Agenda de 2019. Mês: Abril (com ou sem águas mil). Localização: Açores. Motivo: 6.ª edição de Tremor.
Colin Stetson, Moon Duo, Pop Dell’Arte, Grails, Lula Pena, Lafawndah, Cave e The Sunflowers são os primeiros nomes já confirmados na lista de concertos do Tremor 2019. O festival açoriano que promove uma experiência musical no centro do Atlântico anuncia ainda, nesta recta final de 2018, duas das residências artísticas que marcarão a sua 6.ª edição: o encontro entre os ZA!, Rubén Monfort e as Despensas de Rabo de Peixe e o trabalho a ser desenvolvido pelo colectivo ondamarela, com a Escola de Música de Rabo de Peixe e a Associação de Surdos de São Miguel.
Saxofonista e compositor, Colin Stetson ocupa, naturalmente, um lugar de destaque na cena musical contemporânea. Nascido e criado em Ann Arbor, passou uma década entre São Francisco e Brooklyn, trabalhando ao vivo e em estúdio com uma lista de incontornáveis artistas. De Tom Waits a TV on the Radio, de Arcade Fire a Lou Reed, de Bon Iver a Feist, David Byrne ou The National. Dono de uma técnica absolutamente singular, Colin tem vindo a construir uma voz única enquanto solista, aliando a técnica com inquestionáveis capacidades como compositor. Daí que não seja de estranhar que o veja circular, com a mesma destreza, na tradição de avant jazz de músicos como Evan Parker ou Mats Gustafsson, ou na música electrónica noise/drone/minimalista contemporânea de nomes como Tim Hecker e Ben Frost (ambos dos quais misturaram algumas das suas gravações). Regressa a Portugal, com “All This I Do For Glory”, o mais recente disco em nome próprio, para concertos nos Açores e em Lisboa (na ZDB).
© Moon Duo, DR
Regresso também agendado do duo Sanae Yamada e Ripley Johnson com o mais recente “Occult Architecture”. Ao quarto disco de estúdio, estes Moon Duo embarcam numa viagem cósmica pelas suas sonoridades mais soturnas e brilhantes, explorando novas texturas e paisagens sonoras que reflectem sobre a dualidade entre luz e escuridão, visível nos ciclos das estações e nas variações do dia para a noite e da noite para o dia.
E se de nomes de culto o Tremor nos fala até aqui, há que também dar o merecido destaque a João Peste e aos seus Pop Dell’Arte. Com mais de 30 anos de carreira, continuam a alimentar o imaginário de uma música que se quer investida na vanguarda e inimiga do formalismo. Com formação renovada, depois da entrada de Ricardo Martins para a bateria, os Pop Dell’Arte têm estado de regresso à estrada, carregando consigo os temas que constituem os degraus da (já longa) carreira. “Contra Mundum”, o mais recente disco de originais, continua a servir de alimento para os concertos e os fãs, habituados a que cada fornada do colectivo dure um longo tempo, tal o impacto que o mesmo causa na normalidade do mundo pop.
No que respeita aos Grails, será seguro dizer que parte do que os torna na grande banda que são é a sua capacidade de, a cada disco, experimentar mais ideias e assumir mais riscos do que a maioria das bandas fará em toda a carreira. Teimosamente lutaram contra os clichés da música instrumental, dando-lhe novas fronteiras, e deixando atrás de si um conjunto de álbuns que condensam a herança de todos os que os antecederam, combinando os mais diversos estilos sob o tecto da liberdade musical.
Lula Pena praticamente não precisa de apresentações. De “Phados” a “Archivo Pittoresco”, é o percurso que a guitarrista e compositora faz rumo à canção global. Desprovida de fronteiras (lembre-se que canta, com a mesma facilidade em português, francês, inglês, espanhol, grego ou italiano) a música que faz traz a palavra para o centro da sala, a sua ou a de poetas como Manos Hadjidakis, Violeta Parra e Belga Scutenaire, para, aí, nos mostrar perfumes, sotaques, inquietações e esperanças que compõem a alma latina.
A primeira leva de nomes para o Tremor fecha-se com a pop futurística da iraniano-egipcía Lafawndah, o psicadelismo dos Cave e o rock sem floreados dos The Sunflowers.
© Lafawndah, DR
Apostando na criação de momentos musicais que recontextualizem, divulguem e integrem a herança e história açoriana, o Tremor 2019 irá ainda reforçar o trabalho de residências artísticas com a comunidade. As primeiras a anunciar juntarão a música dos espanhóis ZA! às danças tradicionais da Vila de Rabo de Peixe, levadas a cabo pelas Despensas de Rabo de Peixe, grupos de 15 e 20 dançarinos com castanholas. O trabalho será complementado por uma exposição fotográfica da autoria de Rubén Monfort. Dando continuidade à colaboração que, anualmente, o festival faz com a Escola de Música de Rabo de Peixe, o Tremor convidou o colectivo ondamarela para desenvolver um espectáculo único e irrepetível que junte o colectivo de músicos com a Associação de Surdos de São Miguel.
O Tremor regressa à ilha de São Miguel entre 09 e 13 de Abril de 2019. Uma bela desculpa para (re)visitar os nossos Açores. •