Julho, na música erudita é sinónimo de Alcobaça com o já incontornável Cistermúsica. Um festival de excepção onde deve marcar presença, sempre que lhe for possível, quer pela qualidade superlativa da música e seus intérpretes, quer pelos cenários escolhidos para os espectáculos. Sem fugir à regra, eis que está aí mais uma edição do Cistermúsica.
A edição deste ano – as escolhas, o alinhamento, a histórias e estórias por detrás do elaborado cartaz – nas palavras de quem explica como ninguém: Alexandre Delgado e Rui Morais, Direcção Artística do Cistermúsica.
“Numa época em que os nacionalismos regressam como ameaça planetária, o Cistermúsica vinca a sua matriz universalista, celebrando a música de um mundo multicultural e sem fronteiras.
A Missa de Notre Dame de Guillaume de Machaut, primeira versão musical completa do ordinário da missa e obra fundadora no cânone da música ocidental, abre a Programação Principal, interpretada pelo consagrado Ensemble Gilles Binchois, na nave central do Mosteiro.
A nível da música de câmara, o Quarteto Casals regressa com um programa beethoveniano que inclui o quarteto op. 130, a Grande Fuga e uma estreia do compositor espanhol de origem catalã Benet Casablancas. O centenário da morte de Debussy e de António Fragoso e os 150 anos do nascimento de Vianna da Motta são assinalados num recital do aclamado pianista russo Alexander Ghindin, num concerto de trios com piano pelo Trio Pangea e num recital da soprano Filipa Portela e do pianista Stefano Amitrano. Há ainda que salientar a apresentação de três dos grupos premiados na última edição do Concurso Internacional de Música de Câmara ‘Cidade de Alcobaça’ (CIMCA), um duo de pianistas japonesas e dois agrupamentos nacionais de percussão, que farão parte do já habitual Dia Non Stop no Mosteiro. Esta inclui como destaque a mini-ópera Domitila do brasileiro João Guilherme Ripper, baseada nas cartas do imperador D. Pedro I e da Marquesa de Santos.
A nível do património musical português, sobressai a ópera joco-séria Guerras de Alecrim e Manjerona (1737) da parelha António José da Silva (o Judeu) e António Teixeira, ópera barroca em língua portuguesa, interpretada pelos Músicos do Tejo e pelas S.A. Marionetas, numa encenação de Carlos Antunes com um elenco de luxo composto por alguns dos mais conceituados cantores e atores nacionais. O Requiem de Frei Manuel Cardoso, uma das obras mais notáveis da polifonia portuguesa, é cantado pelo Grupo Vocal Olisipo num concerto que inclui poesia declamada por Ana Zanatti e a estreia de uma obra encomendada a Tiago Derriça. Ainda no domínio da criação, temos uma homenagem a Messiaen do alcobacense Daniel Bernardes, autor da banda sonora do filme Peregrinação.
A Orquestra Estatal de Atenas, dirigida pelo seu titular Stefano Tsialis, apresenta um grande concerto sinfónico com a Sinfonia de César Franck, uma obra do grego Nikos Skalkottas e um concerto de Weber pelo premiado clarinetista Horácio Ferreira que repetirá a sua presença como solista num outro concerto sinfónico protagonizado pela Orquestra Estágio Gulbenkian que nos trará obras de Mozart, Ravel e Manuel Durão. Boas-vindas também para a recémfundada Orquestra Consonância, que oferece um sedutor programa de cordas com obras de Vivaldi, Mozart, Elgar e Nino Rota, o compositor dos filmes de Fellini. Um destaque especial para o espetáculo que juntará, pela primeira vez no Cistermúsica, a companhia de dança Quorum Ballet à Orquestra Filarmónica Portuguesa para a interpretação do bailado A Sagração da Primavera, a obra de Stravinsky que representou uma ruptura com os cânones anteriores da composição e aqui se apresenta numa versão Made in China.
A atriz Dalila do Carmo vem dar um brilho especial à programação Júnior & Famílias, narrando as Memórias de um Burro da Condessa de Ségur com o pianista Daniel Cunha e música de Paul Ladmirault. A abrir esta linha programática, a Orquestra e Coro da Academia de Música de Alcobaça apresenta a Ópera infantil A Floresta de Eurico Carrapatoso, numa adaptação do conto homónimo de Sophia de Mello Breyner com libreto de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães.
