Com o regresso a alguma nova normalidade, regressam também aqueles ciclos, festivais, programas,… que fazem sempre parte da nossa agenda cultural. Entre eles está, claro, Jazz em Agosto, na Gulbenkian em Lisboa, entre julho e agosto deste 2021.
“John Coltrane tinha desaparecido havia pouco tempo, enquanto Cecil Taylor e Ornette Coleman estavam a dar forma ao jazz vindouro quando, em 1968, Peter Brötzmann comandou uma trupe de improvisadores nas sessões que originaram o icónico álbum Machine Gun. A música explosiva gerada em torno do saxofonista alemão abriria um novo e fundamental capítulo na genealogia do jazz, em particular naquele que se desenvolvia no continente europeu e que era alimentado por fortes referências à música erudita contemporânea.“
É a essa energia vital que Brötzmann se propõe regressar, ao lado de Han Bennink (também presente em Machine Gun) e de Alexander von Schlippenbach, no concerto de abertura desta 37.ª edição do Jazz em Agosto. Porém, aquilo que escutará “estará longe de representar qualquer gesto de nostalgia, uma vez que, passadas cinco décadas, a música criada por estes incansáveis músicos continua a vibrar a corda da vertigem e da sofreguidão que só o presente pode conter.“
É essa contínua invenção do presente que se deve a Brötzmann, Bennink e Schlippenbach, e que contamina todo este Jazz em Agosto (cujo design gráfico é igualmente assinado por Peter Brötzmann). Através dos projetos de Mats Gustafsson (Fire! e The End), dos solos de bateria porosos à eletrónica e assegurados por Gabriel Ferrandini e Katharina Ernst ou de trompete por Luís Vicente, mas também dos frequentes concertos que navegarão por águas comuns ao jazz de vistas largas e às mais variadas declinações do imaginário rock, não rareiam exemplos de como a liberdade inaugurada por Machine Gun foi assumida como um valor primordial para toda a música que se seguiu no espaço do continente europeu.
Num ano em que se procura, ainda, “uma forma de recuperar a normalidade nas nossas vidas, o Jazz em Agosto assume um compromisso de reforço da presença de projetos portugueses, com a satisfação de os ver ombrear com os mais inventivos grupos a operar no Velho Continente. E retoma a sua vocação natural de tomar o pulso ao jazz que hoje se faz e que não se conforma em repetir o passado. Aqui, queremos continuar a ver a História a acontecer.“
Eis o programa do Jazz em Agosto 2021, para a sua agenda:
29/07, 21h00 – Brötzmann (saxofone tenor, clarinete, taragot) + Schlippenbach (piano) + Bennink (bateria); Grande Auditório.
30/07, 18h00 – Luís Vicente (trompete); Auditório 2.
30/07, 21h00 – The End / Allt Är Intet – Sofia Jernberg (voz) + Kjetil Møster (saxofone tenor, eletrónica) + Mats Gustafsson (saxofone barítono, flauta, eletrónica) + Anders Hana (guitarra barítono, langeleik) + Børge Fiordheim (bateria); Grande Auditório.
31/07, 18h00 – Ignaz Schick (Gira discos) + Oliver Steidle (Bateria, Percussão, Eletrónica) – ILOG2; Auditório 2.
31/07, 21h00 – IKIZUKURI + Susana Santos Silva / SUICIDE UNDERGROUND ORCHID, Julius Gabriel (Saxofones soprano e tenor) + Gonçalo Almeida (Baixo elétrico) + Gustavo Costa (Bateria e eletrónica) + Susana Santos Silva (Trompete); Grande Auditório.
01/08, 18h00 – João Pedro Brandão / Trama no Navio, João Pedro Brandão (Saxofone alto, Flauta, Composição), Ricardo Moreira (Piano, Órgão), Hugo Carvalhais (Contrabaixo), Marcos Cavaleiro (Bateria), Alexandra Corte-Real (Vídeo); Auditório 2.
01/08, 21h00 – FIRE! / DEFEAT, Mats Gustafsson (Saxofone), Johan Berthling (Baixo elétrico), Andreas Werliin (Bateria), Goran Kajfeš (Trompete), Mats Äleklint (Trombone); Grande Auditório.
05/08, 21h00 – PEDRO MOREIRA SAX ENSEMBLE / TWO MAYBE MORE, Pedro Moreira (Saxofone tenor), Mateja Dolsak (Saxofone tenor), Ricardo Toscano (Saxofone alto), Daniel Sousa (Saxofone alto), Tomás Marques (Saxofone soprano), Bernardo Tinoco (Saxofone soprano), Francisco Andrade (Saxofone barítono), João Capinha (Saxofone barítono), Mário Franco (Contrabaixo), Luis Candeias (Bateria); Grande Auditório.
06/08, 18h00 – Gabriel Ferrandini / HAIR OF THE DOG, Gabriel Ferrandini (Bateria, Percussão, Amplificadores), Miguel Abras (Eletrónica), Vasco Futscher (Escultura), Helder Nelson (Técnico de som); Auditório 2.
06/08, 21h00 – HEDVIG MOLLESTAD / EKHIDNA, Torstein Lofthus (Bateria), Erlend Slettevoll (Piano elétrico, Sintetizadores), Marte Eberson (Piano elétrico, Sintetizadores), Hedvig Mollestad (Guitarra elétrica), Ole Mofjell (Percussão), Susana Santos Silva (Trompete); Grande Auditório.
07/08, 18h00 – Katharina Ernst / EXTRAMETRIC, Katharina Ernst (Percussão); Auditório 2.
07/08, 21h00 – ANTHROPIC / NEGLECT, José Lencastre (Saxofones tenor e alto), Jorge Nuno (Guitarra elétrica), Felipe Zenícola (Baixo elétrico), João Valinho (Bateria); Grande Auditório.
08/08, 18h00 – João Lobo / SIMORGH, Norberto Lobo (Guitarra elétrica), Soet Kempeneer (Contrabaixo, Baixo elétrico, Teclados), João Lobo (Bateria, Voz); Auditório 2.
08/08, 21h00 – ROOTS MAGIC / TAKE ROOT AMONG THE STARS, Alberto Popolla (Clarinetes), Errico De Fabritiis (Saxofone alto), Gianfranco Tedeschi (Contrabaixo), Fabrizio Spera (Bateria), Eugenio Colombo (Flauta), Francesco Lo Cascio (Vibrafone); Grande Auditório.
A tomar nota. A ir, cumprindo as recomendações da DGS, em vigor. •