Redenção 

Na espectralidade que impera a manutenção da firmeza nas mãos pode parecer um passo insignificante para cada pessoa, mas abre sem dúvida um infinito que não é negociável.  

Tudo quanto se considera invisível é passível de ser localizado no que se vê: seja uma dor, seja uma sensação, um sentimento ou uma palavra, mesmo um sopro. Mas longe de fazer radicar as correspondências, tanto as encetadas pelos seres humanos, como as que se apresentam em toda a Terra, numa tese materialista que agora poderia ser cooptada pela febre do consumo, digo que existe um desdobramento.  

Para ver o invisível é preciso estar imbuída de amor. O interior do ser humano, alojado na maquineta assombrosa de órgãos que caminha através do espaço como um andor, é sagrado. Suponho, naturalmente, que as paisagens íntimas diferem, e a cada pessoa cabe ir laborando na sua; todavia, todas, sem excepção, exigem amor. Na verdade, para abraçar o vento e deixar-se também penetrar por ele até às entranhas teremos de, com firmeza, defender outra coisa.  

Fotografia: Manuela Brito

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