Complexo Brasil / Fundação Calouste Gulbenkian

Até ao dia 17 de fevereiro de 2026, duas galerias do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian acolhem obras de arte, vídeos, peças musicais e documentos vários, representativos da diversidade da cultura brasileira. O objetivo da exposição é fomentar o desencobrimento recíproco entre Brasil e Portugal.

Poderíamos descrever a exposição Complexo Brasil, como uma travessia pela diversidade e pela contrastante cultura brasileira, entre muitas mãos cheias de objetos e vários suportes artísticos reunidos com base na curadoria dos brasileiros José Miguel Wisnik, Milena Britto e Guilherme Wisnik. Promovida pelo Programa Gulbenkian Cultura, esta exposição, patente no Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian e projetada por Daniela Thomas, é mais do que isso. “É uma exposição de Brasis”, afirma José Miguel Wisnik, ou seja, uma mostra de ambiguidades intrínseca a este país, cuja complexidade é simbolizada por idiomas, etnias, linguagens, pela própria economia, que converge pelas inúmeras diversidades identificadas na vasta sociedade brasileira.

Segundo José Miguel Wisnik, a mostra “começa pelo desencobrimento do Brasil”, declara, referindo-se aos Descobrimentos, episódio da história dos dois países que remete para o “apropriamento colonial, que deu origem à escravatura” e à condução de “cinco milhões de pessoas” para o Brasil. A foto de Edu Simões, com a indígena de braços abertos perante as pinturas rupestres da da serra da Capivara, localizada no nordeste do Brasil, é a representação de uma liberdade cruzada com a natureza tão comum entre as comunidades nativas do Brasil. É, também, um dos pontos centrais da área de boas-vindas da exposição, uma ode à essência do Brasil. “Toda a complexidade associada aos indígenas é aqui explicada, designadamente a noção errática do canibalismo associada a este povo”, alerta José Miguel Wisnik.

O paradoxo cultural do Brasil aumenta quando, mais à frente, nos deparamos com o quadro “A redenção de Cam” (1985), da autoria de Modesto Brocos.“É uma alegoria ao misticismo”, facto que remete para a negação de uma mulher negra, que denota felicidade por o neto ser mestiço. 

Por sua vez, a simbologia da representatividade, observada uns passos atrás, surge adiante, neste Complexo Brasil, onde os mantos estão reservados a lugar de destaque. Em particular o “Manto da apresentação” de Arthur Bispo do Rosário, que o elaborou durante décadas, a partir dos fios azuis que desfiava do próprio uniforme, enquanto permaneceu numa colónia psiquiátrica. Com eles, bordou o nome de várias pessoas da instituição.

Em antítese a esta obra-prima, surgem exemplos do racionalismo, os quais coabitam num espaço, que é uma mostra de artistas com várias propostas estéticas. Aqui, Milena Britto enaltece a relação humana, sensível e partilhada entre avós e netas, a respeito da forma desumana com que “foram arrstadas” para os chamados “encontros culturais” no Brasil, segundo a curadora.

Nova chamada de atenção é feita em relação ao muro existente em Brasília, figurativo do virar de costas no âmbito do panorama político, apesar da capital brasileira, contruída em finais da década de 1950 – o arquiteto Oscar Niemeyer foi o responsável pelo traço dos edifícios, enquanto Lúcio Costa ficou com a parte ligada ao projeto urbanístico –, como símbolo da contemporaniedade.

“O Brasil nunca termina, nunca está pronto”, sublinha José Miguel Wisnik. Nesta exposição, instalada num espaço amplo, sem quaisquer paredes, esta realidade está bem presente, fluindo para o piso inferior, onde a Amazónia toma conta de uma realidade antagonicamente colorida. Eis a floresta indígena e o pulmão da América Latina, “o testemunho de uma longa e intensa interação entre pessoas e meio ambiente”, frase inscrita na sinalética correspondente a este pedaço de terra. Ao lado, seis redes, equipadas, cada uma, com auscultadores devolvem a serenidade.

Mais há para descobrir ao longo desta mostra cheia de cor!

Complexo Brasil

Fundação Calouste Gulbenkian Edifício Sede


Horário

Das 10h00 às 18h00 • sábados, das 10h00 às 21h00 (encerra à terça-feira)

Entrada gratuita 

Jovens até aos 30 anos • ao sábado das 18:00 às 21:00

Menores até 18 anos

Domingos a partir das 14:00

Fundação Calouste Gulbenkian
© Fotografia: Pedro Pina

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