Em concerto(s): Les Fillles de Illighadad

O projecto da guitarrista Fatou Seidi Ghali que, ao vivo, conta com a cantora Alamnou Akrouni e uma executante de tende (tambor feito de uma caixa de barro sobre a qual se estica uma pele de cabra), tem estreia marcada para Portugal, nesta semana.

O trio tuareg apresentar-se-á em Lisboa, no Porto, em Mértola e em Tavira. Quatro oportunidades de ouvir estas sonoridades. Uma ocasião especial para as Les Fillles de Illighadad que pouco conhecem do mundo fora da sua aldeia, Illighadad, perdida no centro do deserto do Niger. Esta será, aliás, a segunda digressão pela Europa, depois de uma auspiciosa estreia no festival Le Guess Who, em finais do ano passado. Música genuína, feita das suas raízes.

A estas raparigas de Illighadad atribui-se o início de uma verdadeira revolução: Fatou Seidi Ghali é uma das duas mulheres que sabem tocar guitarra em todo o Niger. Nesta conservadora sociedade tuareg, as mulheres tiveram sempre um papel na música, embora a guitarra seja, por tradição, tocada apenas por homens. Fatou descobriu uma velha guitarra acústica em casa há meia dúzia de anos, lá deixada por um irmão mais velho, e aprendeu sozinha a correr com os dedos nas cordas da guitarra, conquistando o respeito e o orgulho da sua pequena comunidade. Quando pega na guitarra e toca, Fatou vê-se imediatamente rodeada pelos habitantes da sua aldeia e é normalmente acompanhada por outras mulheres, que cantam e batem palmas de uma forma ritmada, sublinhando o carácter comunal da sua música. É natural que assim seja: o tende, que além de um instrumento é igualmente um género musical, tem uma função social e normalmente acompanha rituais de cura, festivais de camelos, mostras de dança e outras ocasiões especiais. Acrescentamos que é música com alma.

Para Fatou Seidi Ghali, no entanto, o tende é apenas um ponto de partida para a sua visão singular da música, que coloca a linguagem da guitarra no centro das suas peças ligando-se assim a uma outra tradição tuareg internacionalmente representada pelos Tinariwen. Para Christopher Kirkley, o patrão da etiqueta Sahel Sounds que muito tem feito para divulgar a música da região do Niger, o híbrido de tende e guitarra criado por Les Fillles de Illighadad pode ser mesmo o início de uma nova linguagem: “Elas estão a explorar uma nova direcção, adaptando velhas canções tende a um reportório de guitarra, o que me parece ser verdadeiramente revolucionário para a música tuareg”, garante o editor que, conclui: “Penso que elas estão á beira de criar algo de novo e verdadeiramente excitante”. E ainda adicionamos que é música que nos aproxima.

Para acompanhar a presente digressão, a Sahel Sounds editou em vinil e digitalmente, através do Bandcamp, um EP onde a hipnótica arte destas Fillles de Illighadad ganha uma nova luz. Ao vivo, estamos crentes que será um momento único. Eis as datas e locais por onde este trio irá passar:
17/05 – B.Leza, Lisboa.
18/05 – Casa da Música, Porto.
19/05 – Festival Islâmico de Mértola.
20/05 – Casa do Povo de Santo Estevão, Tavira.

A tomar nota. A ir. •

Les Filles de Illighadad
Les Filles de Illighadad – Bandcamp
© Fotografia: DR.

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