O regresso às raízes tem ganho terreno no trabalho de campo desta família duriense que, em 2018, viu o seu esforço recompensado dentro e fora de portas.
Como já vem a ser hábito, o produtor Domingos Alves de Sousa e os filhos Tiago, o enólogo da casa, e Patrícia, a directora financeira juntaram-se, em Dezembro passado, no Ritz Four Seasons Hotel Lisboa, para dar a conhecer melhor dez colheitas de oito anos distintos. O desafio foi mostrar quão diferentes são os vinhos a cada ano que passa, pois a produção vínica depende muito do terroir, desta feita, do Douro.
A verdade é que não nos podemos esquecer de que a exposição solar, o clima, o tipo de solo e as castas contribuem para essa mesma diversidade. A este conjunto de factores houve a necessidade de assumir outros dois: as alterações climáticas e a complexidade atribuída a esta região vinhateira. Conclusão, o ciclo de replantações centrou-se na aposta da vinha tradicional, “um importantíssimo passo em frente no futuro dos vinhos da família Alves de Sousa”, tal como se lê em comunicado. “Não são vinhas mecanizadas”, lembra Tiago Alves de Sousa, ao mesmo tempo que as contextualiza no tempo, comparando-as às da era pós-filoxera, com socalcos mais estreitos, tal como “os antigos usavam”.
Apesar das dificuldades que esta decisão acarreta – manutenção, a escassez de mão-de-obra e a dificuldade que é trabalhar a terra –, “para nós são muitas mais as suas virtudes”. Além do “equilíbrio vegetativo” e da “maior capacidade de adaptação ao clima da região”, é de salientar a complexidade e a qualidade da produção. “Se quiséssemos tornar a nossa vida mais fácil, não trabalharíamos no Douro”, comenta Domingos Alves de Sousa.
O reconhecimento cá dentro e além fronteiras também tem vindo a crescer. Desde as acções de mercado às distinções, passando pelo número de visitas à adega, localizada na Quinta da Gaivosa, situada Santa Marta de Penaguião, na sub-região do Baixo Corgo.
Viagem vínica em oito colheitas
Voltemos aos néctares desta casa duriense. Iniciemos a viagem vínica com o Branco da Gaivosa Grande Reserva 2016 (€30) feito a partir das castas Malvasia Fina, Avesso e Arinto, trio autóctone da mais antiga região demarcada do mundo e mais uma prova de que a Quinta da Gaivosa “sempre teve uma tradição muito grande de brancos”, segundo Tiago Alves de Sousa.
O desfile vínico prosseguiu com Alves de Sousa Pessoal branco 2012 (€40) elaborado com as variedades Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio, além de outras originárias do Douro, vindimadas em vinhas com mais de 70 anos, sobre o qual o enólogo disse estar a “pegar na tradição do Vinho do Porto branco e adaptá-la ao vinho branco”, sugerindo a harmonização com foie gras, risotto de cogumelos ou presunto pata negra.
A Quinta do Vale da Raposa adquirida, em 1988, por Domingos Alves de Sousa representa, por sua vez, um Douro fresco. Inicialmente, “foi mais experimental, para verificar qual o contributo das suas castas nos vinhos, bem como o comportamento delas”, continua. Em prova estiveram o Vale da Raposa Touriga Nacional 2015 (€25) e o Vale da Raposa Sousão 2015 (€25), dois vinhos da colecção de monovarietais feitos a partir das castas desta propriedade vinhateira. A selecção das variedades de uva de cada um foi pensada no sentido de melhor respeitar as características, quer das castas, quer desta quinta.
Já da Quinta da Oliveirinha, localizada na sub-região do Cima Corgo e que, desde 2007, faz parte do portefólio da Alves de Sousa, foi apresentado o Quinta da Oliveirinha Grande Reserva tinto 2015 (€22,50). Feito a partir de 15 castas autóctones do Douro vindimadas em vinhas com mais de 60 anos, este néctar apresenta-se no patamar dos topos de gama da família Alves de Sousa. Da mesma propriedade foram colhidas as variedades de uva Touriga Franca, entre outras tintas, que fazem parte do Quinta da Oliveirinha Vinha Franca tinto 2013 (€72), designação que “será lançada apenas nos melhores anos”, garante Tiago Alves de Sousa. Antes de passar ao seguinte, fica a recomendação do enólogo no que à harmonização com ambos os vinhos diz respeito: cabrito assado.
Sem mais delongas, foi posto à prova o clássico desta família, o Quinta da Gaivosa tinto 2015 (€37), feito a partir das castas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, entre outras vindimadas na vinha com mais de 80 anos.
Com uma longa tradição na produção de Vinho do Porto – já conta com cinco gerações –, a família Alves de Sousa mostrou o potencial, uma vez mais, o potencial desta propriedade em Santa Marta de Penaguião através do Quinta da Gaivosa Porto Vintage 2016 (€60), com as castas Sousão, Touriga Nacional e Touriga Franca. As mesmas variedades de uva são utilizadas na composição do Alves de Sousa Porto Vintage 2015 (€60), néctar composto pela selecção de uvas “das melhores vinhas da família”, isto é, da Quinta da Oliveirinha e da Quinta da Gaivosa.
Para fechar este leque generoso de vinhos, esteve à altura do Quinta da Oliveirinha Porto Vintage 2016 (€57), “o primeiro Vintage com nome próprio da Quinta da Oliveirinha”, para harmonizar com queijos, sobremesas de frutos vermelhos ou, simplesmente, chocolate negro.
O encontro vínico terminou com um jantar assinado pelo chef Pascal Meynard. Durante o repasto, os pratos foram acompanhados por outros vinhos desta família duriense de vitivinicultores, com particular destaque para Alves de Sousa Colheita de Natal 2007.
Brindemos! •