Em setembro de 2014 o Festival PUSH PORTO irrompeu com força, não exatamente inusitada, mas pela determinação de pessoas que desejavam ver na cidade as marcas de uma arte – urbana.
Conversei com Ana Castro, na assunção de Ana Muska – cofundadora da CIRCUS (juntamente com André Carvalho), uma das mentoras do festival PUSH PORTO, investigadora, para indiciar apenas algumas pistas, há exatamente um mês e um dia. Com uma tese de mestrado dedicada à arte urbana, com foco na cidade do Porto e datada de junho de 2014, que haveria de ser posteriormente publicada, Ana soube também defender a prática que colocou à disposição pública em setembro de 2014, com um festival, bem ainda providenciar as condições para defender através de uma agência a produção, a exposição, a venda, o design, a música – sempre com a marca essencial da arte urbana. Neste momento prossegue na sua indagação relativa a este espetro da arte, dando curso a um doutoramento que visa acarear a participação comunitária em bairros de habitação social.
Remontando a 2014, de facto, o Festival PUSH PORTO foi inovador, congregou artistas, disseminou imagens, o que se fez valendo-se de uma organização estrita, com programação paralela associada. Permaneceram durante estes nove anos a chegar agora aos dez algumas intervenções decorridas nesse festival: na Rua do Mirante – Vidam + Look, na Rua de Camões – Colectivo Rua + Breakone, no cruzamento da Rua da Alegria com a Rua do Moreira – Mesk + Third. O festival, então, além dos murais, contemplou: palestras, documentários, workshops, exposições e festas. Na sua tese de mestrado, Ana Castro também aduz uma síntese reveladora, que incorporo aqui: “Após estudar todas as entidades e organizações de arte urbana, portuguesas e não só, entendi que a melhor solução para a evolução do graffiti, para a diminuição do vandalismo, a valorização cultural e patrimonial e o desenvolvimento turístico, não é o combate ao graffiti, mas sim a sua aceitação.”
Portanto, existe uma reflexão concomitante à prática a que vai sendo dado seguimento: enquanto permaneciam edifícios abandonados e devolutos, aos quais a arte urbana poderia trazer uma vida provinda da criação, superando-se assim uma imagem de vandalismo associada ao graffiti, redobra-se a atividade visual no pensamento que a palavra também proporciona. Por outro lado, perfilam-se programas associados à arte urbana que funcionaram como instigadores para que se fizesse algo diferente no Porto, a saber: Galeria de Arte Urbana – GAU, em Lisboa, criada em 2008; o WOOL, que decorre na Covilhã desde 2011; Walk and Talk, em Ponta Delgada desde 2012.
Para Ana Muska e Ana Castro, fazedora e pensadora, podemos concluir que existe uma preocupação e atenção à arte urbana enquanto possibilidade de criação de lugares: para isso afigura-se essencial a participação ativa por parte de quem vive, de quem passa habitualmente por, de quem trabalha, num determinado ponto da cidade. E assim, deve chegar-se a um equilíbrio entre a liberdade dos artistas, por um lado, e a participação comunitária, por outro.