Uma vez por mês. Um domingo. Uma sonoridade. Um grupo. Uma casa. Uma vontade. Junte-se tudo, “shaken not stirred“. Sirva-se no n.º 10, da Avenida da República, em Lisboa. Saboreie-se boa música, na casa da Inês Magalhães, anfitriã (maga) das MagaSessions.
Mais um ano passou e é hora de fazer um balanço das sempre memoráveis MagaSessions, em modo de festa, comme il faut. Para tal, nada como começar os preparativos com uma conversa solta com a (Maga)Inês sobre o grande dia de celebração que se avizinha – próximo dia 5 de setembro – e ficar a conhecer a mentora deste projeto tão acarinhado, por artistas e público. Que se soltem as palavras, que se deslinde um pouco mais sobre o que acontece, entre quatro paredes, no n.º 10.
Falando na primeira pessoa, quem é a Inês Magalhães, que nos abre, todos os meses, a porta de sua casa ao domingo?
Tenho 30 anos, nasci em 1984, dia 03 de Setembro, às 11h20 da manhã, em Lisboa.
Dia 03 dir-te-ei: Parabéns!
Enquanto Inês, sou também designer gráfica e ilustradora, produtora e curadora. Descanso sempre que posso. Gostava, no entanto, de ir a mais eventos do que aqueles que na realidade vou, mas deve ser por os planetas estarem desalinhados.
Uma Inês de mão cheia, está visto.
Conhecendo a anfitriã, urge saber como nasce esta ideia. Estavas linda Inês posta em (desas)sossego num concerto, lotado de multidão e divagaste no sonho de “quero isto, na minha sala, para ouvir cada inspiração no dedilhar, no cantar…”
A ideia nasceu de forma mais urgente e necessária. Em 2012 foi quando se começou a sentir a crise em que estávamos a entrar e no mundo das artes de forma mais grave, por várias razões. Como te disse, trabalho, também, como designer gráfica freelancer e estava complicado fazer programas fora de casa. Sair, para ir ver concertos ou qualquer evento cultural, não era possível, não havia dinheiro para sair de casa, pagar entradas.
Transversal a tantos…
Os Coreto nunca tinham dado um concerto, porque a maioria dos músicos tem pouco à vontade para agendar e produzir concertos, e pareceu-me que era um projeto maravilhoso que deveria ser ouvido. Como continua a acontecer, a cada concerto que proponho, organizei, na altura com o meu irmão, a primeira MagaSession. Durante os dois primeiros anos cada um dava o que queria e podia, sem constrangimentos. Assim começou um espaço onde todos podíamos ir ver concertos.
Tens registos dos concertos?
Todos os concertos, desde do inicio, foram gravados, filmados e fotografados, o que também dava aos artistas a possibilidade de ficarem com um registo seu, com qualidade, ajudando-os na sua própria promoção, principalmente, músicos que estão a dar os seus primeiros concertos. Começou, assim, o arquivo MAGA, que podem ver e ouvir na plataforma Vimeo das MagaSessions.
Achas que hoje, num mundo de “massas”, há uma maior procura por isto que nos ofereces? Há um desejo por algo mais à escala do nosso ser, mais vivido e sentido?
Precisamente. Estamos todos tão despersonalizados uns dos outros que a oferta acaba por ser um bolo que se espera que agrade a todos… O que, obviamente, não acontece e por isso aparecem projetos como as MagaSessions que, em três anos, cresceram e ganharam o seu próprio espaço. Isso só é possível porque havia essa necessidade de diferenciação.
E esta casa… Porquê aqui, que história tem ela que nos possas contar?
Esta é a minha casa de família, os meus bisavós viveram aqui e mais tarde os meus pais compraram a casa.
Nasci aqui e é onde estou até hoje, com uns anos fora, mas continuando sempre aqui. Os meus pais faleceram há uns anos e a casa acabou por ficar para mim e para o meu irmão, e como tem bastante espaço e hábito dos muitos encontros e serões musicais por aqui, as MagaSessions podemos dizer que é um abrir de portas a esses momentos.
