Na senda de So DeaD

Com alguns singles e álbuns já editados, os So DeaD têm vindo a afirmar a força da sua música na cena musical underground, por cá. Em universos Mutantes sentimos que era chegado o momento em que não mais nos podiam escapar. Urgia um tête-à-tête com este electrizante trio conimbricense, sem mais demoras.

Sob o nome de So DeaD, considerámos apropriado fazer uma prova de vida ao trio. Delineamos um esquema para garantir que este bando de inconformados, que faz da música um grito de protesto, está mais que vivo e é altamente recomendável para sacudir comodismos, conformismos, egoísmos, egocentrismos e todos os mais “ismos”, nada recomendáveis, que andam por aí.

Os (not) So DeaD são Samuel Nejati e Sofia Leonor, dois amigos de Coimbra que, em paralelo ao projecto do qual fazem parte – From Atomic – decidem criar este duo com bateria, baixo e voz a que se juntou mais tarde Miguel Padilha (Wipeout Beat) nas teclas e sintetizadores, formando um irresistível e viciante trio. 

Com So DeaD não há pretensões ou ideias formadas, não há rótulos ou conceitos limitadores. Há apenas uma energia que nunca dorme e que lhes dá uma vontade imensurável de criar sonoridades da forma que sabem, podem e com total liberdade. Com a edição de um novo trabalho de originais – “A Wet Dream And a Pistol” -, no passado dia 26 de maio, eis que finalmente nos sentamos com Sofia Leonor (SL) e Miguel Padilha (MP) para uma breve conversa sobre a banda e não só. A ausência de Samuel Nejati é explicada no final desta conversa, com o humor que caracteriza este trio da Lusa Atenas.

Onde e como nascem os So DeaD, e no embalo, de onde vem a inspiração para este nome tão pleno de vida?
SL: Olha, não foi numa funerária, mas foi bastante abaixo de terra, numa garagem, num piso -5, que nasceram os So DeaD. Essa garagem, no menos cinco, é o nosso estúdio, local de ensaios, de gravações, de jam sessions, e coisas mais que tais. Nasceram porque nos apeteceu fazer coisas novas e fora da caixa, deixando o tempo correr sem pressa e, também, das nossas (várias) jam sessions. Os From Atomic, banda da qual eu e o Samuel fazemos parte, estão neste momento em hibernação e resolvemos pegar nas coisas e “‘bora aí fazer qualquer coisa“.
E o porquê do nome?
SL: Isso é simples de explicar. É muito difícil arranjar um nome para uma banda e nós tínhamos feito, com os From Atomic, uma versão de uma música do Victor Torpedo – a “So DeaD”, precisamente – e era (e é) uma música que nós gostávamos bastante. Gostámos tanto de fazer a versão que pensámos: “Isto até fica giro para nome de uma banda…”. E pronto, ficou.
O Victor Torpedo sabe da história?
SL: Claro. Nós pedimos-lhe autorização. Penso que o rapaz ficou agradado. (Risos). Ah! E ficou “combinado” que se ficássemos famosos teríamos de lhe pagar uma comissãozita. (Risos). Uns 25%. Vá, depois teríamos de rever isto, agora dito parece-me um pouco demasiado.

Primeiro, chegam-nos num duo assumido, num primeiro trabalho de originais – “Wait to Die” (2023). Segue-se “Play me like a doll” (2024) já com Miguel Padilha a fazer de vós um trio. Agora, neste 2025, eis que nos sacodem com “A Wet Dream And a Pistol” como um trio muito bem consolidado. 

