Da ponta do lápis para o centro do Brasil, Brasília cativa e surpreende ao primeiro olhar.
Na genialidade de ângulos e curvas, as linhas de Oscar Niemeyer transformaram a capital do Brasil em Brasília. Brasil, em latim Brasilia. A cidade que nasceu sob o sol do cerrado, que emergiu da terra vermelha, dos traços precisos de um artista e da mescla de pessoas vindas de cada um dos cantos da imensidão de metros quadrados de extensão territorial deste país. Todos movidos pela coragem de habitar o que seria o centro do país.
A árida paisagem transformou-se em uma cidade minuciosamente calculada, no curto lapso de quatro anos, em obra conduzida pela veia desenvolvimentista de Juscelino Kubitscheck. A ideia de um avião: duas asas, um corpo, deu início ao que viria a se tornar uma verdadeira cidade, com alma e coração.
O clima seco foi amainado pela criação de um manancial que veio a ser nomeado Lago Paranoá, tornando habitável o que a primeira vista pareceu inóspito. O azul do céu a perder-se de vista no longínquo planalto evidencia a arquitetura rica em concreto, aço e vidro – e fruto de muitos cálculos – que encobre a cidade ao longo de seus “eixos”, “quadras” e “superquadras”.
A aridez do inverno seco vai dando gradualmente lugar ao verde exuberante que emerge da estação das chuvas no verão, devolvendo a exuberância aos jardins das casas no Lago e do mundo de embaixadas concentrados na cidade tombada como patrimônio da UNESCO em 1987.
A diversidade de crenças e de origens, etnias e religiões compuseram bonita harmonia entre os habitantes da Brasília de hoje. A catedral em seus mosaicos, repleta de simbologia em seu projeto, dá alento não apenas aos cristãos, mas a quem entrar e sentir sua paz. Redonda, moderna, inusitada, aos olhos curiosos revela-se um verdadeiro monumento, escoltada pelos doze apóstolos e resguardada por seu imponente campanário.
Brasília foi criada e passou sua infância sob os olhos de Kubitscheck e sob o lápis de Niemeyer. Cresceu, deu à luz um povo em seu seio, ao fruto da miscelânea cultural entre retirantes, sulistas, indígenas, enfim, brasileiros, que a formaram, acolheram e com ela cresceram.
Nos suntuosos palácios, Itamaraty, Planalto, Alvorada, a vida do país toma os contornos do poder. A cidade é hoje, tal como planejado, o centro do país, do governo, da jurisdição, da lei. Que o trinômio que sustenta a nação – povo, governo e território –, traduzido com excelência em Brasília pelo povo acolhedor, arquitetura ímpar e beleza natural singular sejam suficientemente fortes a afastar as mazelas inerentes ao cerne político, a elas sobrepondo-se. Afinal de contas, as flores do serrado, embora tenham espinhos, são belíssimas. •