, esta urgência de fazer coisas de forma mais espontânea e da coisa surgir de uma forma natural, sem ter de andar a fazer demasiado arranjos e re-arranjos, apesar de terem acontecido aqui e acolá, claro, mas é o estado puro da forma como as coisas me e nos foram surgindo, até na forma como gravámos – em espaços diferentes, com pessoas diferentes. Este trabalho foi feito de uma forma como hei-de dizer, um bocado… diria que até pode ser paradoxal, porque agora toda a gente consegue gravar e grava em qualquer lado, mas foi uma coisa mais arcaica. É, escolho a palavra arcaica. Captar um som aqui, fazer ali umas coisas, além outras. Mas tudo muito simples, sem grandes artefactos.
Foi mais cru?
Kaló: Se calhar esse pode ser o termo. No sentido de mais despido e sentido. Não sendo nós uma orquestra se calhar tivemos a capacidade, ou maior liberdade, de pensar e acrescentar aqui um acorde, ou outro, e acabou por trazer coisas interessantes ao álbum. A pureza do estado do nosso Rock’n’Roll passa por aí, pela liberdade e sem floreados.
O Rock’n’Roll, enquanto modo de estar na vida e estética, é mais preciso que nunca?
Kaló: Para mim, é. É mais preciso do que nunca! O Rock’n’Roll nunca deixou de ir a lado nenhum, nunca deixou de ser manifestamente aberto a uma série de ideias, de correntes de pensamento, de formas de se fazer, de ser uma maneira de se estar na vida. Não falo só no que respeita ao lado de contracultura que já existe há muito tempo. Falo do Rock’n’Roll de pessoas que se manifestam nestes tempos tão negros, de ascensões dos extremos e, sobretudo, de uma corrente estética. O rock’n’roll, apesar de nunca ter desaparecido, consegue trazer sempre coisas novas, boas, nunca se tornou, de todo, obsoleto.
Para se “ser rock’n’roll” e entender o estilo, consideras importante entender a sua génese e história?
Kaló: As pessoas hoje têm acesso a tanta informação que já não ouvem um disco inteiro, do início ao fim. Nós temos um álbum com oito faixas e sei que poucos o vão ouvir do início ao fim, de uma vez, sem interrupções. Ouves daqui, ouves dali É como a candidatura do Almirante Gouveia e Melo, quando ele anunciou a candidatura e dizemos que não se conhece uma ideia política dele. Eu penso o mesmo em relação ao Rock’n’Roll. Temos de militar nesta coisa, mergulhar na imensidão de referências e perceber que é uma história longa e que há coisas interessantes e outras não tão interessantes. É preciso querer descobrir e conhecer, para se ser.
Porquê, agora, usar como força criativa a “percepção de que o tempo não espera por ninguém”? Essa dimensão fundamental da existência ganhou mais espaço, no vosso tempo?
Kaló: Na minha vida sim, numa perspectiva muito pessoal. Tudo acaba, quando tudo se vai desmoronando à tua volta e para se sobreviver tens que fazer outro tipo de coisas. Quando começámos a gravar o álbum, em janeiro de 2024, entrei numa fase não tão feliz da minha existência. Fui assistindo à minha família a definhar, o tempo fugia-me por entre os dedos. Assisti aos meus pais a desaparecerem. Numa semana, numa quarta-feira, a minha mãe foi para os cuidados continuados com demência e o meu pai faleceu, domingo, às duas da manhã… Ficou tanta coisa por dizer tanto tempo por agarrar. Tanto arrependimento, tanta coisa que queria dizer. Isto é o lugar comum em relação à existência que, mais tarde ou mais cedo, também vai chegar a nossa hora. O tempo não espera por ninguém. Tens de viver as coisas no agora.
Todos temos um tempo.
Kaló: Exacto. A noção de finitude. Por exemplo, eu não me via a fazer isto, de ser músico, para além dos trinta anos e faço cinquenta este ano. Estou mesmo a falar a sério. Há um músico que aprecio muito, o Nick Lowe, que tem uma música que se chama “Checkout time” do álbum “The Old Magic”. Nessa música ele tem um verso em que diz “I’m sixty-one years old now, Lord I never thought I’d see thirty”. Mas ele manteve a vontade de continuar e continua! O tempo é tramado. Todos os dias penso “amanhã tenho de estar em forma para ir para numa digressão de, vá lá, de dois anos a tocar quase todos os dias”. Porém, o tempo vai passando, as hipóteses se calhar vão-se esvaindo, há outro tipo de compromissos, responsabilidades…
O tempo esvai-se, sem pedir permissão.