Qual o ano preciso de arranque e quem foram os primeiros? Houve, nessa sessão, algo que te deu alento para continuar, algum click “vai dar certo”?
As MagaSessions começaram em 2012, e os primeiros concertos foram Coreto (Simão Palmeirim e João Marques) e Minta & The Brook Trout (Mariana Ricardo e Francisca Cortesão).
Não houve um click do vai dar certo porque não havia nenhuma meta, mas no fim do primeiro concerto e do segundo e do terceiro, a sensação era muito boa, tanto para os músicos como para o público. Havia a necessidade das sessões continuarem.
Qual a receita para cativares todos à tua casa? Haverá ingrediente secreto?
Não há ingredientes secretos. Há a vontade de partilhar com os outros o bem que se tem e, com muito trabalho, fazer com que seja um projeto sincero e com qualidade. Quando digo trabalho é trabalho mesmo, no primeiro ano e meio o meu irmão e eu estávamos juntos neste projecto. Ele gravava o áudio, eu fazia a programação dos artistas, toda a divulgação e design (gráfico e web). O vídeo é o Gonçalo Soares, grande mestre.
Não tenho dúvida alguma da carga de trabalhos que é cada MagaSessions. Entretanto, o teu irmão sai…
Quando o meu irmão saiu do projecto foi complicado. Estava habituada ao meu comparsa nestas andanças e não tinha, nem de perto nem de longe, a experiência dele. Mas fui muito bem ensinada e desde há dois anos que estou a fazer de tudo, e a verdade é que não há nada melhor que aprendermos por nós. Por isso, e pegando na tua pergunta, se houvesse ingrediente seria a dedicação, mas parece-me que isso se aplica a tudo e a todos nós, não tem nada de secreto.
Subscrevo. A receita para o sucesso tem de passar sempre pelo trabalho, dedicado.
“Estamos todos tão despersonalizados uns dos outros (…) por isso aparecem projetos como as MagaSessions que, em três anos, cresceram e ganharam o seu próprio espaço. Isso só é possível porque havia essa necessidade de diferenciação.“
Falando da evolução do público. Tudo começou só para amigos teus, ou não?
De forma natural as MagaSesisons foram crescendo e como nunca se fecharam as portas a ninguém, deixou de ser só de amigos para amigos para ser para quem quisesse participar.
Soube, por portas travessas que não as de tua casa, o que depois foi público. Num ido concerto de uns estimados Birds are Indie, o teu irmão soltou o Nureyev que há dentro dele e dançou e até tocou. Algum detalhe a acrescentar ao teu irmão e a este momento singular?
Esse concerto foi bastante especial. A Joana, o Jerónimo e o Henrique fizeram, também, com que assim fosse.
O meu irmão, entre os amigos, é chamado de “Leão da Pista”, porque apesar de não ter experiência como dançarino é uma pessoa muito espontânea que naturalmente se consegue libertar na dança e oferecer-nos momentos maravilhosos e altruístas. Foi o que aconteceu no concerto dos Birds e que ficará gravado na memória de quem cá esteve. Também o podemos ver no videoclip de They’re Heading West com a música “Falcon”.
Quando se está num modo tão intimista como aquele que nos oferecem aqui, nesta casa tão Maga, são inevitáveis momentos assim?
Momentos como esses e outros que acontecem, muitas vezes, após os concertos, onde tocamos todos em conjunto pela casa. Tenho, na memória, o serão aqui por casa com os Birds, que acabaram por dormir cá, e por isso também houve a oportunidade de isso acontecer.
Qual é a tua ideia de uma MagaSession mais que perfeita?
Que as pessoas tenham uma experiência que as transtorne e altere da melhor forma possível.
E, se houver, qual é o motto destes concertos?
