O jogos das nuvens / Inez Teixeira

A arquitetura paisagística da mui lisboeta avenida da Liberdade transita para nuvens suspensas da artista plástica Inez Teixeira, que, a preto e branco, preenchem as paredes da Brasserie Flo, do Hotel Tivoli. Uma janela aberta para um dos lugares mais emblemáticos da cidade das sete colinas, e sob um título pedido emprestado a Goethe: “O jogo das nuvens”.

Da série “O jogo das nuvens III”, 2014 / Impressão sobre tela (150 X190 cm)

“Quando cheguei aqui, vi que não vemos tanto verde quanto isso. É um troço da avenida com pouca vegetação e, sendo inverno, sem folhas, e deu-se o caso de o céu estar azul, mas cheio de nuvens. Lembrei-me, imediatamente, do livro do Goethe e pensei ‘porque não imaginar que estas nuvens refletem paisagens imaginárias, suspensas’ e, daí, estarem um pouco à mercê das condicionantes climatéricas”. As palavras são de Inez Teixeira que, através desta exposição “dá forma ao informe” através uma classificação das nuvens, “um pouco como no livro do Goethe”, a qual acontece com base “nos estudos de um outro senhor, que era um autodidata, Luke Howard”, autor do livro On the modifications of clouds, publicado em 1803.

Da série “O jogo das nuvens III”, 2014 / Impressão sobre tela (150 X190 cm)

Eis a inspiração para “O jogo das nuvens” composto por três peças grandes traduzidas em impressões sobre tela, feitas com base em três desenhos “muito preenchidos” em tinta da china, em A3, os quais “têm muito a ver com os movimentos da mão e do pulso”; e dois quadros, de pequenas dimensões, em acrílico e prata sobre papel, “um trabalho diferente, porque parte dos originais e há um intermediário, que é o máquina que, depois, os imprime, sobre a tela”. Uma apresentação metafórica transcrita na ideia de liberdade do desenho e da natureza, que “não se limita apenas à sua observação, porque está em permanente mutação”, sendo “essa enorme liberdade que me atrai no tratamento da natureza”. A “liberdade que a arte tem em acrescentar qualquer coisa num determinado momento da tua vida e, pelo menos, eu, como artista, procuro, sempre qualquer coisa que não consego sem ser através da arte, da literatura, da música…” A mesma liberdade que interage com o espaço, a Brasserie Flo, a primeira do ciclo de exposições temporárias de 2014 do Hotel Tivoli, patente desde o dia 13 de março até 15 de junho de 2014.

Inez Teixeira (Lisboa, 1965) formou-se em história de arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, mas as exposições começaram antes: “Foi uma coisa natural.” Sobre as mais recentes, destacamos a exposição “Onde nada existe” (2008), na Artform, no Estoril, “De dentro para fora” (2009) e “Time is on my side” (2011), ambas na VPF Cream Art Gallery e Coração Aventuroso (2013), na Fundação EDP, Museu da Electricidade, em Lisboa.

“Ser artista é uma coisa que tu não escolhes. É quase um estatuto que te escolhe”, remata a artista plástica a nossa conversa.

+ Tivoli Lisboa
© Fotografia de entrada: João Pedro Rato