Kaló: Sim.
O “Smiling Man” (out of sight… but still here) com quem “share [your] deepest secrets” contribuiu para esta sonoridade bem mais pujante que nos entregam? Acreditando que te referes ao teu pai.
Kaló: É mesmo isso, e também à minha mãe. O meu pai, no fim, já não falava. As últimas vezes que tinha encontros fortuitos com o meu pai, e não é fácil ver os nossos a envelhecer, ele ria-se sempre que me via, ria-se muito, como se não me visse há imenso tempo. Fazia-me sempre uma grande festa. Era um homem de afectos. É uma pessoa que está no meu jardim, numa árvore que está a crescer e com quem falo. Eu digo muitas asneiras quando estou em silêncio nos meus afazeres e digo “ah! Se tu aqui estivesses…” Era aquela pessoa que se me visse chateado, mesmo já não falando escrevia: “Há problemas?”. É alguém de quem vou sempre sentir saudades e, sim, depois de fugir um pouco à resposta, contribuiu para a sonoridade que entregamos, sem dúvida.
Não fugiste. Reforçaste o quão forte é a percepção do tempo neste trabalho, principalmente para quem te conhece mais de perto.
Divagando um pouco sobre o tempo, filosófico ou não, como vêem estes tempos quem que parece que a aprovação de uma banda, salvo seja, passa pelo encher de arenas e estádios? E num momento em que vemos a salas/ clubes mais pequenos a não aguentarem pressões.
Kaló: Aquilo que referes, e se vê, de se encherem muitos coliseus e arenas, e felizmente posso pensar por mim – não é? – como diria o Schopenhauer “O que o rebanho mais odeia é aquele que pensa de forma diferente, não é tanto a própria opinião, mas a audácia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer.” O acto de pensarmos por nós mesmos é lixado, dizeres eu quero que vocês se lixem que eu vou por mim pode cair mal, as coisas podem não correr bem. Não sou muito de massas e de ir em rebanho, só porque é ou foi o hit. Lá está, é o ser Rock’n’Roll.
A vida (com oito canções) e o tempo (25 minutos a esgalhar) que ela contém em si mesma. “Desespero, amor, perdas e constantes roubos”, volta a ser o grande tema do vosso trabalho. Uma ligação às três dimensões do tempo – passado, presente e futuro.
A música é um exercício não só criativo, mas também terapêutico para a catarse do vosso tema?
Kaló: Completamente. não quero roubar, mas vou roubar na mesma, aquela frase que todos nós conhecemos do teu amigo Nietzsche, querido Chau: “Sem música, a vida seria um erro”.
Chau: Acrescento dele: “A música é maior forma de arte.”
Kaló: Não consigo viver sem música. Aqui o Chau, por exemplo, para além dos TTC tem o seu projecto a solo – Chauscape – que eu adoro e tem os Parkinsons, neste momento. Não dá para viver sem estar a tocar. Percebo que, às vezes, me entusiasmo demais e tenho de descer à terra. A música é-me essencial. Por exemplo, praticamente todas as semanas compro música. Ainda esta semana comprei dois discos, é um vício! Por vezes, faço uma lista para entregar ao amigo Ricardo Fernandes, da Lucky Lux (Lux Records) e vou ver o que lá há de novo, só que também acho que a música nova está incrivelmente cara ou, se calhar, nós também andamos todos sem dinheiro para a comprar. (Risos).
Chau: Eu dantes mandava vir música de Inglaterra e agora deixei de encomendar por causa das taxas. Por um cd pagas em taxas o mesmo valor que o disco. É um exagero e é uma pena porque encomendava muita coisa. Também falo muito com o Ricardo Fernandes, pergunto sobre encomendar, ele mostra o valor da encomenda e desisto. Isto não é para mim, que não tenho um trabalho fixo. Vivo de um pouco dali e daqui. Mas, felizmente, há os mercados em segunda mão na música, é o que nos vale. Percebo tão bem o Kaló, é viciante.
