Com curadoria de Francesco Perrotta-Bosch, “Irradiações – Fabio Penteado” é a primeira exposição individual de Fabio Penteado (1929-2011) em Portugal, apresentando uma belíssima seleção de cinco projetos radiais dos anos 1960 que demonstram a constante atenção do arquiteto paulista com as dimensões coletiva e pública. Imperdível.
Fabio Penteado, arquiteto brasileiro, nasceu em Campinas e teve São Paulo como base de sua atividade profissional. Formado na Universidade Mackenzie (1948-1953), foi autor de projetos de grande porte como o Clube Harmonia (1964), o Centro de Convivência Cultural (1967) e o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, o Cecap de Guarulhos (1968), realizado com João Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Com posições políticas sempre em prol da democracia, esteve no Conselho Superior da União Internacional dos Arquitetos (UIA), de 1969 a 1975. Foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em diferentes períodos e diretor da Fundação Bienal, tendo dirigido a 2ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 1993. No jornalismo, foi editor da revista brasileira Visão, de 1956 a 1962, e teve o programa “Arquitetos na TV”, exibido pelo extinto canal Excelsior nos anos de 1961 e 1962. Além de ter ganho vários concursos no Brasil, a carreira de Penteado é marcada pela distinção especial dada à sua proposta para o Monumento da Playa Girón (1962), em Cuba, e pela Grande Medalha de Ouro da Quadrienal Mundial de Teatro em Praga (1967), na antiga Checoslováquia, com o Teatro de Ópera de Campinas.

© Monumento da Playa de Girón, Arquivo Fabio Penteado
O Arquivo Fabio Penteado conta com um acervo de mais de dez mil itens, entre desenhos, fotografias, cartas, documentos e maquetes. Em 2018, formou-se uma equipe de trabalho para catalogar os objetos de Fabio Penteado seguindo padrões de arquivamento de instituições internacionais de referência. O procedimento arquivístico consiste em representar, por meio de seu arranjo, todas as funções exercidas por Fabio ao longo de sua atuação profissional. Para isso, o procedimento de catalogação prevê o estabelecimento de relações entre os documentos, de modo a permitir um entendimento mais amplo de sua obra. A este trabalho somam-se os serviços de restauração, higienização e planificação dos documentos. Os objetos do acervo estão a ser digitalizados em alta resolução para livre divulgação a investigadores de todo o mundo.

© Monumento Comemorativo aos Trinta Anos, Arquivo Fabio Penteado
Sobre o nascer da ideia da exposição que aqui vos falamos até ao concretizar da mesma, agora em 2019, nada como vos dar as palavras de quem a imaginou e ajudou a criar.
“Em 2017, o Arquivo Fabio Penteado foi convidado pela Casa da Arquitectura a doar 397 desenhos, fotografias e documentos do projeto do Centro de Convivência Cultural, em Campinas. Irradiações, a primeira exposição individual de Fabio Penteado em Portugal, fortalece a parceria entre as duas instituições e assinala o início das celebrações dos 90 anos do arquiteto – as iniciativas seguintes serão o lançamento do site (fabiopenteado.com), da primeira biografia sobre o arquiteto e uma exposição retrospetiva em São Paulo. Com curadoria de Francesco Perrotta-Bosch, esta mostra é uma belíssima seleção de cinco projetos radiais dos anos 1960 que, em comum, demonstram a constante atenção do arquiteto paulista com as dimensões coletiva e pública. Espero que esta parceria luso-brasileira seja um estímulo para o início da já anunciada restauração do Centro de Convivência Cultural, projeto que tive a oportunidade de acompanhar com o arquiteto, do desenho à inauguração, em 1976. Em nome do Arquivo Fabio Penteado, agradeço à Casa da Arquitectura e a toda sua equipe por tão adequada preservação dos desenhos desta importante obra.” Adriana Moura Penteado, Arquivo Fabio Penteado.

© Mercado do Portão, Arquivo Fabio Penteado
Nas palavras do curador Francesco Perrotta-Bosch: “Irradiar é o verbo gerador de cinco projetos. Uma mesma gênese formaliza-se de diferentes modos, ampara distintas funções, implanta-se em distantes lugares, permite-se imaginar em diversas ocupações pelo povo. A trajetória de Fabio Penteado (1929–2011) é marcada por tais esforços de materializar partidos projetuais que, quando não ocorrem na primeira tentativa, recompõem-se e reconfiguram-se até se consubstanciarem no mundo. Nesta exposição, trazemos cinco projetos com matrizes radiais desenvolvidos pelo arquiteto entre 1962 e 1968. A ideia desperta como um imponente memorial para celebrar a resistência cubana na tentativa de invasão estrangeira de seu território. No Monumento da Playa Girón, o arquiteto encontrou a forma para corporificar um brado na paisagem. A mesma essência converteu-se no Monumento Comemorativo aos Trinta Anos de Goiânia. Numa cidade jovem, importa menos o que passou e mais o que está por vir: criou-se, portanto, um espaço de encontros e manifestações populares. Em seguida, trasvestiu-se em Curitiba como um centro público de comércio. O Mercado do Portão não teria corredores, mas uma praça a partir da qual se difundiriam as lojas, as mercearias, as quitandas. Dois volumes radiais também afloraram à beira de uma lagoa de Campinas, dando origem ao grandioso Teatro de Ópera. Topografia e construção são indissociáveis nesse projeto não executado. Entretanto, é sua premiação em Praga que abre caminho para a concretização das irradiações. Podemos contemplá-las nas arquibancadas do anfiteatro a céu aberto do Centro de Convivência Cultural de Campinas. Vivenciamos as formas de Fabio Penteado quando atravessamos o palco central – pois ele é também praça pública – durante um trivial e cotidiano passeio pela cidade. Uma ideia que foi germinando até o momento em que irradiou. ”
© Centro de Convivência Cultural, Arquivo Fabio Penteado
Os cinco projetos em que poderá mergulhar nesta exposição são:
Monumento da Playa de Girón – Fabio Penteado, Ubirajara GiglioliI, José Ribeiro, Tito Lívio Frascino, Vasco de Mello e José Carlos Ribeiro de Almeida, Cuba, 1962.
Monumento Comemorativo aos Trinta Anos – Fabio Penteado e José Ribeiro, Goiânia, 1965.
Mercado do Portão – Fabio Penteado e José Ribeiro, Curitiba, 1965.
Teatro de Ópera – Fabio Penteado, Alfredo Paesani, Teru Tamaki e Aldo Calvo, Campinas, 1966.
Centro de Convivência Cultural -Fabio Penteado, Alfredo Paesani, Teru Tamaki e Aldo Calvo, Campinas, 1967–68.

© Teatro de Ópera, Arquivo Fabio Penteado
Para informação mais detalhada sobre a exposição e actividades paralelas à mesma, é só clicar no link abaixo.
Com inauguração marcada para amanhã, dia 23 de Fevereiro, pelas 19h30, e patente até dia 26 de Maio, esta é uma exposição obrigatória para todos. •