Depois da recente compra dos restantes 50 por cento da Quinta do Vidiedo, na sub-região do Cima Corgo, 2022 marca a celebração da passagem do tempo desde a construção da adega, a primeira vindima e a estreia do vinho engarrafado.
A compra de parte da Quinta do Vidiedo, localizada em Adorigo, Tabuaço, no Douro, registada em 2003, realizou-se por parte de José Ferreira. Nascido no concelho de Santa Marta de Penaguião, efectivou esta acção em homenagem ao pai, Francisco Ferreira, mais conhecido pelo “Pôpa”, cujo sonho era ter uma propriedade vinhateira na mais antiga região demarcada no Douro. Este foi apenas o início a longa caminhada no universo vitivinícola desta família.
Findos quatro anos, em 2007, a história desta família é marcada por três grandes passos: a construção da adega, a estreia na colheita das uvas e o primeiro vinho engarrafado. Some-se a aquisição de parcelas circundantes, o que totaliza 14 hectares de vinha. Passados 15 anos, a Quinta do Pôpa – nome atribuído em 2010, à propriedade – continua a dar cartas, graças ao trabalho realizado, primeiro, em conjunto com os filhos, Stéphane e Vanessa Ferreira e, agora, pelos próprios, os representantes da terceira geração.
“Estamos a viver a história do nosso pai (…) e a viver mais esta região”, diz Vanessa Ferreira. Nascida em França, tal como o irmão, veio para Portugal, com destino a Mira, localizada na região bairradina. Este resumo da sua história explica a relação de amizade de seus pais, José e Rita Ferreira, com Luís Pato, reconhecido nome do vinho, que, em 2010, assume a enologia da Quinta do Pôpa. A sua entrada na empresa ocorre simultaneamente com a integração de Stéphane Ferreira nas vendas.
Em 2011, chega a vez de Vanessa Ferreira, que envereda pela vertente de enoturismo, daí assiduidade, o envolvimento e a paixão de ambos no incremento deste negócio familiar, que, em Agosto de 2020, foi ampliado, graças à aquisição da restante parte pertencente à Quinta do Vidiedo. Com mina de água, mata e pomar, esta parte – de 20 hectares, dos quais oito hectares são de vinha, entretanto reestruturada – recentemente agregada à propriedade da família Ferreira, tem casario, onde será instalado o turismo de habitação, cujo projecto conta com a assinatura de um arquitecto da região duriense. Feitas as contas, a Quinta do Pôpa totaliza, agora, 40 hectares.
Preservação do ecossistema e do património da região
“Queremos dar [à quarta geração] o que o pai nos deu”, salienta Vanessa Ferreira. A prova está na criação de uma horta, com produtos biológicos, na Quinta do Pôpa. “Será plantada a 15 de Abril, por toda a equipa e pelos nossos filhos!” A ideia é ampliar as boas práticas ambientais no terreno e assumir o potencial da propriedade, constituída por: vinha, de aproximadamente 24 hectares, com exposição a Norte; olivais tradicionais, com as variedades de azeitona Cobrançosa, Cordevil, Galega e Madural; pomares de árvores de fruto; e floresta, também conhecida por mato mediterrânico. A vinha velha, plantada em 1932, “está, desde há três anos, livres de herbicidas”, reforça Stéphane Ferreira. Em suma, tudo é feito em prol da preservação do ecossistema.
No âmbito da preservação da biodiversidade, na Quinta do Pôpa, Vanessa, Stéphane e José Ferreira sublinham ainda três aspectos importantes: o aproveitamento da compostagem na vinha; a utilização da energia gerada através dos painéis instalados na adega e a conversão de (quase) todas as máquinas para o sistema eléctrico – à excepção dos tractores. Acresce o respeito pelas castas tipicamente durienses, com as devidas reconversões realizadas ao longo destes anos.