Kaló: Tenho encontrado coisas incríveis, como o Daniel Bacelar que cantava o “ Se Eu Enlouquecer”. Estou sempre a ouvir música, tenho o meu canto para ouvir e ainda uso phones com fios! (Risos). Quanto ao criar, estou sempre, todas as semanas, a criar coisas novas e com o tempo vou formalizando. Repara, numa viagem de Poiares para Coimbra (e vice versa) – Poiares é onde eu estou a leccionar Filosofia – dá sempre tempo para ter uma ideia, escrever um verso, para se pensar numa série de coisas. Fazer música é absolutamente fundamental e depois, às vezes, esta coisa torna-se aquele desespero. Sinto saudades daquele desespero de não estar exactamente como eu queria e aqui podia fazer melhor, podia estar mais bem feito, e, curiosamente, com este álbum não sinto nada disso. Estou muito satisfeito e acredito que o próximo será ainda melhor.
Os Corpos sem Órgãos (CsO) nos TTC, que ocupam a música e a habitam. Trazer o conceito de Deleuze para o vosso Rock’n’Roll espero que não o vejam como heresia ou desajustado.
Neste novo álbum há uma mudança na forma como o espaço é ocupado e, também, na linearidade do trio, no tempo, na estrutura base com que se apresentam, nos convidados que nos trazem e nos mestres de estúdio que vos captam e trabalham. Há novos corpos que se deixam preencher com a vossa estética, entendem-na, e ajudam a questionar e a construir a vossa sonoridade eletrizante.
Comecemos pela estrutura base. O Sérgio Cardoso, no baixo, em três composições e o Pedro Chau em cinco.
A pausa forçada do vosso Sérgio tornou o Rock’n’Roll que vos caracteriza ainda mais forte, mais eletrizante? Foi inevitável?
Kaló: Sim. É uma revolta cada vez que se altera uma estrutura, mas é algo que vai fluindo. Cada vez que se altera um elemento de uma banda a banda nunca mais é a mesma, e não é ser melhor ou pior. É diferente. Fica uma dinâmica completamente diferente.
Chau: Eu prefiro o Sérgio a tocar, gosto muito da forma como ele toca. O Kaló não gosta muito que eu diga isto, mas as músicas que o Sérgio gravou estão a soar tão bem a nível de produção, até as sinto superiores, mas pronto, é a minha cabeça a falar. Os temas “Concentrate” e “Crime” são, talvez, as duas melhores músicas do álbum. Tem ali um corpo de baixo, uma presença que eu não consegui. Fiquei contente com aquilo que eu fiz, atenção, e espero ter acrescentado algo bom, mas acho que as do Sérgio estão um bocado acima.
Kaló: Não lhe ligues (risos). Gosto muito daquilo que o Chau fez.
Chau: Ao vivo tem funcionado até melhor do que em estúdio.
O Chau. Só podia ser o Chau a habitar a música, certo?
Chau: Era o que havia (risos). Também não há muitos baixista por aí, em Coimbra. E, hoje em dia, é difícil encontrar alguém que se consiga integrar e perceber bem o que a banda faz.
Kaló: Para mim, que já não tocava com o Chau há imenso tempo, foi confirmar que ele continua a tocar belissimamente bem.
Já agora, como é que é voltar a tocar com o Kaló? E estar nos TTC?
Chau: É muito diferente, eu toquei com o Kaló, por exemplo, nos Parkinsons. A sonoridade é outra, os elementos são outros e nos TTC também têm outro guitarrista que muda tudo na sonoridade. Desde sempre gostei de tocar com o Kaló; é um gajo com groove a tocar. Gosto imenso dele a nível rítmico.
Agora os convidados: Tracy Vandal (voz e coros) e João Rui (coros).
Velha guarda da vossa permanência no tempo. Como surgiu este ocupar do espaço nas vozes?
