Inspirado na atmosfera dos saraus promovidos no Palácio da Pena pelo Rei-artista D. Fernando II, o ciclo “Serões Musicais no Palácio da Pena” apresenta quatro concertos imperdíveis, que vai querer colocar na sua agenda.
O Salão Nobre do Palácio será, tal como no tempo em que D. Fernando II (1816-1885) ali viveu, o superlativo palco escolhido para estes eventos, preenchidos com música de câmara, para piano solo e repertório de canto do período Romântico (século XIX), tal como era predileção do monarca e da sua segunda mulher, a condessa d’Edla, que naquele espaço regularmente recebiam numerosos artistas e intelectuais.
No alinhamento destes concertos ímpares terá Vasco Dantas, bem reconhecido e muito premiado jovem pianista português; a excelente soprano canadiana Siphiwe McKenzie, que assim marca a sua estreia em Portugal; a consagrada violoncelista Irene Lima ou o barítono alemão Christian Hilz. Estes são apenas alguns dos nomes em destaque na 3.ª edição destes serões.

© Salão Nobre, DR
Todavia, nem só de música se fará esta edição dos “Serões Musicais na Pena”. Recriando o ecletismo cultural de D. Fernando II, será dado espaço a outras artes, como a literatura e as artes plásticas. A primeira estará presente sobretudo no último concerto, no dia 25 de março, quer através de poemas cantados, quer ainda pela leitura de excertos do romance cavaleiresco da bela princesa Magalona, da autoria do romântico alemão Ludwig Tieck; mas também se fará sentir no concerto de abertura, dia 04 de março, no qual se ouvirão, e.g., as três peças que Franz Liszt escreveu para piano solo, inspiradas em sonetos extraídos das “Rimas” de Petrarca.
Nas artes plásticas, estas irão intersetar os concertos de dias 11 e 18 de março. Primeiro, por meio da figura multifacetada de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), cujo irmão, o pintor Columbano teve em D. Fernando II e na condessa d’Edla importantes mecenas. Depois, pela não menos diversa personalidade artística de Alfredo Keil (1850-1907), compositor de inegáveis méritos, mas também pintor e poeta, que partilhava com D. Fernando II o sangue germânico. Por tudo isto, o presente ciclo, mais que momentos musicais de excelência, promete vivências culturais de grande riqueza e torna-se absolutamente imperdível se andar por Sintra, em março.
Eis a programação detalhada:
04/03 – “As peregrinações musicais de Franz Liszt”; Vasco Dantas (piano).
Aos 24 anos, Vasco Dantas é já uma certeza da próxima geração de pianistas portugueses. Para este recital, escolheu apenas um compositor: Franz Liszt (1811-86), o qual, não esqueçamos, tocou em Lisboa para D. Maria II e D. Fernando aquando da sua visita a Portugal, em 1845. Os ‘Sonetos de Petrarca’ e transcrições de Liszt de obras de outros compositores contam-se entre as obras que Vasco Dantas irá interpretar.
11/03* – “Bordalo Pinheiro: um mosaico da vida musical de Lisboa”; Ana Franco (soprano), Cátia Moreso (meio-soprano), João Cipriano Martins (tenor), Nuno Dias (baixo), Pedro Meireles (violino), João Paulo Santos (piano).
Através da música e da projeção de vários exemplos da obra gráfica de Rafael Bordalo Pinheiro (ilustração/caricatura) pretende-se transmitir um pouco do que era o universo político-social da Lisboa da ‘Belle Époque’, tendo por epicentro o Teatro de São Carlos. Para fornecer esse retrato sonoro, teremos um conjunto de cantores que são presença habitual no palco do São Carlos e o violinista Pedro Meireles, acompanhados por João Paulo Santos.
18/03* – “Alfredo Keil: da pintura à música”; Siphiwe McKenzie (soprano), Marco Alves dos Santos (tenor), Irene Lima (violoncelo), João Paulo Santos (piano).
A figura poliédrica de artista de Alfredo Keil – compositor do Hino Nacional e da primeira ópera de temática portuguesa cantada em português, mas também pintor, fotógrafo e poeta – serve de mote a este concerto que abordará a variedade da sua produção musical, desde a pequena peça para piano até árias das suas óperas.
25/03 – “Johannes Brahms: A Bela Magelone”; Christian Hilz (barítono), Tatiana Korsunskaya (piano), Lígia Roque (narração).
O último concerto será dedicado à história da princesa Magalona e do conde Pedro da Provença, tal como tratada por Ludwig Tieck, um dos impulsionadores do Romantismo alemão, qua a publicou aos 24 anos. Excertos do romance serão lidos em tradução portuguesa pela atriz Lígia Roque, entre cada uma das 15 canções que Johannes Brahms (1833-97) compôs a partir da ‘Bela Magelone’ de Tieck, cuja interpretação estará a cargo de Christian Hilz, um reconhecido especialista no repertório de ‘Lied’.
* Os concertos de dias 11 e 18 terão breves intervenções orais pela musicóloga Luísa Cymbron e pelo pianista João Paulo Santos.
O ciclo Serões Musicais no Palácio da Pena é uma iniciativa conjunta da Parques de Sintra e do Centro de Estudos Musicais Setecentistas em Portugal (CEMSP), tendo por diretor artístico o maestro e violetista Massimo Mazzeo. Os Serões Musicais integram a Temporada de Música Erudita da Parques de Sintra, que tem início, anualmente, em outubro, com o ciclo “Noites de Queluz – Tempestade e Galanterie”, e termina em junho, com os “Reencontros – Memórias musicais no Palácio de Sintra”. Todos os concertos realizar-se-ão aos sábados à noite, pelas 21h00.
É a ir. É a não perder, em Sintra. •