Agarrando no cliché, ora dá mais um que só dois é pouco… Como vem o Miguel Padilha ao encontro dos So DeaD passando a fazer parte do agregado?
SL:
Tudo o que nós tocávamos, gravávamos. Com isso, começámos a perceber que tínhamos ali material interessante que podíamos mostrar ao Rui Ferreira (Lux Records). Como ele é uma pessoa extremamente difícil, disse logo que sim e “vamos lá lançar isto!”. De imediato na nossa cabeça: “E agora?! Vamos ter de tocar isto ao vivo”. Pensámos numa série de alternativas para tocar ao vivo, já que tínhamos metido os synths logo desde o início, mas só tínhamos quatro braços… Não dava para tocar baixo, synths e bateria, tudo ao mesmo tempo; e, apesar de termos pensado nisso, mas porque vai um pouco contra a ideia de fazer as coisas mais instintivamente, não queríamos colocar um computador a fazer de synth e… não me recordo bem, mas estivemos num concerto no Salão Brasil dos… Lembras-te quem era, Padilha?
MP: Foi dos Parkinsons, não foi? Ou dos Pop Kids…
Ambos têm o Torpedo.
MP: Sim. Foi num desses, eu recordo-me.
SL: E aí… Zás! Vimos o Miguel Padilha e eu saí-me com um “Olha lá!”… e já não me recordo da frase. A minha memória está óptima. (Risos).
MP:Tu não está interessado em vir tocar no dia da nossa apresentação do EP?
Portanto, tudo começou com um convite para tocar ao vivo. 
MP: Exactamente! Naquele preciso dia.
Depois foi um processo de adoção relativamente fácil?
SL: (Risos) Sim. Ajudou-nos a fazer boa figura, começou a ir para a garagem.
E encaixar na banda, foi fácil para ti Miguel Padilha?
MP: Sim, para mim foi. Aliás, o curioso foi que eu ouvi os So DeaD no Rui Ferreira, na Lucky Lux. Ele mostrou-me e no dia do tal concerto – Parkinsons ou Pop Kids –  virei-me para a Sofia e disse “eh pá gostei muito do vosso som. O Rui esteve a mostrar-me”. E ela aproveitou-se de mim, claramente (Risos). E “já agora, que estamos a falar… não queres, não estás interessado em vir tocar…”. Eu disse logo um “pode ser, ‘bora experimentar e ver o que é que sai”. Acho que a cena está fixe. Já não se livram de mim.

Três anos. Vários singles e álbuns editados.

Hiperatividade a precisar de ritalina ou demasiados nutrientes artísticos a circular-vos no corpo que vos urge morder o mundo com a vossa criatividade?
MP: É um bocado sofreguidão, sim. Mas não no mau sentido. Sofreguidão por criar e como nós gravamos tudo o que se passa no menos cinco…
Gravam os ensaios todos?
SL: Sim, mas se estiver pré-definido que é só um ensaio para concerto, não. Se for naqueles dias de vamos fazer aqui um jamzito… Aí sim. Depois começamos a ouvir as coisas e “isto até ficava interessante editado“.
MP: E custa deixar ficar para trás. Porque as coisas também perdem um bocado “a validade” se nós formos deixando ficar muito para trás. De tal maneira que muitas vezes acontece nós ouvirmos um álbum que fizemos há três anos e pensar “eh pá, isto está meio estranho”. 
Mesmo com a proximidade entre edições, conseguem sentir a vossa evolução sonora?
MP: Sim. Há sempre evoluções. 
SL: Este último álbum, por exemplo, é um pouco mais homogéneo. No anterior andávamos, talvez, à procura de uma linguagem e isso não tem mal nenhum, note-se. Até gosto que as músicas não soem todas “quase” à mesma coisa. E mesmo no mais homogéneo há dinâmicas, e as músicas diferenciam-se bem, logo, é fácil sentir, para nós, a nossa evolução de álbum para álbum.

