Um Diário Gráfico / Joana Corker

Em meados de maio, deste ainda tão singular 2021, trouxemos aqui à baila uma exposição que marcava a reabertura da Casa da Esquina, em Coimbra, após um segundo confinamento. A exposição de ilustração chegava-nos sob o nome de “A Volta à Quarentena em 80 dias” e o traço era de Joana Corker.

Ilustradora, designer gráfica, voz-multi-instrumentista e co-fundadora dos Birds are Indie – Joana Corker – levou, em formato físico, “A Volta à Quarentena em 80 dias” em forma de exposição, à Casa da Esquina. Um diário gráfico – que já havia sido publicado online pela própria e divulgado, também, pelo jornal Público P3 – que felizmente podemos ver ao vivo, na ida exposição, encerrada a 08 de julho de forma superlativa e numerada – com o lançamento deste Diário que aqui vos apresentamos.

Logo aquando da vernissage, no passado dia 15 de maio, Joana Corker foi praticamente intimada a editar, em formato de livro, esta sua viagem gráfica. E porquê?… Porque em vez de dar a volta ao Mundo como na obra-prima de Júlio Verne, Joana Corker hipnotizou-nos com uma volta à sua quarentena em 80 dias, “desenhando a normalidade num momento tão anormal, registando a vida em suspenso e as pequenas angústias que todos nós partilhamos até hoje.” Com um desenho minimal de traço negro, que por aqui já baptizámos como sendo o Traço Corker, este diário que percorria as paredes daquela casa tornava-se profilaxia obrigatória para a nossa visão e, consequentemente, para o nosso bem-estar.

A Volta que víamos exposta nas paredes da Casa da Esquina tinha, de facto, de estar connosco em casa. Em livro. Não por querermos memorizar que no dia 29/03/2020 a Joana descobriu um iogurte com quatro anos no seu frigorífico, repetimos, quatro anos, e o mesmo estava bom e foi comido, que a 20/04/2020 bateu uma saudade imensurável da Galiza e que fez ginástica ao som de um clássico “Pump Up The Jam… Pump It Up!“, que a 04/05/2020 o Jerónimo teve de arremessar rolos de papel higiénico para a casa-de-banho para “salvar” a Joana, que no dia 14 desse mesmo mês jantaram Alho à Brás… ou da falta que lhe fazia a “rotina” dos ensaios e até, cremos, das piadas secas em dose dupla e em stereo de Ricardo Jerónimo & Henrique Toscano.

Com concertos cancelados, uma agenda de designer virada às avessas, as incertezas incertas da incerta pandemia… Joana Corker decidiu, a bem dela e de todos, ilustrar a sua quarentena durante o primeiro confinamento, ali na primeira metade de 2020. No diário, os dias de uma ausência de normalidade, com apontamentos de quotidianos normais com cuidados anti-pandémicos – máscaras na rua, gel desinfectante, distanciamentos, jantares online com amigos… – um diário dela, mas dele também. Ou não fosse Ricardo Jerónimo, a figura esguia dos Birds are Indie, a sua parelha, tão retratado num diário quase sempre conjugado no plural.

Porém, rapidamente concluímos que todos os que ou online ou na exposição viram este diário perceberam que, de certa e estranha forma, o Diário da Joana não era só dela (e de Jerónimo). Era nosso, também. Um certo reflexo dos nossos confinamentos. Porque apesar de não termos feito ou comido empadão de arroz com ervilhas ou um bolo com receita “aldrabada”, muitos dos altos e baixos retratados por Joana Corker são semelhantes aos nossos, só mudam ligeiramente os temperos e alguns ingredientes, daqueles estranhos dias.

Um diário onde podemos ver a gata da vida de Joana e Jerónimo, os amigos à varanda que visitavam da rua, as saudades dos aniversários juntos e passados na altura à distância, as compras para a família, as entregas em bicicleta de “Migrations – The travel diaries #1” – álbum lançado em 2020, os dias menos bons, os almoços e jantares em que sabemos que se alimentam bem e de forma saudável (e que há uma tendência para o Alho à Brás e o Molho de Francesinha é um must have), os desportos inusitados, os dias que mesmo de quarentena eram animados vs os dias que em quarentena a mandavam abaixo. Um Diário que felizmente a Casa da Esquina se aventurou a editar e que, numa (primeira) edição de 100 exemplares, numerados à mão, a bom ritmo, pela gráfica Joana Corker já reservou o seu lugar em várias estantes.

Um Diário Gráfico que recomendamos ter, em sua casa. Para o ter… Sugerimos contactar a autora ou a Casa da Esquina. •

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