Branco, rosé e tinto são os três vinhos do Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte, cujos rótulos foram inspirados no Mosaico das Musas, descoberto na Villa Romana homónima. A apresentação teve lugar durante um almoço baseado em pratos da era dos romanos.

A Villa Romana de Torre de Palma dista poucos minutos do Torre de Palma Wine Hotel
A origem da Villa Romana de Torre de Palma remonta ao século III, época romana na Lusitânia. Segundo André Carneiro, arqueólogo e professor na Universidade de Évora, era constituída por residências pertencentes a um só proprietário, neste caso à família Basíli. “Era um sítio com uma identidade muito própria”, acrescenta o nosso cicerone, enquanto acompanha a visita guiada a este lugar localizado a poucos minutos do Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte, no distrito de Portalegre.
De forte componente agrícola, as villas romanas eram grandes complexos habitacionais, mas também “refúgios de famílias abastadas, abertos a outras famílias de elites”, esclarece André Carneiro. Além das ruínas da residência principal da então família Basíli, protegida pela estrutura em metal, há vestígios de edifícios do que teriam sido as termas e o templo religioso, com batistério, onde repousa uma cruz de Lorena. Adega e lagar, e demais casas de habitação de quem trabalhava na terra, na adega e no lagar.
É precisamente no que restava da residência da família Basíli que foi descoberto o icónico Mosaico das Musas. Estava disposto no pavimento da sala de jantar (triclinium) da Villa Romana de Torre de Palma, a zona nobre da residência da família Basíli. A recuperação deste painel deve-se a Joaquim Inocêncio, que, depois de encontrar um pedaço de mármore trabalhado durante os afazeres agrícolas, deparou-se com o painel composto por pedras coloridas de pequenas dimensões encoberto pela terra.
O Mosaico das Musas é composto por nove musas. Cada uma representa um ofício ligado às artes, desde a música à poesia, passando pelo canto ou pela matemática. O conjunto ornamenta os rótulos da trilogia vínica Torre de Palma Musas, uma homenagem aos romanos que viveram na Villa Romana de Torre de Palma e ao legado da época. Para levar a tradição romana à letra, os três vinhos foram estagiados em ânforas de barro italiano.
Para o Torre de Palma Musas branco 2023 “viajamos até à serra de Portalegre”, diz-nos Duarte de Deus, responsável pela enologia e viticultura na Herdade Torre de Palma Wine Hotel, mais concretamente a 500 metros de altitude, onde se situam as vinhas velhas, de onde foram colhidas as uvas brancas. A localização é próxima de Ammaia, a villa romana localizada em São Salvador de Aramenha, no concelho de Marvão. Já a Touriga Nacional do Torre de Palma Musas rosé 2023 serviu “para mostrar a versatilidade da casta”, segundo Duarte de Deus. Para o Torre de Palma Musas tinto 2021, a equipa de enologia optou pela Aragonez e a Antão Vaz (5%), que se revela um vinho fresco.

Atum em escabeche e Torre de Palma Musas tinto 2021
A cada vinho coube a criação de um prato baseado na arte culinária dos romanos, com base nas obras do escritor Lucio Juniur Moderatus Columela e do famoso Aspicius. A viagem gastronómica foi conduzida pelo espanhol Noé Conejo Delgado, chef, gastrónomo e professor de Arqueologia, e realizada pelo chef Miguel Laffan, a par com a equipa de cozinha do restaurante Palma by Miguel Laffan. O garum, “um dos condimentos mais valorizados da época, feito a partir de peixe gordo e servido para mascarar sabores menos agradáveis”, nas palavras do convidado d’além fronteiras, marcou presença à mesa. Atum em escabeche foi um dos pratos confecionado, com o propósito de vincar o importante papel do vinagre na conservação dos alimentos, ao qual se juntou a cherovia, uma vez que, no tempo dos romanos a batata era ingrediente inexistente na Lusitânia.
Do receituário do interior do Alentejo, deu-se protagonismo à galinha dourada, “uma receita muito comum por aqui”, enalteceu o chef Miguel Laffan. Foi cozida e posteriormente assada no forno, com alecrim e azeitonas. Este prato, Duarte de Deus decidiu juntar o Torre de Palma Musas tinto 2019, que marcou o início deste projeto. Já para a sobremesa, feita a partir de creme de queijo com framboesas e gel de mel, o responsável pela enologia dos vinhos produzidos na herdade selecionou uma amostra do rosé em ânfora da colheita de 2024.
Paulo Barradas, que juntamente com a mulher, Isabel Rebelo, fundaram o Torre de Palma Wine Hotel, aberto desde 2014, no território vitivinícola de Portalegre, no Alto Alentejo, exaltou a vitória de ambos no que à missão de elevar Monforte no roteiro enoturístico do Alentejo e do país. “Hoje acrescentamos a palma”, símbolo da vitória neste percurso traçado por dois farmacêuticos, que, desde o início, apostaram numa experiência envolvida pela História e pela Arqueologia, mas também o vinho, a gastronomia e o Cavalo Lusitano, numa permanente relação com o turismo.
Brindemos!