Para os seguidores de música, toda ela e não só um estilo, este é o mês em que os vossos ouvidos apontam para um festival de referência: Cistermúsica. Este ano, a celebrar as suas “Bodas de Prata” com a 25.ª, foram convidados grupos e artistas que “deixaram algumas das melhores recordações desde o longínquo ano de 1991, numa edição que celebra o génio de Bach e Ravel, combinando obras raras e obras amadas do grande público“.
Como mais importante evento desta edição, é-nos dada a estreia moderna da ópera “Inês de Castro” de Giuseppe Giordani (1793), “historicamente a primeira de dezenas de óperas inspiradas na história de Pedro e Inês; obra a que Marita P. McClymonds dá relevância histórica no mais importante dicionário de música do mundo (o New Grove), inscrevendo-a na sequência da reforma de Gluck e no dealbar do romantismo“. Uma ópera não é apresentada desde o ido século XVIII e que nunca foi editada, pelo que foi pedido ao Centro di Studi Giuseppe Giordani, em Itália, que realizasse a edição da partitura especialmente para o Cistermúsica (um luxo que só um festival como este consegue). Um elenco de seis cantores portugueses, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa atuam sob a direção de João Paulo Santos, numa versão de concerto que será gravada pela Antena 2 para ser editada em CD. “Será o momento mais importante da longa ligação do Cistermúsica à temática inesina, no ano em que se assinalam os 650 anos da morte do rei D. Pedro I“.
O “Requiem à Memória de Camões” de Bomtempo, uma das obras mais importantes do património musical português, escrito há 200 anos, terá agora a sua primeira execução moderna em instrumentos de época, num projeto ambicioso do maestro João Paulo Janeiro (que surge depois da inesquecível Missa em Fá de Francisco António de Almeida ressuscitada na nave central do Mosteiro em 2013). “O interesse pelo património musical português está no ADN do Cistermúsica e isso inclui a criação contemporânea. Para celebrar o seu 25.º aniversário, o festival fez duas encomendas: uma obra para grupo vocal de João Madureira, que será estreada pela Cappela Musical Cupertino de Miranda, e uma obra para piano solo de António Victorino d’Almeida, que terá como intérprete a pianista russa Irina Chistiakova“.
Entre as novidades, haverá pela primeira vez um recital de harpa, pela alemã Silke Aichhorn, num programa de eleição. A genial “Gran Partita” de Mozart, que muitos recordam do filme Amadeus, vai ser ouvida num concerto de grupo de sopros, outra novidade no festival. “Há muito que era devida no Cistermúsica uma celebração condigna de Bach, o ‘Júpiter’ dos compositores. Por isso temos audição integral das sonatas e partitas para violino solo, pelo notável violinista brasileiro Cármelo de los Santos. Num concerto da Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por Pedro Carneiro, serão ouvida duas suites orquestrais e dois concertos de Bach“. Quem não se arrepia com o génio incomparável de Bach?
O Grupo Vocal Les éléments e o Quarteto Arcadia estão entre os mais notáveis agrupamentos que já atuaram em Alcobaça e regressam neste 2017 com dois programas imperdíveis, respetivamente com obras alemãs para coro e piano (de Schumann a Stockhausen) e quartetos de Mozart, Haydn e Bartók. Entre os grupos nacionais, a Cappela Musical Cupertino de Miranda regressa, num programa que percorre a renascença portuguesa e europeia e assinala os 450 anos do nascimento de Monteverdi; o Quarteto Alfama, excelente quarteto belga fará um programa de Schubert e Mozart em memória de Harry Halbreich, o grande musicólogo belga falecido em 2016.
Incentivar jovens talentos tem sido outra das missões do festival e este ano, destacamos aqui na Mutante, “a Orquestra do Estágio Gulbenkian regressa com um programa de arromba, que reúne Sheherazade de Ravel, Till Eulenspiegel de Strauss, Os Mestres Cantores de Wagner e Romeu e Julieta de Tchaikovsky“. E já no fim desta nota, antes de vos deixar um curto alinhamento de destaques, espaço para o dia de abertura com “a Banda Sinfónica de Alcobaça, dirigida por Sébastien Béreau, abre o festival com um programa dedicado a Ravel nos 80 anos da sua morte; e a Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob a direção de Osvaldo Ferreira, faz o concerto de encerramento com a 2.ª Sinfonia de Rakhmaninov e a divina Suite Quebra-Nozes de Tchaikovsky. Estão todos convidados“, Alexandre Delgado e Rui Morais, Direção Artística.
Destaques de um mês de programação superlativa que incita a uma passagem obrigatória pela belíssima cidade de Alcobaça, que tão bem recebe:
01/07, 21h30 – Banda Sinfónica de Alcobaça, Em Torno de Ravel. Escadaria do Mosteiro de Alcobaça.
02/07, 18h00 – Les éléments (França), Abendlied-Morgenlied: Um percurso pela música alemã dos séculos XIX e XX. Sala do Refeitório, Mosteiro de Alcobaça.
08/07, 21h30 – Flores de Mvsica e Coro Autêntico, Requiem op.23, À Memória de Camões, de João Domingos Bomtempo. Nave Central, Mosteiro de Alcobaça.
08/07, 21h30 – Arcadia Quartet (Roménia), obras de Mozart, Haydn e Bartók. Teatro Stephens, Marinha Grande.
09/07, 18h00 – Arcadia Quartet (Roménia), obras de Mozart, Haydn e Bartók. Claustro D. Afonso VI, Mosteiro de Alcobaça.
14/07, 21h30 – Quarteto Alfama (Bélgica), In Memoriam Harry Halbreich. Celeiro, Mosteiro de Alcobaça.
15/07, 21h00 – Silke Aichhorn (Alemanha), Recital de Harpa. Sala do Capítulo, Mosteiro de Alcobaça.
20/07, 21h30 – Irina Chistiakova (Rússia), Recital de Piano. Claustro D. Dinis, Mosteiro de Alcobaça.
22/07, 18h00 – Cármelo de los Santos (Brasil), Integral das Sonatas e Partitas para Violino Solo de Bach. Sacristia, Mosteiro de Alcobaça.
23/07, 18h00 – Cappella Musical Cupertino Miranda. Convento de Santa Maria de Cós.
29/07, 18h00 – Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do TNSC, Ópera Inês de Castro. Cine-Teatro de Alcobaça.
30/07, 21h00 – Orquestra Filarmónica Portuguesa, obras de Rachmaninov e Tchaikovsky. Escadaria, Mosteiro de Alcobaça.
Voltamos a dizer que o que acima apresentamos são apenas destaques de um extenso e soberbo programa de música erudita, deste festival que cremos já ser destaque na sua agenda musical, de verão. Se a música clássica não lhe é tão familiar ou é mesmo desconhecida, arrisque. Não se vai arrepender. Para consultar todo o programa, clique no link abaixo. Encontramos-nos em Alcobaça. •