A intenção é reunir um conjunto de artistas que são um marco na música e que efectivamente nos podem trazer algo de novo. Com a sua arte nos conseguem transformar e alterar, levando a que cada elemento do público parta numa viagem da qual só tem consciência quando chega ao fim. Nesse momento, apercebe-se que acabou de assistir a algo novo e genial.
Maga é de magia ou do teu nome?
Maga vem de Magalhães, o meu apelido, que é a minha assinatura como designer e ilustradora, mas que na altura foi escolhido em 10 minutos entre amigos.
“A intenção é reunir um conjunto de artistas (…) levando a que cada elemento do público parta numa viagem da qual só tem consciência quando chega ao fim. Nesse momento, apercebe-se que acabou de assistir a algo novo e genial.”
Por quem darias um pedaço de casa, talvez uma farpa de aduela, para teres aqui a tocar, nesta casa tão mágica?
Gostaria muito de ter, entre outros, a Silvia Perez Cruz, mas vamos ver… Pode ser que aconteça.
Qual é a qualidade que mais aprecias num músico e o que o faz ser acicatado a vir tocar a tua casa? Deduzo que não convides ou acates sugestões sem mais nem menos.
Regra número 1: Tem de ser bom rapaz ou rapariga.
Excelente para primeira regra.
O critério e/ou a linha musical que sigo é tentar reunir músicos que marcam uma era na música portuguesa, mais do que um género musical, até porque a programação é bastante eclética. Há a necessidade de proporcionar uma experiência a quem vai ao MAGAFEST ou às MagaSessions.
Numa altura em que já te tornaste, inevitavelmente, referência para tantos músicos e palco desejado, convidas mais ou és mais contactada para ser anfitriã de uma banda?
À medida que o projecto cresce, cada vez recebo mais propostas, que sempre oiço e respondo, mas a maioria dos concertos que acontecem pelas Maga continuam a ser propostas minhas. Até porque, com apenas um concerto por mês, às vezes dois, dá para programar com calma e ter muitos nomes na calha, para convidar.
Aqui, o internacional tem também o seu lugar, mas a primazia é o som nacional, certo?
Sim, claramente. As MagaSessions tiveram já músicos internacionais, e continuará a haver lugar se projectos interessantes baterem à porta, mas o MAGAFEST, pelo menos, por agora, continua com projectos nacionais.
Agora, finalmente, o motivo pelo qual nos “sentamos” a conversar, hoje. A Casa Independente é uma segunda casa da tua casa. É onde juntas para os teus amigos para a festa de anos. Porquê? Que tem para ti a tão afamada Casa Independente para celebrares lá, de novo, a tua festa Maga?
As MagaSessions saem do Saldanha um dia por ano por razões óbvias de espaço. O convite à Casa Independente aconteceu porque gosto de ver o MAGAFEST como um dia de celebração à música e se ficássemos pelo Saldanha apenas 70/80 pessoas poderiam ir. Acolheu a primeira edição e vai acolher a segunda. Não só pelo espaço, mas também pela linha musical que seguem. A Inês Valdez e a Patrícia Craveiro são duas pessoas que partilham a mesma visão que eu e apoiaram, desde o primeiro momento, fazendo de tudo para que este dia acontecesse.
A intenção não é ligar o MAGAFEST à Casa Independente. O festival está a crescer e pode ser que para o ano aconteça noutro espaço, igualmente livre como a Casa Independente.
O importante é existir MagaSessions e MagaFest, sem dúvida, e que seja sempre num espaço que leia bem o teu ser musical independente.
No próximo sábado, dia 5 de setembro das 18h00 às 02h00, não deixe de ir à Casa Independente e ser parte da MAGAFEST 2015. No alinhamento: Carlos Bica & Norberto Lobo, Filho da Mãe, Lula Pena, Silence Is a Boy, Minta & The Brook Trout, Garcia da Selva, Simão e Jibóia. Quanto às MagaSessions… vamos falando, que elas vieram para ficar. •
+ MagaSessions
+ Arquivo MAGA – Vimeo .
© Fotografia de destaque: Vera Marmelo .
Partilhe com os seus amigos: