O diálogo cultural do VERA World Fine Art Festival

80 artistas. 16 países. 6 categorias. E duas mãos cheias de obras de arte compõem o cenário da Cordoaria Nacional, em Lisboa, por cinco dias. Estão, assim, abertas as portas do VERA World Fine Art Festival’14.

Depois de sete edições consecutivas na Rússia, matriz do Festival Anual Internacional de Arte de Moscovo “Tradições e Contemporaneidade”, o festival de arte contemporânea reconhecido em todo o mundo chega à cidade das sete colinas para celebrar a arte e a cultura em Portugal com o VIII VERA World Fine Art Festival. Uma exposição coletiva que reúne artistas de Portugal, Angola, Brasil, Rússia, França, Azerbaijão, Uzbequistão, China, Alemanha, Israel, Turquia, República Checa, Suécia, Áustria, Roménia e Bielorrúsia na Cordoaria Nacional, o palco eleito para acolher a multidisciplinaridade existente no mundo da arte. Ao todo são seis as disciplinas associadas – pintura, fotografia, escultura, artes gráficas, artes aplicadas e museologia. Todas embarcam numa viagem cultural primada pela diversidade e pela liberdade intrínseca de cada artista.

“Uma cultura, quando encontra outra cultura, fica mais rica.” / Marco Kabenda

É com essa liberdade que Marco Kabenda pinta as seus quadros, pois são eles a representação da humanidade, a expressão “do diálogo cultural”. O artista angolano, cujos trabalhos expostos no VIII VERA World Fine Art Festival estão relacionados com a “primeira fase em que estou em Portugal”, e perante os quais ninguém fica indiferente, não aceita um não como resposta nesse mesmo diálogo, reforçando a importância da identidade de cada um, “a partir daí têm de me dar respostas como pessoa, como humano, como cultura”. Quando lhe perguntamos sobre o intercâmbio cultural que o evento promove, não hesita em realçar o enriquecimento de cada um: “Uma cultura, quando encontra outra cultura, fica mais rica.” Marco Kabenda nasceu em Luanda em 1974, estudou artes plásticas em Angola e em Lisboa, e design gráfico na África do Sul, tendo um currículo marcado por exposições individuais e coletivas, por países como Portugal, Angola, Moçambique ou Venezuela e distinções, das quais se destaca a Menção Honrosa no Prémio Ensarte 2012.

“É uma honra representar o meu pais” / Dina Moniz

Angola é também o berço de Dila Moniz, autora dos quadros marcados por rostos femininos hipnotizantes “de personagens que fazem parte do meu imaginário” e da série “Mulheres”. Quando passa à apresentação, Dila Moniz, formada em pintura na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, responde: “Sou do Huambo.” E apesar de viver em Portugal desde a primeira infância, “parece que sentia o cheiro e a luz do meu país”, sentidos gerados pelos laços familiares, sobretudo dos pais, por isso, “é uma honra representar o meu pais” no VIII VERA World Fine Art Festival. Sobre a pintora, é de destacar as exposição coletiva no Vestigius, em 2013, e as individuais, no Palácio Foz e no TAAG, ambas em 2014, em Lisboa, bem como as obras espalhadas por Portugal, Inglaterra, Irlanda, Angola, Brasil, E.U.A. e Canadá.

África “simboliza, no fundo, o nascimento da humanidade” / Diogo Navarro

No roteiro deste périplo, que já vai longo, falámos com Diogo Navarro, um português nascido em Moçambique, vencedor do primeiro prémio “The Image of Russia”, pela Academia de Belas Artes da Rússia, em 2012 . Quis o destino que ficássemos por África, o ponto de partida da viagem do artista plástico, marcado pelas suas raízes anunciando, assim, “a procura de identidade através da nossa desconstrução e da interação com o ambiente” que, por sua vez, nos influencia e, “aí, criamos a nossa identidade e passamos a ter a capacidade de construir outra vez. Depois, podemos viajar de novo.” Este percurso é, como se subentende, composto por três quadros: um primeiro com uma caixa envidraçada criada para proteger um continente africano semelhante a uma paisagem lunar – “simboliza, no fundo, o nascimento da humanidade” – do resto do mundo, em torno da qual está inscrita uma mensagem; um segundo, onde o barco em decomposição deixa transparecer as “raízes e outros elementos da natureza”; e um terceiro, que evoca a construção do seu “eu” depois de encontrar a sua própria identidade.

Por aqui terminamos o nosso périplo, mas há muito para apreciar na Cordoaria Nacional, onde “os artistas estão a mostrar a alma deles, mas também as alma do país que representam”, afirma de Tair Salakhov, artista convidado e presidente do júri desta exposição coletiva, por ocasião da apresentação do VIII VERA World Fine Art Festival.

Quadro da autoria da artista plástica portuguesa Sandra Baía

Relembramos que o festival internacional de arte contemporânea, organizado pela Fundação World Without Borders e pela Fundação Pública de Apoio à Cultura e ao Desenvolvimento da Arte Contemporânea de Moscovo, presidida por Vera Kiseleva, também curadora deste evento, a par com Margarida Prieto, comissária de arte, mantém as portas abertas desde o passado dia 17 até 21 de setembro, das 10 às 22 horas, em Lisboa. •

VIII VERA World Fine Art Festival