A temporada 2017/2018 do Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), em Coimbra, abre com a estreia da nova produção d’A Escola da Noite: “TOMEO Histórias Perversas”. O espectáculo assinala o 25.º aniversário da companhia e estará em cena em setembro, e para outubro já está marcado o regresso de “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente. Um luxo que só se pode esperar que esteja sempre: esgotado.
Comecemos por algo que já anunciámos, com ante-estreias aqui, há um mês, Tomeo. Depois das ante-estreias lotadas em julho, A (imensa) Escola da Noite ultima agora a estreia da sua 65.ª produção, marcada para 14 de setembro. “TOMEO Histórias Perversas” reúne mais de duas dezenas de textos breves do dramaturgo espanhol Javier Tomeo, seleccionados a partir das obras “Histórias Mínimas”, “Cuentos perversos”, “Inéditos y Reescrituras”, “Los nuevos inquisidores”, “Problemas oculares” e “Bestiário”. Míopes, pais que vêem gigantes onde filhos vêem moinhos, assassinos que saltam da tela de cinema, crianças que partem a lua em pedaços, esqueletos que falam, capitães que desertam e leões que choram são apenas algumas das dezenas de personagens em que se desdobra o (pequeno) elenco do espectáculo, composto por Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo.
Seleccionados por António Augusto Barros e traduzidos pela equipa criativa do espectáculo, os textos agora levados à cena são uma pequena amostra da literatura “livre e audaz” que caracteriza a obra de Tomeo, autor prolífico e considerado por muitos como “inclassificável”, mas confesso admirador de Kafka, de Buñuel, do surrealismo, ou ainda de Charlot, Buster Keaton e Ramón Gómez de la Serna.
Encarando de frente alguns dos temas que acompanham todo o trabalho de Tomeo – o medo, a solidão, a incapacidade (ou a dificuldade) de comunicar – mas também a poesia e o humor de que nunca abdicou, A Escola da Noite regressa ao seu “autor fundador” (é de Tomeo o “Amado Monstro”, com que tudo começou, em 1992). À equipa “da casa” (na qual se inclui Ana Rosa Assunção, figurinista, aderecista e designer gráfica), juntam-se Jorri (que compôs a música e a interpreta ao vivo em todas as sessões desta temporada), António Rebocho (com um desenho de luz que realça o mistério e a inquietação que os textos sugerem) e Eduardo Pinto (cujo trabalho no vídeo alcança aqui um novo patamar). Com a consultadoria de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, António Augusto Barros concebeu também, a par da dramaturgia e da encenação, o espaço cénico – uma “máquina teatral”, recheada de surpresas, que tira o maior partido da versatilidade do TCSB e que, não deixando ninguém indiferente, já começou a suscitar as mais diversas interpretações.
“TOMEO Histórias Perversas”, que escusado será dizer que é absolutamente imperdível, estará em cena de 14 a 30 de setembro, de quarta a sábado às 21h30 e aos domingos às 16h00. Os bilhetes podem ser reservados pelos contactos habituais do TCSB: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt. Por causa das características da tal “máquina teatral” em que tudo acontece, a lotação é mais reduzida do que o habitual. Os tradicionais avisos para a necessidade de reservar lugar com antecedência são desta vez, por isso mesmo, para levar ainda mais a sério.
Rumando a outubro, A Escola da Noite está também já a aceitar reservas para o regresso a Coimbra de “Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente, marcado para a segunda quinzena de Outubro. Nunca assistiu? Nem sabe o que anda a perder. Esta gente é excelsa na representação de Gil Vicente. Realizado em co-produção com o Cendrev – Centro Dramático de Évora, o espectáculo estreou em 2016 e assinala os 500 anos da primeira apresentação e da primeira edição do mais conhecido texto de Gil Vicente, também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”. Na primeira fase de apresentações, foi apresentado em oito localidades nacionais em cerca de 70 sessões e foi visto por mais de seis mil espectadores.
Com encenação dos directores artísticos das duas companhias – António Augusto Barros e José Russo –, tem sido elogiado pela crítica e pelo público, que salientam a forma como o respeito pelo texto original se articula com uma abordagem cénica contemporânea, com particular destaque para o trabalho dos actores, a interacção com os diferentes bonecos que dão vida a algumas das personagens e a surpreendente cenografia, assinada por João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano. O elenco conta com actores dos dois grupos – Ana Meira, Igor Lebreaud, Jorge Baião, José Russo, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Rosário Gonzaga e Rui Nuno –, os figurinos e bonecos são de Ana Rosa Assunção, a música de Luís Pedro Madeira e o desenho de luz de António Rebocho.
A nova temporada em Coimbra decorre entre 18 e 29 de outubro e inclui seis sessões para o público em geral (21 a 29 de outubro, de quinta a domingo) e 10 sessões para o público escolar, em horário diurno (18 a 27 de outubro, de quarta a sexta-feira). As sessões para escolas exigem reserva prévia e já estão a começar a ficar preenchidas.
A tomar nota. A ir, ao teatro, em Coimbra. •