Com toda essa produção e sofreguidão é fácil escolher quais as músicas que vão integrar um álbum?
MP: Nós escolhemos várias e depois vamos cortando. É impossível meter tudo e acabamos por perceber que há algumas que, se calhar, não ficam bem no todo.
SL: E depois há umas que ficam para trás e passado um tempo “e porque é que não pegámos nisto”. Porém, na altura era o que fazia sentido, não escolher esta ou aquela. Como temos um grande suporte do Rui Ferreira, para este álbum, por exemplo, quisemos lançar singles antes do álbum e ele alinhou logo. No caso, dois singles em vinil, Lado A e Lado B, mesmo old school, para combinar com o álbum. Ele tem estado sempre disposto a aturar-nos, bem… tem estado, também não lhe aparecemos lá todos os meses a pedir discos.

Agarrando no morder e no “som que morde” da vossa nota de imprensa, respeitante a este último álbum. Língua de prata ou letras afiadas (como melhor vos aprouver) e um sarcasmo acutilante que culminam na urgência de criar, manifestar, falar. Basta abrir o ouvido à vossa lírica e sentir o som à flor da pele.

A música, como ela é feita, ouvida, sentida e tocada ao vivo, hoje, ainda pode ser (ou é) uma arma para nos expressarmos contra o que nos revolta, nos magoa, nos incomoda, contra a perda de humanidade?
SL: Com toda a certeza!
MP: Sem dúvida! Podemos achar que, hoje em dia, a música poderá não ter o mesmo impacto. Todavia, na realidade tem impacto, a que sempre nasceu – e nasce – no underground, sempre escondida do mainstream. É uma maneira de se estar na vida. Ainda é uma forma de dar um murro na mesa e pode fazer a diferença. Não tenho dúvidas. Tens o exemplo de Glastonbury deste ano. Tens aí a prova que a música ainda pode fazer a diferença. E o impacto é fantástico. É a prova que quando há uma repressão sobre alguma coisa, que é musicalmente feita, é porque ela tem valor. É porque ela está a chegar onde se quer.
SL: Nos So DeaD, e neste álbum, nota-se ainda mais porque o mundo tem-nos dado, infelizmente, demasiado material para nos inspirarmos para dar o murro na mesa. Isto porque a nossa inspiração, normalmente, não nos vem de flores e água-benta.
MP: As letras e a música mudam muito consoante o estado em que nós nos sentimos. Se estivessemos numa envolvente confortável, vamos supor, num cenário quase utópico onde não há guerras, não há fome, com mundo todo perfeitinho, se calhar estávamos todos aqui a cantar sobre irmos colher flores, mas não estamos. A música é uma palavra de ordem!
SL: Ou se calhar estávamos em casa a não fazer nenhum, nessa utopia. É uma forma de nos manifestarmos contra o que nos incomoda, a nossa música. 
MP: Estávamos a falar do sentir. O estado do “nosso” Rock’n’Roll é o sentir, é quando ouvimos uma banda ou uma música, que nos transmite tudo isso e abana as estruturas todas. Quantos mais ouvintes tu tiveres, mais forte é a tua música, a tua mensagem. Por isso é que a música é tão importante. Se tu conseguires cativar uma série de pessoas para a tua mensagem ela terá muito mais impacto. A música é um veículo ótimo para isso. 

Se me permitem, vou trazer o imenso Iggy Pop à conversa. “As society has changed, what had formerly been unacceptable has become colourful.”

Aplicamos isto, também, à música?
MP:
Tenho uma visão em relação à música que é transversal a todas as coisas na sociedade, hoje em dia. Os grandes senhores do dinheiro tendem a calar qualquer coisa subinvestida comprando-a. A música passa por um momento muito assim, em que na realidade tudo o que a maioria das pessoas ouve e o que chega às pessoas é controlado por alguém com muito dinheiro, e só isso, desde logo, faz transparecer que há coisas que se calhar não chegam onde deviam chegar, porque eles não deixam. Porque os canais são deles e se pensarmos nos jornais, nas rede sociais, nas plataformas de streaming, se calhar, há coisas que são manipuladas por um algoritmo. Por exemplo, o Spotify vai dando sugestões, essas sugestões quem é que as dá? Não és tu. Uma coisa é se tu procurares, escarafunchares a Internet à procura de algo, com a sagacidade de encontrares sonoridades novas. Quando te submetes a uma sugestão, essa sugestão é sempre, de alguma maneira, controlada 
Crêem que hoje se está mais numa disposição de “é o que me aparece” e falta a vontade de sair da caixa, procurar o que não seja tão mainstream e dos holofotes?
SL: Há demasiado comodismo. Um comodismo geral da sociedade, em todos os campos e a música não é exceção. Parece, a sociedade, não se preocupar, desde que não a afete diretamente.
MP: Sim, e isso tem repercussões a médio-longo prazo. Porque as bandas que estão menos expostas, nessa situação, tendem a ser marginalizadas. Ou seja, se as pessoas se habituarem a esse tipo de coisas o que é que acontece? Quando vão ver um concerto, as pessoas não vão ver um concerto que não conhecem. Antigamente, tinha a noção que as pessoas iam ver de tudo, não havia youtubes, ninguém sabia bem o que é que a banda andava a fazer, era muito mais difícil. Por isso, tu ias à descoberta, gostavas ou não gostavas, às vezes tinhas surpresas brutais. Agora, as pessoas imediatamente “ah vou ver no youtube. Ah este gajo só tem 1000 visualizações? É que nem lá ponho os pés!”. 
SL: Ainda há quem vá, quem arrisque. Mas são cada vez menos. 
MP: Sim, sim. O underground está vivo e por isso é que o rock nunca vai morrer. Porque o rock nasceu no underground e continuará a fazer parte do underground. Quando o rock se tornar mainstream deixa de ter a força que tem; e depois são alturas dos tempos. Já tivemos a altura do nascimento do Punk-Rock, acima de tudo com todo um movimento social apoiado por um tipo de música. Quando as coisas começam a ficar muito escondidas, lá na caverna, chega um momento em que explodem. Esperemos que seja em breve. 

Sentem que ainda se presta a verdadeira atenção à lírica de cada música como se fazia há um bom par de anos? Ou isso está – não na totalidade, claro – mas um pouco afastado e ganham as músicas de tendência?
MP: É muito mais difícil para as pessoas estarem no autocarro a cantar “I will kill her” ou qualquer coisa assim deste género. (Risos). Isso tem logo por trás uma agressividade latente que… Lá está, voltamos à questão dos gigantes que nos esmagam.
SL: É um mundo muito leve, de tendências de redes sociais.

Continuando na actualidade e situando-vos nas estéticas que vos aparecem ligadas – post-punk, punk, rock’n’roll, synthpunk, alternative, nowave…

É algum correto ou os So DeaD não têm uma estética sonora definida e são de tudo um pouco, desde que sacuda o pó do conforto acomodado…
SL: Gosto desse terminar “Sacudir o pó do conforto acomodado”. 
MP: Nós somos uma banda de rock’n’roll, acima de tudo. 
SL: Eu não ligo muito a esse detalhe. Normalmente quem nos rotula, salvo seja, são as pessoas, as críticas, as plataformas… 
Por exemplo, os The Twist Connection, no último álbum, descrevem-se como estado puro do Rock’n’Roll.
SL: Ah, espera. Então deixa-me reformular e dizer que somos o estado puro de nada em particular e tudo um pouco. (Risos e mais risos). 
MP: Nós somos o Rock’n’Roll pela atitude inconformada, e sim, o Punk tocado de outra maneira, mas a matriz é Rock’n’Roll e está ligado com a agressividade, com os instrumentos que tocamos, onde depois entram os synths que nos transportam ao synth-punk e nowave.  Utilizam-se, também, outras sonoridades, mas na realidade a atitude, pelo menos, e falo por mim, é de uma banda de rock’n’roll. Estamos aqui para mostrar e dizer alguma coisa. É a nossa revolta.
SL: E os agregados que se juntam à família So DeaD trazem também um pouco deles; da linha estética deles, enriquecendo-nos. 

