Dois amigos, duas linhas sonoras, duas curtas, um convite e um disco. Um disco country com muito western que acompanha duas curtas metragens de Charlie Chaplin. Um disco que os amantes de cinema e deste estilo musical não podem perder e do qual vão, rapidamente, ficar reféns.
No álbum The Immigrant & The Vagabond, Pedro Renato e John Mercy, criaram a banda sonora de dois dos filmes mais icónicos de Charles Chaplin – The Immigrant de 1917 e The Vagabond de 1916. Acompanhados nas vozes por Raquel Ralha (Belle Chase Hotel) e por Ruby Ann, urdiram as melodias e as palavras para cada um dos segundos destes dois clássicos do cinema. Em cada uma das 14 músicas deste disco, a narrativa de cada cena criada por Chaplin há mais de um século, é acompanhada de forma magistral por John Mercy e Pedro Renato num desfile de classe e respeito pelo mestre. Mais do que um álbum, estes dois artistas criaram uma masterpiece que deve ser apreciado na companhia das imagens originais. Incontornável!
Este disco surge de um convite/desafio que foi endereçado pelo Cineclube Fila K para musicar duas curtas de Charlie Chaplin, no encontro de dois músicos: John Mercy e Pedro Renato. Pensado como duas bandas sonoras de cerca de 25 minutos cada uma, durante o processo de composição, os músicos decidem optar pelo formato canção ao invés do que seria esperado para banda sonora tradicional de um filme mudo. Dado que ambas estas curtas de Charlie Chaplin fazem parte do cinema mudo, o silêncio total permitiu uma maior maleabilidade dos temas que não se prendem com as vozes dos actores mas sim com as mudanças de cena. Nesse silêncio, a necessidade da narração literária preenche o espaço vazio e as paisagens sonoras dão origem a canções que
perceberam que iriam existir muito para além do formato de banda sonora mas sim enquanto canções, que encontrariam o seu espaço num formato de álbum tradicional.
Para além da criação de toda a banda sonora, os artistas cuidaram de todo o artwork do disco, tendo passado horas na biblioteca do congresso norte americano a pesquisar as digitalizações de jornais de 1916 e 1917 para encontrar as notícias da época e inclusive os anúncios e críticas de ambos os filmes da mutual do Chaplin. Como resultado, esta pesquisa traduziu-se num encontro de realidade e ficção entre literatura e notícia da época que constitui o artwork do disco.
“Those Cruel Words” é o primeiro single destas curtas musicadas com canções criadas por John Mercy e Pedro Renato. Rubby Ann fez parte dos The Boppin’ Boozers e conquistou o mundo com a sua voz e presença em palco. Tendo passado por alguns dos festivais de música Rockabilly/Rock’n’Roll/Country mais emblemáticos da Europa, pisou inúmeros palcos nos Estados Unidos, tendo uma presença forte e demarcada na cena country. Regressa agora a Coimbra, onde vive, e dá um toque de sensualidade aveludada e aconchegante a este primeiro single. Todos os singles terão um vídeo que é um trecho da curta e serão lançados mensalmente, permitindo ao espetador/ouvinte fazer parte da história.
John Mercy é o alter-ego de João Rui, mais conhecido como o vocalista e multi-instrumentista da banda conimbricense a Jigsaw. Com mais de duas décadas de carreira nesta banda, os álbuns, os ambientes musicais, as composições e particularmente o timbre da sua voz foi por diversas vezes comparada a nomes de relevo como Leonard Cohen, Nick Cave, Tom Waits. Nos últimos sete anos tem estado também ligado à parte da produção musical em estúdio e já conta com a mistura e masterização de mais de 70 títulos entre Álbuns EP’s e Singles. Desde o rock dos Twist Connection, Dean Wareham (Luna), Legendary Tigerman, D3O, Selma Uamusse, From Atomic, Mancines e até à electrónica dos Ghost Hunt, são já diversos os discos que lhe passaram pelas mãos.
Foi também convidado pelos herdeiros de António Variações para adaptar alguns dos seus temas mais emblemáticos para inglês tais como “Estou Além” “Canção do Engate”, entre outros. Tem participado também em diversos projectos musicais, tanto como vocalista como instrumentista tais como Rita Redshoes, Belle Chase Hotel, Animais, Arthur de Faria & Seu Conjunto, Mancines,The Twist Connection, Victor Torpedo, Uniform, Animais, Pedro Renato e Raquel Ralha, Pedro e os Lobos, The Millions, Wipeout Beat, Tracy Vandal entre outros. Em 2020 avançou com o seu projecto a solo sob o nome de John Mercy, com o qual já conta com diversos singles em vinil e três álbuns de longa duração: Midnight Presents (apresentado como Tracy Vandal & John Mercy) de 2022 e The Murder Of Harry e West of The American Night de 2023, todos com o selo da Lux Records.
Pedro Renato é um dos fundadores dos Belle Chase Hotel e tem estado ao longo da sua carreira envolvido em inúmeros projectos tanto como produtor como músico. Casos maiores de sucesso para além dos Belle Chase Hotel que deixaram uma marca indelével no panorama musical nacional, há também a destacar a sua presença com os Azembla’s Quartet, um projecto dedicado a bandas sonoras. O seu primeiro trabalho foi para a curta-metragem “Respirar (Debaixo d’Água)” de António Ferreira. O grupo formado por Pedro Renato (guitarra e teclas), Raquel Ralha (voz), Luís Pedro Madeira (teclas), Pedro Pinto (bateria e percussão) e Joana Longobardi (contrabaixo) assinou também a banda sonora do filme “Esquece Tudo o que Te Disse” do mesmo realizador e é editada em disco pela Subtonick. Em 2015 Pedro Renato regressa às edições com o álbum “Eden’s Inferno” da sua banda Mancines. Fez parte do projeto Animais – 15 Anos Sem Paredes, um álbum onde são revisitados e reinventados temas de Carlos Paredes. Enquanto produtor musical, Pedro Renato já esteve responsável por diversos projectos tais como: Legendary Tigerman, JP Simões, Belle Chase Hotel, Boite Zuleika, Danae, Maria Vasconcelos, António Olaio e João Taborda, The Millions, Mancines entre outros.
John Mercy e Pedro Renato: The Immigrant & The Vagabond – (produzido, gravado, misturado e masterizado por John Mercy e Pedro Renato, na Blue House) – sairá no próximo dia 08 de Abril com o selo da Lux Records.
A ouvir e reouvir. A deixar-se ficar refém desta música de excelência feita por cá. •