Calcorrear os caminhos traçados no chão do frondoso parque que tem liberdade no seu nome é um bom pretexto para abrir portas ao onírico, à imaginação. Num palco feito de representações de Sintra através de palavras escritas por escritores e aclamadores de tão poética vila, e interpretadas por quem dá vida a sete personagens que a personificam.
A chegada da princesa da “Lenda de Colares”
Sete atores dão corpo a sete histórias em sete lugares distintos da poética vila retratados no Parque da Liberdade, o ponto de partida do Teatro TapaFuros que, por ocasião dos seus 25 anos, convida a percorrer e (re)descobrir o berço do Monte da Lua em sete atos. Assim é “Almoinhas – caminhos sentidos”, uma experiência teatral, musical e poética, com encenação de Rui Mário e música original de Pedro Hilário, composta por um conjunto de performances interativas que, ora à noite, ora ao fim do dia, dão a conhecer o quão enigmática Sintra o é. Comecemos.
Otorov e “A casa amarela”
Primeiro ato. “A casa amarela”, do dramaturgo português Jaime Rocha. Ortov, um homem desassossegado, procura conhecer a direção dos ventos, lançando o papagaio da varanda da casa amarela, a sua, com uma persistência infinita, mas tudo se transforma e nada parece funcionar. E, com o tempo, o seu corpo transfigura-se até ao limite do desassossego.
Segundo ato. “Magna mater”, do historiador e escritor sintrense João Rodil, é a Granda Mãe, a montanha em forma de mulher associada às fases da lua, que muda de acordo com o ciclo concecido pela natureza, o ciclo da vida, que se metamorfoseia na enigmática serra de Sintra.
Depois de uma Sintra de loucos e da mãe natureza, passamos para o terceiro ato, o da “Lenda de Colares”, escrito pela dupla da dramaturgia protagonizada por Filomena Oliveira e Miguel Real. Aqui é retratada a estória de uma princesa oriunda da terra dos extermínios e dos teutões, que pede guarida ao rei mouro, dono das férteis e pródigas várzeas de Colares em troca de três valiosos colares ocultados do olhar dos pérfidos inimigos que mataram seu marido. Perante tão preciosa proposta, o rei cede tais paragens que, desde então, se chamam de Colares.
A “Nova Cidade”, que nos leva de volta às origens
Sob as copas frondosas da majestosa árvore estão ruas e ruelas e caminhos, e casas e prédios, e seres, duas mãos cheias de imaginação que nos leva à “Nova cidade”. O texto é de Hélia Correia, a escritora que já foi professora no ensino secundário, que relembra quão importante é o que a terra nos dá, a água que corre na fonte, o pão cuja massa amassamos com as mãos, a sombra que a árvore nos proporciona, uma árvore que é a prenda da serra, a de Sintra, tão admirada pela autora deste acto, que nos faz pensar que conseguimos produzir o necessário sem dependermos da parafernália das fábricas.
Quinto ato. Chegamos ao “Sacrifício”, do poeta, tradutor e crítico literário Jorge Telles de Menezes, que faz reviver Selene, a lua, que se apaixona por Endemião, um ser humano por natureza, sentimento que custa à deusa de Sintra o tornar-se mulher e, assim, entregar-se ao sacrifício suportado todos os dias, num brilho constante, intenso, misterioso.
O Joaquim das Queijadas em “A memória é uma rosa aberta”
Sexto ato: “A memória é uma rosa aberta”. O título é de um texto escrito por Maria Almira Medina, escritora, professora e jornalista sintrense, que evoca as memórias de uma Sintra dos anos 1930’, época em que Joaquim das Queijadas, um sem abrigo conhecido por cuidar dos gatos vadios da Estfânia, em Sintra onde, ainda hoje, se ecnontra sedeado o Jornal de Sintra fundado por António Medina Júnior, pai da autora deste sexto ato.
O turista francês de “Vazios”
Passemos ao último ato intitulado “Vazios”, no qual a escritora Filomena Marona Beja evoca a Sintra dos turistas num dia de verão de 2015. Tudo acontece na estação ferroviária da vila, onde cartazes anunciam os lugares e os monumentos habituais acicatam a curiosidade de estrangeiros. Em cena, e à vez, um francês e um inglês procuram conhecer Sintra em poucas horas, mas há tanto para ver e outro tanto que ficou por descobrir… E eis que o comboio parte, deixando para trás o turista francês, que decide descobrir Sintra com os seus pés e outros olhos.
A peça “Almoinhas – caminhos sentidos”, do Teatro TapaFuros, com excelentes interpretações que convidam a viver de perto cada passo, cada gesto, está aberta a todos, de dentro e fora de portas – pois há a possibilidade de ser traduzida em inglês –, às sextas e sábados, às 21.30 horas, e aos domingos, às 18 horas, até ao próximo dia 20 de setembro, numa sala de teatro especial, o Parque da Liberdade, em Sintra. O valor do bilhete é que 10 euros (serão ponderados descontos a aplicar a parceiros, patrocinadores, programas promocionais).
Sobre o grupo de Teatro Tapafuros, fundado em 1990, é conhecido pelo seu trabalho no âmbito do panorama cultural contemporâneo, com espetáculo de rua, a fim de impulsionar a interação do público, com provas dadas no terreiro em frente ao Palácio Nacional de Sintra, na Quinta da Regaleira, na Casa Mantero e no Parque da Liberdade, em Sintra.
Marque na agenda, pois vale bem a pena assistir. A propósito, há quanto tempo não vai a Sintra? •
+ Teatro TapaFuros
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