Kaló: O João Rui toca tudo, toca de tudo, e até faz coros! (Risos). Ele sempre trabalhou connosco, houve um interregno por uma série de motivos, mas foi sempre trabalhando connosco, tocando e acrescentando. É uma pessoa sempre disponível, super rápido a trabalhar – quando lhe envias um ficheiro a resposta é quase sempre “vou ver agora!” -, é muito pragmático (o que é óptimo para mim), com um talento incrível, um à vontade e maneira de falar únicos. Ele sempre fez isto connosco, faz a diferença e os arranjos e os acrescentos estão lá, fazem parte da estética dos TTC. Tê-lo neste álbum… Não é nada de novo para nós.
E a Tracy?
Kaló: Quanto à Tracy. O TTC foram convidados pela Lux Records para fazer uma versão dos Psycadellic Furs e, obviamente, que a pessoa que víamos para cantar era a Tracy. Ela gosta muito dos Psycadellic Furs e acaba por saltar da versão para este álbum. É, tal como o João Rui, uma pessoa muito chegada a nós e que canta como todos sabemos! Só fazia sentido ser ela e sabemos que ela gosta dos TTC.
Chau: Com os Psycadellic Furs sabíamos, principalmente, que ela gostava muito da música deles que nos calhou; a banda creio que não será a favorita dela.
Por fim, nestes CsO dos TTC, os mestres do estúdio. Márcio Silva (gravação e edição; Colectivo Criativo), Henrique Toscano (gravação, Ermo Studios e Jackie’s Rock’n’Roll Club), Carlos Neves (gravação, Jackie’s Rock’n’Roll Club), João Rui (mistura e masterização).
Pensado, propositado, experiências, fruto do acaso. Como acabam a ter estes maestros todos a habitar a construção deste novo trabalho?
Kaló: Começámos a gravar com o Márcio Silva, uma escolha propositada, sim. Mas depois houve um interregno por causa da finitude que já falámos e em que deixei de ouvir as músicas durante uma série de tempo. Precisei de parar. Quando voltámos à carga, foi o pensar e sentir que podíamos fazer algumas coisas diferentes, acrescentar ou apagar uma ou outra coisa, e acabámos por não volta a gravar com o Márcio Silva. Apareceu, assim, o Henrique Toscano, de quem gostamos muito, que nos captou baterias, guitarras, vozes e baixo. O João Rui ia pegando e dando estrutura a tudo. Depois vem o Carlos Neves, que costuma estar no Salão Brazil, de quem também gostamos muito e com quem temos muito à vontade; abordámos o Carlos se conseguiria tornar possível toda esta crueza que apresentamos no álbum e se seria possível ele fazer alguma coisa connosco, e a resposta foi positiva. Foi tudo muito arcaico. Em boa verdade, sabemos que o futuro vai passar por estas pessoas, mas não foi uma coisa que estivéssemos propriamente a imaginar fazer. Foi tudo sendo fruto do tempo e da passagem do mesmo. Já tínhamos feito isto com outras pessoas, por exemplo o grande amigo Boz Boorer. São experiências completamente diferentes e todas com algo de onde aprendemos enquanto banda.
Chau: Não esqueçamos que havia, também, a questão dos timings para o álbum sair. Logo foi juntar o útil ao agradável.
Não foi difícil adaptarem-se a cada maneira de gravar?
Kaló: É gente que conhecemos bem, que sabemos da qualidade do seu trabalho. Uma das minha músicas preferidas, para além daquela versão, foi gravada com o Henrique Toscano. É uma música mais calma que se chama “I Can’t Breathe Now”, gravada no estúdio do Henrique e funcionou super bem. O Chau também fez uma observação que é sermos permeáveis a estas experiências, tornando-nos melhores. Outra questão, é que é tudo malta de Coimbra ou que está em Coimbra, e isso é do melhor.
E o álbum precisa sempre de um selo. Aqui a Lux Records. Unidade de medida de tempo inevitável?
Kaló: Sim, tinha de ser, foi inevitável. Além disso, é um sitio bom para ir. Quando saio do autocarro ali, perto da Portagem, é direito à Lux Records – Lucky Lux Record Store – e perder-me em conversas sobre discos com o Ricardo Fernandes. Isto é impagável. Será que as novas gerações sabem o que é que é isto? Ir a uma discoteca (loja de discos) e dizer na boa: “Ó Ricardo, isto está a 48€!”, a reclamar claro! Tens um objecto na mão, discutes o disco fisico, esmiuças álbuns em conversas. É um ponto de encontro.
