Jards Macalé, lenda viva da música brasileira, atua esta semana no gnration. O músico e compositor revisita o disco homónimo lançado há mais de 50 anos, num concerto que se espera que fique retido na memória auditiva.
Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé, regressa esta semana a Portugal para, em jeito de celebração, revisitar o disco de estreia homónimo, de 1972. A passagem por território nacional arranca já sexta-feira com um concerto no gnration, em Braga. Revolucionário, inquieto e irreverente, Jards Macalé é uma das figuras
mais genuínas e um pilar da Música Popular Brasileira e do movimento musical Tropicália.
Herói quase desconhecido, “o professor” – apelido dado carinhosamente pelo público brasileiro – é senhor de uma carreira notável. Aos 81 anos, dos quais quase 60 de carreira, escreveu, compôs, arranjou, colaborou e trabalhou com alguns dos nomes mais reconhecidos e aplaudido do cancioneiro brasileiro. Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Vinicius de Morais, Tom Jobim, João Donato, Criolo ou Kiko Dinucci, a obra de Jards é um verdadeiro tesouro que transcende géneros e gerações.
A parceria com Gal Costa é certamente uma das mais significativa da história do músico de Ipanema. “Vapor Barato”, “Mal Secreto”, “Anjo Avesso”, “Plusars e Quasars” ou “Hotel das Estrelas” são algumas canções de Macalé que foram eternizadas pela voz da musa brasileira. Jards acompanhou-a ainda em diversas digressões, discos e na
performance histórica de “Meu nome é Gal”, que arrebatou a televisão brasileira. Maria Bethânia é outra voz poderosíssima que imortalizou algumas canções do músico como “Movimento dos barcos”, “Anjo Exterminado”, ou mais recentemente “Mistérios do nosso amor”.
Jards Macalé é ainda uma das mentes por detrás da obra-prima “Transa”, de Caetano Veloso. Exilado em Londres, Caetano convida Macalé para fazer arranjos, produzir e tocar guitarra e violino neste disco, recorrentemente acalmado como um dos melhores da música brasileira.
À semelhança de Caetano Veloso e muitos dos seus contemporâneos, Jards Macalé contestou ativamente a ditadura militar que prendeu o Brasil entre 1964 e 1985. A sua obra foi censurada e o seu nome rasurado nos jornais. Chegou a estar a poucos passos da prisão quando encabeçou o espetáculo “O Banquete dos Mendigos”, em 1973, para
assinalar os vinte e cinco anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Num programa que juntou nomes como Milton Nascimento, Chico Buarque Gal Costa e Raul Seixas, Jards ia entoando alguns dos artigos na Declaração.
Lançado em 1972, Jards Macalé é o disco que o professor revista no gnration. Este trabalho inovador e essencial junta o espírito do samba e da bossa nova com a essência ardente do rock, as harmonias clássicas e a improvisação do jazz. Com o passar dos anos, Jards Macalé foi descoberto e aplaudido por uma nova geração, dando-lhe uma nova força e uma segunda vida. Em 2022, aquando dos 50 anos deste trabalho, o professor montou uma nova banda, com Gui Held na guitarra, Pedro Dantas no baixo e Maria Portugal na bateria. Em jeito de celebração e homenagem, Jards Macalé revisita agora este trabalho com uma série de concertos em Portugal que serão como a sua própria obra: indomável e inesquecível.
A colocar na sua agenda: dia 15/03/2024, pelas 21h30, em Braga, no gnration. •