Vamos aos convidados que aparecem no vosso álbum e single. Escolhas intencionais – com músicas a serem esgalhadas com um desafio em mente – ou fruto daquele nano segundo criativo em que vos saí “precisamos deste aqui”?
MP: É um bocadinho o nano segundo. Lembrámos-nos deles porque “Eh pá! Ficava aqui bem o…”.
SL: Por exemplo, a “Creeper”, onde toca o Filipe Fidalgo (Filipe Furtado Trio, Victor Torpedo and The Pop Kids, Caustic Babe), o Samuel disse logo “isto ficava aqui bem um saxofone do Fidalgo”. Não aquele saxofone tradicional, tinha de ser o Fidalgo que faz um trabalho mesmo muito fixe com o saxofone. E nessa, como é uma música muito agressiva, precisava ali de uma musicalidade com uma atitude e textura diferente. É como se até parecesse que ele está um fora da música…
Puxa-nos para fora da música sem sairmos dela?
MP: É uma onda dissonante.
SL: Sim, estando no sítio exacto onde tem de estar na música, é dissonante e isso faz com que a música, que já é agressiva, te provoque ainda mais emoções, com o saxofone do Fidalgo ali atrás, dissonante.
MP: Acabou por criar um ambiente sonoro díspar em relação às outras músicas e resultou muito bem. O facto de ele trazer um saxofone, para aquilo a que estamos habituados nos So DeaD, é um efeito surpresa. Funciona mesmo muito bem.
E as guitarras de Henrique Toscano, dos Birds are Indie, como vêm parar aos So DeaD? 
SL: O último álbum dos Birds tem umas guitarras dele muito interessantes e que chamaram muito a atenção dos So DeaD. O facto de ele ser multi-instrumentista – tanto toca baixo, como guitarra, como bateria – e sempre bem, também nos fez estar de olho colado nele. Mal ele sonhava…
MP: Tudo aconteceu quando fomos ver, há um bom tempo, um concerto dos Birds are Indie e pensámos “este rapaz está a conter uma fúria enorme, ele tem de deitar isto para fora, mas como? Olha… Vamos dizer para ele fazer umas guitarras para os So DeaD!” (Risos). E foi um bocadinho isto. 
SL: E na realidade, lá está, como ele gravou e tocou connosco essa música, andámos a puxar a brasa da música e “não queres tocar connosco, de vez em quando, umas músicas? Aqui e ali…” E agora abusamos a toda a força (com sucesso) para ele tocar várias músicas. (Risos). Esperemos que ele esteja a gostar de ser abusado… Está cada dia mais forte, o poder da sedução da nossa parte.
MP: Ah ele gosta, de certeza! É um desafio diferente. Ele dá-lhe bem! 

Continuando na vossa envolvente e passando de convidados para parceiros de tour conjunta – The Twist Connection (TTC). Ora, há tempos tivemos um breve momento de conversa com os vossos conterrâneos TTC e o homem do leme – Carlos Mendes (Kaló) – soltou que poderá a vir ser criado algo junto convosco, um single, quem sabe… 

