Galeria de Arte de Nova Gales do Sul / Austrália

A primeira visita à Art Gallery NSW não correu como o previsto. Aliás, nem sequer correu. Uma confusão de nomes, moradas e acabei na State Library NSW. Imponente mas pouco artística pensei na altura, confesso que um pouco desiludida. Detectado o erro, impunha-se nova visita. Desta vez ao sítio certo.

Uma das duas estátuas equestres que protegem a Art Gallery – ‘The Offerings of Peace’ de Gilbert Bayes (1923). A da imagem encontra-se do lado norte.

Criada em 1871, a Galeria de Arte de Novas Gales do Sul fica nas proximidades do (parque) The Domain e do Real Jardim Botânico. À medida que nos aproximamos e deixamos para trás um manto verde, os contornos de um majestoso edifício cheio de História e as suas enormes colunas tornam-se cada vez mais nítidos. O enquadramento é perfeito.
Entro e preparo-me para uma viagem pelo mundo das artes. E que mundo! O mapa que apanho no balcão de informação mostra-me que são 4 andares todos dedicados à arte. Da Europa à Ásia, passando pela Austrália, do século XV ao século XXI, do clássico ao contemporâneo nada parece ter sido esquecido.

Arte e cor: a instalação artística ‘Rally’ pinta o tecto e os quadros abstractos de ‘Forcefields’ pintam as paredes do hall de entrada.

Não há tempo a perder e logo ali no corredor principal encontro as primeiras obras. Do tecto e ao longo de 50m pendem mais de 60 mil fitas coloridas de plástico. Da autoria do artista local Nike Sawas, ‘Rally’ é uma das maiores peças individuais alguma vez exposta. Aquele tapete aéreo colorido não passa despercebido e vê o seu impacto visual reforçado pelas telas expostas ao longo do corredor. ‘Forcefields’ junta onze quadros abstractos que fazem parte da colecção de arte da instituição. Não há um estilo, um lugar ou um momento que os una entre si nem aos criadores. Mas a força e a energia que transmitem é comum a todos e contagiante. Por algum motivo inexplicável, toda aquela cor vibrante deixa-nos felizes.
A presença de turistas é habitual nestes meios. Menos comum, pelo menos para a minha realidade, é o elevado número de visitas escolares que andam pelas galerias. Os mais pequenos seguem atentamente os professores e os guias. Desenham, pintam e questionam tudo. Os mais crescidos param aqui e ali para ver apenas o que lhes chama a atenção. A individualidade própria da idade assim o dita. Todos sem excepção parecem gostar de estar ali, rodeados de arte.

Do familiar ao desconhecido

Arte europeia dos séculos XV a XX parece-me bem para começar. Pintura e escultura ao longo de várias salas ligadas entre si, física mas sobretudo estética e cronologicamente. Há um fio à meada a seguir para não nos perdermos. Confesso que desconheço muitos dos nomes que vou lendo até que de repente vejo algo familiar. Pissarro, Van Gogh, Monet, Dufy, Rodin. Conheço e talvez por isso demoro-me um pouco mais de tempo a admirar.

A arte aborígene integra a colecção australiana dos séculos XX e XXI.

Na sala ao lado, arte australiana e aborígene. Descubro o que de melhor se criou entre os séculos XIX e XXI com o selo made in Austrália. Pintura, escultura, fotografia e até vídeo numa viagem ao longo do tempo que nos ajuda a conhecer um pouco mais o percurso cultural deste país. As diferenças entre quem chegou e quem cá estava são grandes e a arte confirma-o. As cores, os traços, o abstracto (para nós) de uma tela aborígene revela-se apelativo. Atrai-nos e obriga-nos a tentar encontrar um significado para o que está à nossa frente. Desisto e continuo a minha jornada. Ainda há muito para ver.

Desço um andar e estou na Ásia. China, Coreia e Japão ali tão perto. A caligrafia chinesa, as porcelanas coreanas e o teatro japonês chegam até nós. Como são tão diferentes as expressões artísticas de país para país. Ainda há pouco estava rodeada de quadros e esculturas, agora são caracteres, bules, máscaras. Um grupo de crianças, sentado no chão, ouve a professora em silêncio.

Um olhar diferente

A pintura e a escultura modernistas do início do século XX até aos nossos tempos ocupam uma das renovadas galerias

Mais um lance de escadas e novas descobertas. O contemporâneo e o moderno recebem-me de braços abertos. Entro desconfiada no mundo da contemporaneidade. Procuro entender o que vejo mas não é fácil sentir-me atraída pelo que me rodeia. Afinal a frase na parede junto à escadas rolantes ‘não é só uma frase’. É uma instalação do americano Lawrence Weiner (1990). É o maravilhoso mundo das artes no seu pleno. As múltiplas interpretações, a subjectividade de quem cria e quem admira. Avanço para a modernidade e não há dúvidas que me sinto mais à vontade. Os ‘tradicionais’ quadros e esculturas voltam a ser o centro. Georges Braque, Pablo Picasso e Alberto Giacometti, entre outros estão mesmo ali.
Finalmente o último piso. A Yiribana Gallery apresenta trabalhos do povo aborígene e do povo indígena Torres Strait Islander. Estão representados artistas de várias comunidades espalhadas pela Austrália. Os tons fortes das telas sobressaem de imediato em contraste com as peças de madeira. O novo e o antigo lado a lado a contarem episódios de uma história.
Regresso ao ponto de partida. Paro e faço questão de olhar em redor para uma última contemplação. Dirijo-me à saída, com a certeza de que voltarei em breve. •

Art Gallery NSW