A partilha entre culturas faz-se com design português / Mèzë

Cozinhar momentos felizes, servir uma mesa rodeada de familiares e de amigos e armazenar boas recordações são os princípios da trilogia baseada na inspiração mediterrânica de José Grilo e o traço minimalista de Pedro Sottomayor.

José Grilo, director-geral da Grilo Kitchenware, e o designer de produto, Pedro Sottomayor

“A marca é de José Grilo”, começa por dizer o designer industrial portuense e director criativo da marca Pedro Sottomayor acerca da Mèzë, referindo-se ao director-geral da quase centenária fábrica de louça metálica Grilo Kitchenware, em Serzedo, Vila Nova de Gaia, que veste as cozinhas desde 1929, com quem trabalhou há cerca de 17 anos, quando ambos criaram a minimalanimal, composto por peças em cerâmica que reuniu arquitectos, como Álvaro Siza Vieira ou Eduardo Sotto Moura, e designers, como Francisco Providência, Miguel Vieira Baptista ou Marco Sousa Santos. Desde então, permaneceu a vontade de voltarem a trabalhar em conjunto, por isso, bastou um telefonema de José Grilo para que Pedro Sottomayor começasse a dar corda à imaginação e ocupasse a função de director criativo do novo projecto.

“Como a marca Made in Portugal não vendia muito na fábrica, era urgente chegar a outros mercados que não apenas o português, mas também os do Mediterrâneo, onde a tradição está muito ligada à mesa, como o italiano, o espanhol, o francês, um mercado multicultural”, razão pela qual “só faria sentido criar um produto que nos fosse diferenciado pelo desenho, pela forma, pelos materiais”, explica o director-geral da Grilo Kitchenware e também um dos sócios da Mèzë. Surge assim a ideia de transformar o imenso Mediterrâneo numa figura de estilo convertida em criação, partilha, convívio.

Mas, afinal, o que significa Mèzë? Pedro Sottomayor explica: “Mèzë significa, em português, a ‘entrada’ numa refeição. É assim que se diz ‘entrada’ em países como a Grécia, a Turquia, os países árabes.” Quanto à fonética do vocábulo, Mèzë “faz-nos lembrar mesa”.

O passo seguinte foi explorar o tema e desenvolver o projecto criado em solo português para difundir além fronteiras. “Houve um raciocínio diferente em relação a esta marca nova, feita a pensar para os países nórdicos. Por isso, agarrámos no convívio, na partilha, porque convivem muito dentro de casa”, revela o director criativo da Mèzë para, de seguida, nomear os materiais utilizados na feitura das peças – “a cortiça, a madeira, a ardósia, o ferro fundido. Mais tarde foram as pedras, como o mármore. E todas acabam naturalmente, com o latão, o cobre. De Portugal são a cortiça, a ardósia e, futuramente, os tecidos, porque nestas três indústrias somos muito bons. Já a madeira, por exemplo, vem da Turquia.”

A origem dos materiais é, portanto, o Mediterrâneo.

Da versatilidade ao detalhe

De todos os produtos, as panelas em ferro fundido entram, segundo José Grilo “no segmento premium que se distingue pela forma” e, numa análise mais esmiuçada, chegamos à origem de cada peça através das palavras do director criativo da Mèzë: “A tagine é de Marrocos, a caçarola é de França e do sul de Portugal, a paelheira é de Espanha e, deste modo, integram as várias culturas desta área da Terra.” O director-geral da Grilo Kitchenware acrescenta: “As tampas são em aço, por ser mais leve, e esmaltado, para fazer a diferença em relação aos outros produtos que também fazemos em ferro fundido.” E é das tampas que exalta um subtil e curioso detalhe: a pega em cortiça está munida de um íman com o propósito de ser retirada ou disposta no devido lugar consoante o uso que lhe é dado. O resultado submeteu toda a equipa à prova e é, de longe, a inovadora solução que levou ao registo da patente feita em nome da Mèzë.

Assim, a aprazível agitação em redor da bancada de cozinha é conquistada pelo cariz utilitário e, em simultâneo, versátil das panelas, caçarolas e tagines, a trilogia que está ao serviço de quem aprecia o acto de cozinhar. Com efeito, a base da tagine transforma-se num tabuleiro a levar ao forno e a tampa pode servir de taça. O mesmo conceito de mutação é concedido à cocote, ou caçarola, pois pode servir de paelheira, enquanto se transforma, por exemplo, numa taça onde os convivas dispõem as cascas dos bivalves.

Ao longo do desfile de iguarias confeccionadas com mui merecida dedicação, as peças denotam, por conseguinte, a funcionalidade que lhes é conferida, e complementadas com taças servidas em bandejas, além das tábuas de madeira, que tanto servem para cortar, como para levar os enchidos e os queijos para a mesa, ora para iniciar, ora para terminar o repasto, enquanto as de ardósia são concebidas com o propósito de servir, e as de cortiça servem de base para as peças que levam a comida quente para a mesa. Ainda na cozinha, e para que tudo fique organizado a preceito, os ingredientes secos são armazenados nos contentores cilíndrico em aço inox, cobre ou latão e com tampa feita a partir de cortiça, disponíveis em variados tamanhos.

Eis a lista dos produtos que compõem a Mèzë, marca portuguesa que chegou ao mercado em Setembro de 2016, tendo como primeiros pontos de venda as badaladas Galerias LaFayette, em Paris, assim como a César Castro, em Portugal. O objectivo: Cozinhar, servir, armazenar.

Identidade além fronteiras

A José Grilo e Pedro Sottomayor juntou-se Daniela Cidade, designer de comunicação portuense do atelier Cunha Leão, da Invicta, para dar azo ao logótipo da Mèzë, o qual “tem inspiração na cultura mediterrânea e nas suas tradições. As cores em que este é representado foram seleccionadas de elementos presentes nos países que circundam o mediterrâneo: Bronze, grafite, biscoito.”

Além da imagem gráfica da Mèzë, Daniela Cidade desenhou as embalagens com base no respeito pelo ambiente, ou seja, “procuramos uma solução sustentável, com pouco desperdício”. Deste modo, foram desenvolvidas embalagens mais resistentes para as peças mais pesadas, “as panelas e as tábuas de ardósia, uma solução que permitisse outra utilização após cumprir a sua função de acondicionamento”, explica a designer de comunicação. Por conseguinte, as embalagens de madeira, inspiradas nas caixas de vinho, “poderão servir para guardar especiarias, por exemplo”.

A passagem por feiras fora de portas, como a Maison & Object, em Paris, e a Ambiente Fair, em Frankfurt, na Alemanha, contribuem para a internacionalização da marca que, neste momento, já possui uma lista de países que ficaram rendidos, pois para além da Escandinávia, consta a Suíça, o Reino Unido, a China, os EUA, o Canadá, o Líbano, Israel.

Porém, a Mèzë não ficará por aqui. À pergunta sobre o que será feito para continuar a marca portuguesa, Pedro Sottomayo foi peremptório: “Ficaremos a esperar pelas sugestões que, no início do próximo ano, serão apresentadas, com novos materiais e novas culturas, para que haja uma verdadeira partilha entre culturas.”

+ Mèzë
© Fotografia: D.R. / Gentilmente cedidas pela Mèzë

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