Jazz em Agosto 2019

E como já é hábito, na Primavera colocamos ouvidos no Verão e reservamos alguns dias de agosto para rumarmos à Fundação Calouste de Gulbenkian para aquele que já se tornou, há muito, um festival incontornável dos amantes do Jazz. Falamos do Jazz em Agosto, claro.

O jazz sempre teve na sua raiz a semente da contestação e da mudança, enquanto música movida pelo contexto social à sua volta e capaz de apontar o foco para todo o tipo de arbitrariedades que são frequentemente incómodas e que os olhares preferem tantas vezes ignorar. A música deve carregar consigo um sentido maior, deve ser veículo para a mais profunda expressão de tudo aquilo que nos faz humanos e apontar para uma existência mais digna. O jazz soube, em diversas ocasiões, canalizar e potenciar a contestação e a revolta de uma forma impossível de silenciar.


© Marc Ribot, Ebru Yildiz

No seu livro 33 Revolutions per Minute, o jornalista inglês Dorian Lynskey traça uma história da música de protesto e aponta para Strange Fruit, a inesquecível canção de Billie Holiday, como o possível nascimento da contestação sob a forma de uma canção popular – “não era a primeira canção de protesto, de todo, mas era a primeira a carregar uma mensagem política explícita para a arena do entretenimento”. Ao atirar o tema sobre o público do Café Society, em Março de 1939, a voz sofrida de Holiday deixava todos presos a cada palavra e tornava claro que uma canção tinha em si o condão de agitar as águas e promover a transformação.

Nesse sentido, também o guitarrista Marc Ribot defende que todos os movimentos impulsionadores de mudanças sociais e de resistência têm a sua banda sonora. E foi por isso que o músico, colaborador habitual de nomes fundamentais da criação do nosso tempo como Tom Waits e John Zorn, arregaçou as suas mangas revolucionárias e reuniu um cancioneiro que batizou como Songs of Resistance, em resposta ao turbulento contexto social e político vivido atualmente nos Estados Unidos. É a Marc Ribot e ao seu insubmisso projeto que cabe o concerto de abertura do 36º Jazz em Agosto, dando o mote para uma edição sob o signo da resistência e do grito coletivo clamando por um mundo mais justo.

É a esse mesmo grito que se juntam Heroes Are Gang Leaders, Burning Ghosts, Nicole Mitchell ou Ambrose Akinmusire. Mas a revolução apregoada neste Jazz em Agosto estende-se igualmente para lá da sua dimensão mais política, num ano em que, às noites no Anfiteatro ao Ar Livre, se voltam a juntar os concertos da tarde no Auditório 2, lembrando-nos quão revolucionária é também a vanguarda musical que descobrimos em Ingrid Laubrock e Tom Rainey, Théo Ceccaldi, Julien Desprez, Mary Halvorson, Tomas Fujiwara, Zeena Parkins, Han-earl Park ou no quarteto Toscano, Pinheiro, Mira e Ferrandini.


