O Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, recebe a peça “Rule of Thirds”, assinada e interpretada por António Cabrita e São Castro. A dupla criativa de coreógrafos e bailarinos construiu este espetáculo a partir da obra fotográfica de Henri Cartier-Bresson, pai do fotojornalismo e uma referência na fotografia.
A partir da imagem parada, António Cabrita e São Castro (a quem se juntam mais dois bailarinos em palco) desenham uma belíssima coreografia. O fascinante nesta abordagem criativa, a partir de um trabalho fotográfico, não é somente o confronto com o ato de criar a partir de uma imagem, mas também toda a dramaturgia que se desenrola em torno desse corte temporal incapaz de anular por completo a sugestão de movimento. O corpo em pausa. Um foco sobre a beleza formal de um momento, o seu conteúdo expressivo, o acaso objetivo, a compreensão através do olhar. A poética ambígua do visível onde o detalhe do gesto se encontra e é intrínseco ao ato de nos movermos, numa linguagem própria, que nos fala sem uso da palavra.

© Carlos Pereira
A peça, cujo título é uma expressão que se refere a uma regra a aplicar na fotografia, é um exemplo sublime de como todas as formas de arte se influenciam entre si. Quase em antagonismo, uma peça de dança que brota da imagem estática. Como, a partir daí, nasce a inspiração para criar movimento. “Rule of Thirds” é uma obra densa e complexa, com uma certa aura de mistério, que nos surge sempre a preto e branco precisamente numa alusão ao estilo fotográfico do génio de Bresson.

© Susana Pereira
Em “Rule of Thirds” o processo é como uma fotografia bem enquadrada. Sensibilidade, intuição e sentido de geometria. O domínio do tempo e o controlo do espaço num olhar sobre a vida. O enquadramento natural do instinto humano numa coleção de instantes captados por Henri Cartier-Bresson e utilizados como mote coreográfico. O lado mais humano e real do sujeito captado de forma excecionalmente natural e exímia. O palco como enquadramento do corpo em tempo real.

© Carlos Pereira
Uma obra meticulosa, que revela até preciosismo por parte dos dois criadores (que a eles chamam mais dois excelentes bailarinos) para em palco se enquadrarem como que numa fotografia, entre solos, duetos e quartetos para um resultado final que também exige da plateia entrega e imaginação.
No próximo sábado, dia 26 de novembro, pelas 22h00, o espetáculo é obrigatório, especialmente, para amantes da fotografia e da dança… A não perder. •