“Só temos aqui [castas] tintas”, ressalva Stéphane Ferreira, referindo-se às parcelas de Touriga Nacional (€19,66), Tinta Roriz (€24) e Touriga Franca (€24), as quais constituem os vinhos monocasta representados, no rótulo, pelas respectivas iniciais. Nas vinhas velhas há outras variedades de uva, como a Cornifesto, a Malvasia Preta, a Touriga Fêmea ou a Tinta Barroca, que Stéphane e Vanessa Ferreira querem preservar na Quinta da Pôpa.
Vinhas velhas e boas novas
Este trabalho, realizado com o apoio de Rui Soares, reconhecido viticultor na região, reflecte-se no vinho feito a partir de vinhas velhas, o Pôpa VV tinto (€29,30), cujas colheitas de 2007 a 2009, 2011 e de 2013 a 2016 estiveram à prova. Apesar das oscilações registadas nas três primeiras, da singularidade da intermédia e da crescente ascensão nas quatro últimas, todas espelham as características do Douro e a supremacia de uma vinha velha, mas também a influência que o clima incide em cada ano de colheita.
“A [colheita] de 2017 vai ser engarrafada em breve”, anuncia Stéphane Ferreira e vai precisar certamente de tempo em garrafa, “porque não há nada melhor do que deixar a natureza fazer a sua acção sem interferências”, argumenta Vanessa Ferreira, na sala de barricas, onde os relógios permanecem parados. Afinal, o acto de esperar é uma virtude dos produtores da Quinta do Pôpa, partilhada com Carlos Raposo, que assumiu a enologia em 2021 e já mostra o potencial do seu conhecimento nas boas novas do portefólio vínico desta adega.
É o caso do Pôpa Unoaked branco 2020 (€10,17). Feito a partir das castas Viosinho, Gouveio, Rabigato e Folgasão, cujas uvas, segundo Carlos Raposo, foram submetidas a uma “selecção na vinha”, este vinho revela frescura, denota uma agradável sensação de mineralidade e um final longo.
A frescura é transversal a dois vinhos premium produzidos nesta propriedade duriense. São eles Pôpa Black Edition branco 2019 (€14,92), feito a partir de uvas vindimadas em vinhas velhas, em solo granítico, com notas de acidez equilibrada e sensação de mineralidade, atributos ideias para harmonizar com queijos e petiscos; e Pôpa Black Edition tinto 2018 (€14,92), no qual a Tinta Roriz, a Touriga Franca, a Tinta Amarela e as vinhas velhas conferem notas de frutos maduros e especiarias, bem como boa acidez a este vinho macio, sem taninos, perfeito para acompanhar assados no forno. Sem esquecer o Pôpa Black Edition tinto 2019 (preço sob consulta), que exprime os mesmos predicados da colheita anterior.
Com aromas frutados, o baixo teor de açúcar, a frescura e a acidez equilibradas, o Quinta do Pôpa Port Vintage 2017 (€54,24) foi desenhado por Stéphane e Vanessa Ferreira, para o pai de ambos. “O mais surpreendente foi um dia chegar aqui e darem-me a provar este vinho (…) provar este vinho, fez-me recordar quando os patrões viravam as costas e provávamos estes vinhos numa malga”, descreveu José Ferreiras acerca desta segunda edição do Vintage Port da Quinta do Pôpa.
A caixa deste Vinho do Porto Vintage contém uma fotografia deste homem empreendedor, exímio – dizem – saxofonista, aptidão que lhe valeu conhecer quem viria a ser, em tempos idos, a sua futura mulher, Rita Ferreira.
Todos estes vinhos e tantos outros do portefólio desta propriedade duriense, localizada em Adorigo, estão disponíveis na loja da Quinta do Pôpa. Vale a pena a viagem até este miradouro para a paisagem dominada pelos serpenteantes vinhateiros, com o Rio Douro a seus pés, para degustar as diferentes gamas aqui produzidas, mas não sem antes reservar e solicitar mais informações, até porque a vertente de enoturismo já está de portas abertas.
Brindemos!