© Théo Ceccaldi – Freaks, Jean Pascal Retel

01/08, 21h30 – Marc Ribot, Songs of Resistance.
Marc Ribot – Guitarra elétrica / Voz; Jay Rodriguez – Saxofone tenor / Flauta; Brad Jones – Contrabaixo; Ches Smith – Bateria; Reinaldo de Jesus – Percussão.
02/08, 18h30 – Maja S. K. Ratkje.
Maja S. K. Ratkje – Eletrónica.
02/08, 21h30 – Heroes Are Gang Leaders — The Amiri Baraka Sessions.
Thomas Sayers Ellis – Spoken word; James Brandon Lewis – Saxofone tenor; Melanie Dyer – Viola; Luke Stewart – Baixo elétrico; Jenna Camille – Piano / voz; Randall Horton – Spoken word; Nettie Chickering – Voz; Bonita Penn – Spoken word; Heru Shabaka-Ra – Trompete; Devin Brahja Waldman – Saxofone alto / Teclados; Warren Trae Crudup III – Bateria; Brandon Moses – Guitarra elétrica.
03/08, 18h30 – Ingrid Laubrock & Tom Rainey.
Ingrid Laubrock – Saxofones soprano e tenor; Tom Rainey – Bateria.
03/08, 21h30 – Burning Ghosts.
Daniel Rosenboom – Trompete / Corneta; Jake Vossler – Guitarra elétrica; Richard Giddens – Contrabaixo; Aaron McLendon – Bateria.
04/08, 17h00 – Abdul Moimême.
Abdul Moimême – Guitarras elétricas / Objetos.
04/08, 18h30 – Toscano — Pinheiro — Mira — Ferrandini.
Ricardo Toscano – Saxofone alto; Rodrigo Pinheiro – Piano; Miguel Mira – Violoncelo; Gabriel Ferrandini – Bateria.
04/08, 21h30 –  Nicole Mitchell — Mandorla Awakening II: Emerging Worlds.
Nicole Mitchell – Composição / Flauta / Eletrónica; Avery R. Young – Voz; Tomeka Reid – Violoncelo / Banjo; Mazz Swift – Violino; Kojiro Umezaki – Shakuhachi; Alex Wing – Guitarra elétrica / Oud / Teremim; Tatsu Aoki – Contrabaixo / Shamisen / Taiko; Jovia Armstrong – Percussão.
08/08, 18h30 – ABACAXI.
Julien Desprez – Composição / Guitarra elétrica / Eletrónica / Luzes; Jean François Riffaud – Baixo elétrico / Luzes; Max Andrzejewski – Bateria / Sintetizador / Luzes.
08/08, 21h30 – Théo Ceccaldi, Freaks.
Théo Ceccaldi – Violino / Teclados / Voz; Mathieu Metzger – Saxofones alto e barítono; Quentin Biardeau – Saxofone tenor / Teclados / Voz; Giani Caserotto – Guitarra elétrica / Teclados; Valentin Ceccaldi – Violoncelo; Etienne Ziemniak – Bateria.
09/08, 18h30 – Joey Baron & Robin Schulkowsky.
Joey Baron – Bateria / Percussão; Robin Schulkowsky – Bateria / Percussão.
09/08, 21h30 – Tomas Fujiwara, Triple Double.
Tomas Fujiwara – Bateria; Gerald Cleaver – Bateria; Mary Halvorson – Guitarra elétrica; Brandon Seabrook – Guitarra elétrica; Ralph Alessi – Trompete; Taylor Ho Bynum – Corneta.
10/08, 18h30 – Zeena Parkins & Brian Chase.
Zeena Parkins – Harpa elétrica; Brian Chase – Bateria / Percussão.
10/08, 21h30 – Ambrose Akinmusire, Origami Harvest.
Ambrose Akinmusire – Composição / Trompete / Teclados; Kokayi Rap Justin Brown – Bateria; Sam Harris Piano / Teclados; Mivos Quartet Olivia de Prato – Violino; Maya Bernardo – Violino; Victor Lowrie Tafoya – Viola; Tyler J. Borden – Violoncelo.
11/08, 18h30 – ERIS 136199
Han-earl Park – Guitarra elétrica / Eletrónica; Catherine Sikora – Saxofone tenor; Nick Didkovsky – Guitarra elétrica.
11/08, 21h30 – Mary Halvorson, Code Girl.
Mary Halvorson – Guitarra elétrica; Amirtha Kidambi – Voz; Maria Grand – Saxofone tenor / Voz; Adam O’Farrill – Trompete; Michael Formanek – Contrabaixo; Tomas Fujiwara – Bateria.


© Heroes Are Gang Leaders, DR

A ir, no calor bem quente do nosso Agosto, para momentos inesquecíveis de boa música, nos belos cenários da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. •

Jazz em Agosto
© Imagem: pormenor do cartaz de divulgação.

Já recebe a Mutante por e-mail? Subscreva aqui .