Chau: São espaços onde nos cruzamos com malta e podes estar a ver tudo o que é álbuns, falar de música sem tempo marcado e sair sem nada na mão, mas com o tempo cheio.
Kaló: Falar e re-falar de música. Do que é bom e não é. É um hábito fantástico e nós somos dessa geração… Agora lembrei-me da ida loja de discos no centro comercial Golden.
Chau: A internet veio também mudar muito isto estes encontros… Eh pá! E a Fuga em Celas?!
Kaló: Eu conheci o Carlos Dias (Subway Riders, Wipeout Beat) na Fuga. (Risos). Ele nunca me tinha passado cartão nenhum. Ele tinha uns 24 anos e eu 16. Para mim ele era um idoso. (Risos). A malta pedia para ouvir um disco e ele metia a tocar.
Chau: Eu também!! O Carlos Dias vendeu-me um disco dos Gun Club. Lembro-me de chegar lá a procurar por dos Cramps, mas um amigo meu chegou primeiro e comprou, e não havia mais. Fiquei triste e o Carlos vira-se para mim e diz “não te preocupes que tenho aqui uma coisa para te mostrar onde participa o Kid Congo, dos Cramps, que são os Gun Club”, e eu não conhecia – bem, já conhecia a “Sex Beat” que passava no States. Acabei por levar o disco e fiquei a conhecer o Carlos e os Gun Club.
E a Lux é manter esse vosso ritual de ir a uma loja de discos, perderem-se na existência em conversas, conhecerem novos sons…
Chau: Exacto.
Já mesmo a terminar, não deixo de achar curiosa a estética gráfica do vosso álbum. Dissonante das anteriores, ousaria dizer.
Mensagem do tempo e do espaço perdido através do um edifício tão icónico da vossa cidade que perdeu a sua função original? Crítica aos tempos e à perda de função dos corpos que se habitavam?
Kaló: Sempre. Tem a ver com ser um ponto de partida um ponto de chegada. Depois, tem aquele relógio. Sabes que eu estudei em Escola Primária São Bartolomeu (perto da Estação Nova que está retratada na capa) e todos os dias olhava aquele relógio de manhã (note-se que detestei a escola primária). Lembro-me de coisas incríveis daquela Estação como o irmos no comboio da meia noite para a Figueira da Foz… Depois, o retrato de uma cidade em obras, assim como a minha alma e como a nossa banda, que esperemos que sejam para melhor. É a cidade que mais amo, é o céu azul com umas pessoas pelo meio.
Chau: Acho também interessante essa parte das obras; da imagem das obras como espelho de tempo de mudança e é um momento único na história da cidade, daqui por um tempo vai estar tudo completamente diferente, já está, em boa verdade. Aquilo é um registo da fugacidade do tempo.
Kaló: E vai ao encontro do que falámos do inicio, o tempo com o relógio, a mudança com as obras… E, no fim de tudo, é a nossa base, a nossa cidade com o Mondego ao lado. Nossa não de posse, mas de pertença. Fiquei contente com o resultado da capa.
O que pensam que será o tempo futuro ou gostariam que fosse…?
Kaló: Palcos. Muitos palcos e se calhar, lá para fevereiro, algo novo a nível editorial com malta muita fixe, com quem fizemos uma digressão, os nossos queridos So DeaD, que faz todo o sentido.
Próximos palcos dos The Twist Connection:
Julho
04/07 – Ourense, Galiza/ Espanha. (Adiado para setembro de 2025).
05/07 – Xapas Sessions, Paredes de Coura. (Realizado).
19/07 – O’Cunha Taipas, Guimarães.
Agosto
01/08 – Feira Terras do Lince, Penamacor.
02/08 – Trancoso.
09/08 – Verão a Dois Tempos, Coimbra.
29/08 – RockVão, Lorvão.
Setembro
05/09 – Teatrão, Coimbra.
19/09 – Pigs Rock, Leiria.
20/09 – Casa da Cultura, Setúbal.
Outubro
11/10 – ZDB, Lisboa.
17/10 – Ferro, Porto.
18/10 – GRC Amigos de Seixas, Caminha.
Com a habitual entrega e coragem, este disco afirma-se como um dos momentos mais altos da carreira da banda. É obrigatório ouvir.