Neste período de Páscoa, guardemos um pouco do nosso tempo, de pausa ou férias, para viajar na história da arte com “Tesouros Partilhados: Pintar com Fogo”, no Museu Nacional Machado de Castro (MNMC), em Coimbra.
A exposição “Tesouros Partilhados: Pintar com fogo” apresenta a coleção de Cenas da Paixão de Cristo nos Esmaltes de Santa Cruz. Produzida no período considerado de ouro da vida do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, desconhecem-se a data e as circunstâncias em que aí terá chegado esta série de placas esmaltadas, sabendo-se apenas que em 1752 adornavam o chamado ‘trono das relíquias’, na capela ou casa das relíquias do Santuário.
O conjunto entrou em 1834 nas coleções do Estado, na sequência do processo de extinção das ordens religiosas. Foi então integrado no Museu Portuense, hoje Museu Nacional de Soares dos Reis. Esse percurso, pontualmente documentado, mas invulgarmente linear, faz desta série de placas um conjunto de referência de âmbito internacional. As vinte e seis placas de esmalte pintado sobre cobre, de qualidade verdadeiramente excepcional, foram produzidas numa oficina anónima de Limoges, na segunda metade do século XVI.
As mesma, deverão ter constituído originalmente um retábulo ou frontal de altar, representando cenas do Ciclo da Paixão de Cristo, inspiradas na série de gravuras designada ‘Pequena Paixão’, da autoria do mestre Albrecht Dürer, publicada pela primeira vez em 1511.
Esta série de esmaltes é única em Portugal e, até à data, a mais numerosa de entre as suas congéneres europeias conhecidas, produzidas na mesma oficina (segue-se-lhe a série de vinte e quatro placas pertencente à Wallace Collection, em Londres). Caracteriza a produção desta oficina a qualidade do desenho, a exuberância na aplicação do ouro e a elegância dos padrões na decoração dos tecidos e revestimento das superfícies, substituindo e recriando as superfícies lisas ou tracejadas da gravura.
Mas as mais significativas alterações à gravura de origem são a introdução de detalhes ao gosto renascentista: toucados, chapéus, pormenores de peças de vestuário e simulação de baixos-relevos figurados nos alçados das peças de mobiliário, que conferem a estas placas de esmalte pintado um sentido de atualização e uma diferente atmosfera relativamente às gravuras em que se inspiram.
A mobilidade das coleções é uma prática atualmente consagrada que ajuda a aproximar cultura e cidadãos, e a avaliar a dimensão do património museológico. ‘Tesouros Partilhados” inscreve-se nesse conceito, unindo museus nacionais, com interesses comuns, num projeto de divulgação de objetos de qualidade excecional, com particular significado para a instituição e a cidade que os acolhem.
Assinalando o tempo litúrgico da Páscoa, a apresentação deste conjunto de vinte e seis placas em esmalte com Cenas da Paixão de Cristo, que pertenceram ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ilustra da melhor forma esse objetivo de partilha, agora com o Museu Nacional de Soares dos Reis.
A exposição “Tesouros Partilhados: Pintar com fogo” com Cenas da Paixão de Cristo nos Esmaltes de Santa Cruz, tem inauguração marcada para esta quinta-feira, dia 06 de abril pelas 18h00 e estará patente até 06 de junho 2017.
Abrace a arte de excelência, descubra o nosso património, viaje na nossa história e visite os nossos museus. Em Coimbra, não deixe de passar no MNMC para viver peças únicas, de valor imensurável da coleção de placas esmaltadas de qualidade superlativa. •