Vamos “brunchar’”? / West Juliett

Em Roma sê romano, em Sydney age como um sydneysider. Dito por outras palavras, adopta o brunch como refeição e esquece a balança. Qualquer dia serve mas se queremos mesmo levar a tradição a sério, sábado ou domingo são a escolha certa para ir ‘brunchar’. Este misto de pequeno-almoço e almoço (breakfast + lunch), muito popular entre os australianos, já me cativou. A minha escolha? West Juliett

Numa das minhas visitas a Newtown, estiquei-me no passeio e andei por ruas e ruelas mais calmas. É sempre assim que as melhores descobertas são feitas e esta vez não foi excepção. Um pequeno café de bairro, na esquina da Juliett Street, que até teria passado despercebido despertou a minha atenção. É que a aparente simplicidade contrastava com a muita clientela que ocupava as mesas, lá dentro e cá fora. Amigos ou famílias, em grupos, a pares ou sozinhos, os locais pareciam conhecer bem os cantos à casa. Era bom sinal.
O relógio informava que já não é hora para tomar o pequeno-almoço mas ainda era cedo para almoçar. Solução? Brunch. Opto pela esplanada, onde tinha acabado de ficar livre uma mesa. O dia solarengo era apelativo e o pouco movimento da rua mesmo em frente era o complemento ideal ao cenário.

Os olhos também comem

As mesas e as cadeiras são simples e dão aquele toque casual e familiar ao espaço. As janelas atrás de nós criam uma ligação com o interior, vemos e somos vistos mas ninguém se sente observado nem incomodado. Antes pelo contrário, temos a sensação de pertencermos todos ao mesmo espaço.
Quando entregam a carta, deixam na mesa um copo de água e perguntam de imediato se vamos desejar algum café. Muita atenção! Um café para eles não é um café para nós. Por aqui café é sinónimo de cappuccino, flate white ou latte. Recuso porque ainda não sei o que vou comer. O leque de opções é variado mas tem o tamanho ideal: simples torradas com manteiga, doce ou vegemite, o famoso banana bread, bircher muesli com fruta e iogurte, a popular french toast, várias combinações de ovos (escalfados, mexidos) com múltiplos ‘siders’, saladas, sanduíches. Para beber, além do café, há smoothies, milkshakes, sumos naturais. Olho para a french toast e pondero… A rapariga que aguarda pacientemente o meu pedido diz-me que é muito requisitada. Não foi preciso dizer mais nada, estava decidido. Para acompanhar, um sumo de ananás, maçã, menta e manjericão.
O serviço é rápido, atencioso e prático. Não foi preciso esperar muito para ver chegar à mesa um prato com quatros fatias de pão escuro ligeiramente tostado, ricota, pêssego grelhado e caramelo salgado. Por uns segundos tive dúvidas, provei a primeira garfada e elas desapareceram de imediato. O doce e o salgado, o quente e o frio combinavam na perfeição. As diferentes texturas, o pão estaladiço barrado com aquele caramelo macio, davam o toque final. O sumo também não desiludiu. A mistura das frutas e das ervas aromáticas era leve e refrescante, casando na perfeição com a comida. Quando passa por mim, a empregada que me serviu não resiste a perguntar se estou a gostar. Sorrio e agradeço o bom conselho.

Ambiente descontraído sem lugar para pressas

À minha volta, as mesas continuam cheias. Entre uma grafada e outra, pequenos e graúdos falam e riem. O ar enche-se de conversas mas o tom é moderado e todos se entendem. Ninguém tem pressa de ir embora. Há que desfrutar do momento e da companhia.
Quando vou pagar, observo finalmente o espaço interior. A sala é pequena mas está bem organizada. Mesas para dois junto às janelas, mesas para três ou mais no resto do espaço. A cozinha está à vista de todos. A troca de pedidos por pratos é feita sem confusões e sem stresses. Tudo a seu tempo. No balcão onde pago, encontro os doces (muffins, bolachas, bolinhos), com um aspecto delicioso, e as compotas e o café da casa para quem quiser comprar. É com orgulho que mencionam em nota de rodapé no menu que quase tudo o que servem é feito dentro de portas.

Regresso a uma mesa onde fui feliz

A estreia correu bem mas para poder escrever com o rigor exigido, é preciso voltar, agora com companhia, para confirmar (ou não) a boa nota atribuída no primeiro exame.
A segunda visita também foi a um dia da semana mas mais cedo e ainda assim estava muita gente. Ponto positivo. A escolha recaiu novamente sobre uma mesa no exterior e o sol voltou a fazer companhia. Coincidência?
Uma rápida olhadela pela carta e fazemos o nosso pedido. Bircher muesli para mim e o ‘prato pequeno-almoço’ para a minha parceira matinal. Sou presenteada com uma bela taça de cereais com amêndoas, iogurte, mel e fruta. Uma saudável e saborosa maneira de começar o dia. Ao meu lado, alguém se delicia com duas torradas de pão escuros com manteiga, fiambre, queijo, ovo escalfado, tomate e abacate. A opinião é de que está tudo óptimo.
Palavra puxa palavra, as estórias vão sendo partilhadas à mesa onde nos deliciamos com a comida. Sob o pretexto de uma refeição, criam-se momentos que mais tarde recordamos. É assim no West Juliett.

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