Modernidades: Fotografia Brasileira (1940-1964) / Gulbenkian

José Medeiros. Thomaz Farkas. Marcel Gautherot. Hans Günter Flieg. Eis quatro grandes nomes que mostraram um novo olhar do “país irmão” durante o período entre a Segunda Guerra Mundial e o golpe militar de 1964. Cerca de uma centena de fotografias para ver, a partir de amanhã, dia 21 de fevereiro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Fotografia de José Medeiros / Rio de Janeiro, 1952 / Cortesia: Instituto Moreira Salles

Anos 1940’. O Brasil fervilha inspirado na vanguarda do modernismo da década de 1920’, na constante procura de uma nova identidade, com ciclos migratórios sequiosos de mudança num clima de agitação social, política e económica, refletida na arquitetura, tendo Brasília como exemplo, apesar das noções ambíguas da própria modernidade. Até 1964, ano em que o golpe militar fecha o país num invólucro dotado de conservadorismo e censura. É precisamente nesse período que surgem grandes nomes ligados à fotografia, como o brasileiro José Medeiros (1921-1990), o húngaro Thomaz Farkas (1924- 2011), o francês Marcel Gautherot (1910-1996) e o alemão Hans Günter Flieg (1923). De todos foi feita uma seleção de fotografias que compõem a exposição do programa Próximo Futuro intitulada “Modernidades: Fotografia Brasileira (1940-1964)”, que inaugura ao fim da tarde de hoje, na Galeria Exposições Temporárias, da sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e está aberta ao público amanhã, dia 21 de fevereiro.

Começamos o roteiro por José Medeiros que, de Teresina, Piauí, no nordeste brasileiro, vai para o Rio de Janeiro, onde aprende fotografia na redação da revista O Cruzeiro, para a qual fez a cobertura da “vida mundana e social carioca”, declara Samuel Titan Jr., curador do Instituto Moreira Salles, que detém o acervo dos quatro fotógrafos, e um dos comissários da exposição a par com António Pinto Ribeiro e Ludger Derenthal. A preto e branco, o fotojornalista regista o glamour dos anos 1950’ no Rio de Janeiro que, segundo Samuel Titan Jr. “não é apenas fotogénico, como quer ser fotogénico o tempo todo”. O trabalho de José Medeiros destaca-se, ainda, pela série de fotografias que retrata, em 1951, a cerimónia de candomblé protagonizada por três jovens brasileiras, na Baía, um ritual visto com um outro olhar, assim como pela expedição Roncador-Xingu, no interior do Brasil, em 1949, onde capta o olhar desafiador dos indígenas, dando cartas num “fotojornalismo que fica inquieto com os limites que a imprensa impõe”, afirma o curador Samuel Titan Jr.. Nos anos 1960’, José Medeiros passa para a fotografia de cinema.

Fotografia de Thomaz Farkas / São Paulo, 1945 / Cortesia: Instituto Moreira Salles

Passemos para Thomaz Farkas que, de Budapeste, na Hungria, vai com a família para o Rio de Janeiro e, aos 14, 15 anos inicia o seu percurso na fotografia definida como arte. Em grosso modo, o trabalho de Thomaz Farkas é dotado “pela influência de vanguarda europeia”, nas palavras do curador, no qual o jogo de “claro/escuro, concavo/convexo” é notável no seu conjunto, em paralelo com o perfil abstrato que demarca outra série de fotos em que “o jogo de padrões formais” implica um minucioso trabalho de laboratório. Por outro lado, as fotos captadas pela sua lente em Brasília, inaugurada a 21 de março de 1960, registam apenas a humanização do espaço ao invés dos icónicos edifícios desenhados pelo singular arquiteto Oscar Niemeyer. Nos anos 1960’ Thomaz Farkas “vira” cineasta.

Fotografia de Marcel Gautherot / Belém, Pará, ca. 1954 / Cortesia: Instituto Moreira Salles

Marcel Gautherot, um parisiense que não chega, porém, a concluir o curso de arquitetura, disciplina muito presente no seu trabalho em fotografia, inicia a jornada das viagens na Grécia, seguida pelo México e, depois, o Brasil pois gostava de conhecer novas culturas e onde chega em 1939, no âmbito de uma expedição à Amazónia, “onde é surpreendido pela notícia sobre a guerra na Europa”. Assim, estabeleceu-se, em 1940, no Rio de Janeiro, começando a sua incursão fotográfica pelo país que escolhera viver e da qual resultam mais de 30 mil imagens, dos quais se destacam o registo da geometria, bem como o enfoque na arquitetura moderna, em particular na obra de Oscar Niemeyer. “Brasília é o momento máximo de Gautherot”, comenta Samuel Titan Jr..

Fotografia de Hans Günter Flieg / São Paulo, ca. 1961 / Cortesia: Instituto Moreira Salles

Sobre Hans Günter Flieg, que sai de Berlim, onde aprendeu fotografia no Museu Judaico de Fotografia, antes do início da Segunda Grande Guerra rumo a São Paulo, no Brasil, a cidade convertida à indústria. Aqui, apresenta-se como um fotógrafo profissional, especializando-se em fotografia industrial para catálogos e brochuras, com um sentido de modernidade técnico, mas que, em simultâneo, são invadidas por “detalhes orgânicos, eróticos”, observa Samuel Titan Jr.. Os seus clientes eram, nada mais, nada menos, que líderes industriais de média dimensão de origem estrangeira e de grupos multinacionais. No início da década de 1970’, Hans Günter Flieg abandona a fotografia estando, neste momento, a ser preparada uma retrospetiva da sua obra em São Paulo.

Sobre esta exposição, que antes foi exibida no Museu da Fotografia de Berlim, tem a delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, como o próximo destino, onde estará patente entre 6 de maio e 26 de julho de 2015.

Entretanto, visite-a até 19 de abril, na Galeria Exposições Temporárias, na sede da Fundação Calouste Gulbenkian. Anote na agenda. •

+ Fundação Calouste Gulbenkian / Próximo Futuro
Legenda da imagem de entrada: Fotografias da autoria de José Medeiros