Como surgiu aquela tour conjunta e como é que sentem que foi recebida pelo vosso público?
MP: De base, eu acho que as duas bandas encaixam bem, logo porque são as duas do universo do Rock’n’roll. Claro que com ideias diferentes e sonoridades diferentes, mas a base está lá e por tal, funcionam bem juntas. Não sou nada apologista daquelas coisas em que, por exemplo, só podem ir góticos a cenas góticas, quase como uma missa. Creio que para as próprias pessoas que foram a esses concertos da tour foi uma boa surpresa. Claro que os TTC são muito mais conhecidos, como é óbvio, e a grande parte das pessoas que foi aos concertos ia ver os TTC, obviamente, mas acho que o feedback foi muito bom para nós e creio que para os TTC. 
Acabaram por, também, dar corpo aos concertos deles, não?
MP: Claro, mas isso é também porque nós colocávamos logo ali a fasquia mais alta e eles tinham de se esforçar mais (Risos). A nossa mestria exigiu-lhe mais. (Risos).
SL: Respondendo à primeira parte da tua pergunta, tudo nasce numa conversa solta e, de repente, um “e porque não?!”. Porque não experimentar uma tour conjunta? Lá está, como estávamos a dizer há pouco, nós estamos a ser um bocado esmagados pelos gigantes e porque não juntar forças e fazer uma apresentação diferente. Em vez de ser só uma banda que vai ali tocar, somos duas, que ainda por cima são amigos. Acaba por não ser só trabalho, mas passa também a ser um momento de “estar em família”. Um trabalho que tem uma grande percentagem de prazer e lazer, o que muito facilita na pressão que temos antes dos concertos. Conversamos, convivemos… 
MP: O Kaló, gostando das coisas, faz sempre força para que as coisas funcionem. Partiu um pouco dele esta ideia. E, principalmente, há uma coisa que nós sentimos muita necessidade, mais ele do que nós, se calhar, mas que no fundo é-nos transversal. Não há uma agência que pegue em certas bandas (uma família de bandas) e que consiga ter alguma projeção; e a ideia desta tour passava um bocadinho por aí, até. Criar talvez uma agência para fazer agenciamento de algumas bandas (poucas) e conseguir chegar mais longe.

Criar um grupo de bandas com pontos comuns, não necessariamente todos com a mesma estética sonora, seria isto?
MP: Sim, por aí. Mas principalmente uma agência que conseguisse chegar a mercados que abranjam e agarrem mais estes estilos de música, esta postura e estética underground.
Acham que Portugal…
SL: Não.
Nem é preciso terminar a questão.
SL: Não mesmo. (Risos).
MP: Não. Em Portugal ninguém pode ou consegue sobreviver da música, a não ser meia dúzia de pessoas, ponto final. É isso. E partindo daí… Nós vivemos numa Europa, num espaço Schengen, não precisamos de um B.I. para ir de um lado ao outro. Não há fronteiras. Porque é que nós, Portugal, não conseguimos (e mais uma vez, salvo raras exceções) sair daqui com as nossas bandas? Não há nenhuma agência em Portugal que consiga colocar as bandas num circuito europeu. Por exemplo, se tu tiveres num circuito europeu, já bem estruturado, tu consegues colocar várias bandas a rodar por ali.

E vocês com a mais valia de cantarem em inglês que diríamos que é o novo Esperanto. 
MP: Exacto. É uma mais valia nesta questão e é, se calhar, uma menos valia em Portugal. Porque cada vez mais me dá a sensação que as bandas que cantam em inglês são um bocado postas de lado, por cá. E é curioso, porque vais a empresas e perguntam-te logo se falas inglês, é só estrangeirismos e inglesismos para todo lado, em todas as frases, em muitos níveis da sociedade portuguesa. Vais ao Algarve e tens um menu todo em inglês e falam-nos em inglês… mas depois há este enguiço na música.

