Oito meses depois de ter cancelado a digressão mundial, após lhe ter sido diagnosticado um cancro no estômago, Charles Bradley anuncia, felizmente, o seu regresso aos palcos com a energia que todos lhe reconhecemos. Em novembro, o cantor de soul e funk estará em Portugal para um concerto único no Coliseu do Porto.
A expressão “força da natureza” é, muitas vezes, desperdiçada em certos artistas, mas totalmente adequada se se procurar descrever a intensidade de Charles Bradley. O cantor, associado da mesma Daptone Records da saudosa Sharon Jones, é uma espécie de monumento vivo, testemunho directo de uma cultura e de um tempo que de facto mudou o curso da história americana.
Apesar de contar 68 anos de idade, o veterano de Brooklyn, Nova Iorque, só conta três álbuns no seu currículo uma vez que só em 2011 foi descoberto nas ruas da grande cidade por Gabriel Roth, o homem do leme da Daptone que nunca deixou de procurar autenticidade para a música que teimosamente foi criando e lançando, mesmo quando a soul e o funk de recorte mais clássico não tinham ainda (re)conquistado audiências internacionais. Tudo mudou depois de Roth ter sido chamado a dar uma ajuda no segundo e histórico álbum de Amy Winehouse, “Back to Black”. A cultura em que a cantora de “Love is a Losing Game” se inspirou e que teve um extraordinário sucesso, circula há décadas nas veias do imenso Charles Bradley.
Natural da Flórida, o futuro cantor foi cedo para Nova Iorque e contava apenas 14 anos quando viu, levado pela irmã, James Brown ao vivo no mítico Apollo, no Harlem, corria o ano de 1962. Brown nunca mais deixou de ser uma referência máxima para Bradley. Com jeito para cantar, Charles tentou que a música fosse um escape para o seu ganha pão como cozinheiro, mas uma das suas primeiras bandas acabou por ver o futuro comprometido pela guerra do Vietname. Nas décadas seguintes, Bradley foi cruzando a América – do Alaska à Califórnia – fazendo pequenos concertos e aceitando o trabalho que ia surgindo, como cozinheiro ou pedreiro ou outra coisa qualquer.
Foi com a “máscara” de Black Velvet, um imitador de James Brown, basicamente, que Gabriel Roth o descobriu num pequeno clube de Nova Iorque. O editor e produtor, que também assina Bosco Man, viu real talento em Bradley e levou-o para a Daptone, com “No Time For Dreaming”, de 2011, a revelar-se a primeira entusiasmante etapa desta nova fase da sua vida. Em palco, Charles Bradley foi confirmando todas as esperanças de Roth e rapidamente se afirmou como um artista fulgurante e uma das principais figuras do revival Soul que tem marcado o planeta.
Charles foi protagonista do documentário “Soul of America” em 2012, editou “Victim of Love” em 2013, arrasou palcos nos maiores festivais do mundo – de Coachella ao Primavera Sound, passando por Glastonbury – e afirmou-se como artista de corpo inteiro, representante no presente de uma tradição musical que se estende até James Brown e que foi uma verdadeira ferramenta de afirmação dos direitos da minoria afro-americana.
O ano passado, Charles Bradley editou “Changes”, álbum que incluía uma versão do tema dos Black Sabbath com o mesmo título, e combateu e derrotou um cancro no estômago, regressando agora pleno de força para um concerto no Coliseu do Porto, em pleno outono, agendado para a noite de 23 de novembro, pelas 21h30. É em palco que se percebe a imparável energia deste gigante, Charles Bradley é de facto uma força da natureza. Uma noite a não perder, no Porto! •