A programação de dança contemporânea abarca três criações: uma por Cristina Planas Leitão, jovem bailarina e coreógrafa já com uma carreira relevante a nível nacional e internacional, outra pela companhia Vortice Dance e a encerrar o festival apresenta ainda uma homenagem ao mito universal de Pedro e Inês, cujos túmulos repousam na Nave Central do Mosteiro de Alcobaça com coreografia de Fernando Duarte. Acrescenta-se, na programação Off, uma aposta adicional no cinema e no teatro: depois do êxito obtido com Luzes da Cidade em 2017, o pianista Paulo Melo regressa para acompanhar com música ao vivo mais um filme genial de Chaplin, O Garoto, e assinalando os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago, o grupo de teatro Triacto apresenta A Maior Flor do Mundo, espetáculo para todas as idades, em prol de um mundo mais inclusivo e com menos fronteiras.”
© Orquestra Estatal de Atenas, DR
E por agora, sem mais demoras porque tudo já está acima dito, ficam alguns destaques para a sua agenda de Julho, em Alcobaça:
29/06, 22h00 – “O Garoto” de Charles Chaplin (1921) – Filme musicado ao vivo com Paulo Melo ao piano | Cine-Teatro de Alcobaça João d’Oliva Monteiro.
30/06, 21h30 – “A Floresta” de Eurico Carrapatoso – Ópera Infantil numa adaptação do conto homónimo de Sophia de Mello Breyner com libreto de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães | Cine-Teatro de Alcobaça João d’Oliva Monteiro.
01/07, 18h00 – Ensemble Gilles Binchois (França) – “Messe de Notre Dame de Guillaume de Machaut”, Música Coral com direcção musical de Dominique Vellard | Mosteiro de Alcobaça · Nave Central.
06/07, 21h30 – Cuarteto Casals (Espanha) – Quarteto de Cordas: Vera Martínez-Mehner, violino; Abel Tomàs, violino; Jonathan Brown, viola; Arnau Tomàs, violoncelo. Obras de Beethoven e Casablancas (Quarteto Widmung – Estreia em Portugal) | Mosteiro de Alcobaça · Celeiro.
08/07, 18h00 – Grupo Vocal Olisipo – “A Doce Irmã do Sono” – Música Coral com direcção musical de Armando Possante; Ana Zanatti, leitura de poesia; Missa pro defunctis 6 vozes de Frei Manuel Cardoso. Obra em Estreia Absoluta de Tiago Derriça · Encomenda Cistermúsica | Convento de Santa Maria de Cós.
12/07, 21h30 – “A Sagração da Primavera” com a Orquestra Filarmónica Portuguesa e Quorum Ballet – Concerto Sinfónico e Dança Contemporânea com direcção musical de Osvaldo Ferreira. Obras de Debussy, Max Bruch e Stravinsky. | Mosteiro de Alcobaça · Cerca.
13/07, 21h30 – Trio Pangea, Homenagens de 2018: Claude Debussy (1862-1918) e Vianna da Motta (1868-1948) – Trio com Piano com Obras de Debussy, Vianna da Motta e Schumann | Mosteiro de Alcobaça · Celeiro.
15/07, 19h00 – Orquestra de Câmara Consonância – Orquestra de Cordas com Obras de Vivaldi, Mozart, Elgar e Nino Rota | Mosteiro de Alcobaça · Sacristia.
18/07, 21h30 – Filipa Portela e Stefano Amitrano – Recital de Canto e Piano com Obras de Massenet, Debussy, Ravel, Gounod, Fragoso e Vianna da Motta | Pataias (Local a confirmar). O mesmo espectáculo repetir-se-á a 25/07, pelas 21h30, na Igreja Matriz de São Martinho do Porto.
21/07, 21h30 – Alexander Ghindin – Recital de Piano com Obras de Field e Chopin, Debussy e Prokofiev. | Mosteiro de Alcobaça · Claustro D. Dinis.
22/07, 21h30 – Orquestra Estatal de Atenas – Concerto Sinfónico com Obras de Nikos Skalkottas (Estreia em Portugal), Carl Maria von Weber e César Franck | Mosteiro de Alcobaça · Cerca.
27/07, 21h30 – “A Liturgia dos Pássaros” – Homenagem a Messiaen. | Centro Cultural Gonçalves Sapinho – Benedita.
29/07, 21h30 – “Murmúrios de Pedro e Inês” – Bailado em I Acto. Música de Bernardo Sassetti e Fernado Lopes-Graça. | Mosteiro de Alcobaça.
Para um programa mais detalhado, convidamos a clicar no link abaixo para o site do Cistermúsica.
A ir, num passeio a Alcobaça. Imperdível, como sempre. •