É falta de força nossa de irmos mais além ou é pela dificuldade que é levar uma banda e todo manancial de instrumentos e despesas?
MP: Essa última parte claro que é um grande entrave. Temos de começar com passos pequeninos, por baixo. O que me faz confusão é que há muitas agências em Portugal, mas nenhuma delas me parece que trabalhe, assim, para fora do país. É difícil vermos bandas que façam uma tour por alguns países da Europa com alguma frequência. É raro vermos isso. Há uma ou duas que vão fazer um concerto a França… Não conseguimos ir além de Espanha.  Ou então eu ando mesmo muito desatento. 
SL: Claro que também agora a oferta é muito maior do que era antes, para o bem e para o mal, há muita oferta e pode haver coisas boas que fiquem para trás porque não se consegue ouvir tudo. 
MP: Mas mesmo assim… Nem todas as criações que nós temos hoje em dia a nível da internet são respostas para palco e falando da música ao vivo, que é basicamente aquilo que nós gostamos de fazer, acho que nós falhamos um bocadinho neste aspecto que é não nos conseguirmos internacionalizar com tanta facilidade. De repente, tens cá bandas de Espanha, França, Reino Unido, Itália e tanto mais, mas as nossas bandas não conseguem fazer mais que três concertos, talvez, além Espanha. Tens por exemplo The Courettes, eles fazem 60 concertos num ano na Europa, tocam em tudo o que é tasco, ok, mas mas fazem e tentam porque há circuitos, há espaço. Os Asfixia Social estão fazer 20 concertos na Europa. Ou seja, o circuito existe, falta aqui um intermediário que faça essa ponte, alguém com facilidade de comunicar e de chegar mais longe, com persistência. Às vezes não podemos estar à espera e temos de fazer sacrifícios, pelo menos no início, Não podemos estar à espera de fazer uma tour e sair da mesma milionários, mas podemos fazer uma tour e sair com algum dinheiro ou pelo menos não ter despesas. E como primeira vez acho óptimo. Mas o difícil é haver uma primeira vez, mesmo só cobrindo despesas. É por aí que eu acho que nós pecamos muito. Bem, grande desvio, mas isto tudo porque estávamos aí a falar da tour com os TTC e a ideia do Kaló é muito esta. Já lhe disse que posso fazer de secretariado e trato da agenda (risos), mas ele trata de comunicar de arranjar os espaços. É preciso saber vender o peixe e o Kaló tem jeito para isso, mas isto não é trabalho só para uma pessoa. Temos de partir de algum lado!

Esse single, não foi falso alarme, esperamos. Podemos estar tranquilos?
SL: É um split single e vai para a frente, sim. Nós já temos a nossa parte preparada. Não sei onde é que está, mas está preparada. Está guardada numa drive, mas… Agora falta-nos encontrar a dita.

Que “wet dreams” há para o futuro dos So DeaD? Que vem por aí que nos queiram desvendar ou acicatar?
SL: O que nós queríamos mesmo era o domínio mundial. 
É um bom começo.
Sl: Paz no mundo, mas também domínio mundial. 
Portanto, um regime pacífico onde vocês dominam tudo?
SL: Exactamente.
MP: Era o ideal, mas depois tínhamos o problema do Rock’n’Roll se tornar chato porque não havia nada para protestar. Depois era a música do domínio… Temos de repensar essa ideia do domínio mundial. 
SL: Pronto, é melhor não irmos por aí, nem domínio Regional (seria melhor que nada, mas não).
MP: Temos coisas em vista, internacionais, estamos à espera que as condições todas se reúnam e depois falaremos sobre isso. 

Alguma coisa de gostassem de acrescentar a esta conversa?
MP:
Só mandar um abraço para o Samuel que está no Sonic Blast. Sacana! 
SL: Eu só quero desejar as melhoras ao Samuel, mesmo ele estando no Sonic Blast. 
MP: As melhoras, Samuel!

Os So Dead não sabem conjugar o verbo “parar”. Dizem, vozes em sussurro, que nem se preocupam em aprender esse infame verbo. As jams continuam a encher o -5 e os ensaios estão aí porque na mira há :
23/08, 17h00 – Extramuralhas, Jardim Luís de Camões, Leiria.
24/08, 21h00 – BOTA Anjos, Lisboa.
12/09, 22h00 – Ciclo Verão a Dois Tempos, Praça do Comércio, Coimbra.

So DeaD é para quem gosta de música que se sente na pele e nas entranhas. É para quem gosta de sacudir o mainstream que nos invade. É para ouvir alto. É banda a não perder da vista, nem do ouvido. Se ainda não ouviu… Está na hora de morder este som e dar um murro na mesa. •

+ So DeaD
Lux Records
© Fotografia: Daniela Barbosa/ Urbandani_dades  .

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