Hotel Infante Sagres / Movimento intimista

Do nome guardamos a nossa e a tua história. Da nossa, um Infante, uma Ínclita geração, filho da Boa Memória, uma escola, um velho país que descobriu novos mundos. Da tua, um palácio outrora desmontado e perdido em promessas, e a de um novo palácio nascido de uma vontade.

Lobby

História de uma repetida dualidade, entre o velho e o novo, que torna clara a leitura de teu símbolo. Se na origem de teu nome foste associado à Cruz da Ordem de Cristo, hoje tinhas de ser uma linha de moebius, é ela que te resume. Torções geometricamente matemáticas de mundos unidos.

Corredor na zona dos quartos
Representas o velho e o novo mundo… Admirável mundo novo, certamente.

Da vontade, de um homem, foste encomendado. Tornaste-te Hotel Infante Sagres, referência a norte. Mais casa num projeto inicial, habitações appartements unifamiliares, mas hotel acabaste por ser, apenas e só. Tinhas de viver histórias sem fim, de receber ilustres nomes e nobres anónimos, absorver suas histórias singulares, de valor incalculável. Comendador Delfim Ferreira. Indissociável nome do teu espaço, do teu existir. Homem que te deu esta casa, que te reinventou a alma, que te deu o Porto e ao Porto te deu.

Do teu traço… Não. No teu traço nos perdemos e vivemos, no teu traço nos encantamos. Traços dos “verdes anos” numa cidade antiga que crescia e se redesenhava. Uma envolvente única que te abraça. As estreitas frentes da rua do Almada, barrocos de Torres, fachadas e cornijas, Beaux Arts no meio, Sé e decisões dos 24, e um Movimento Moderno, que em ti, foi temperado com décos. Traços datados modernos, de um estado da arte, de um nome incontornável da arquitetura portuguesa, de um nome que junto de seus pares: Ramos, Cassiano, Segurado… entre outros, marcou perfis, desenhou espaços. A tua paradigmática vizinha, Garagem do Comércio, que lhe pertence.

Restaurante Boca do Lobo

Em 50’s eras mais pesado, clássico carregado de neo-barrocos, savoir faire déco, tapeçarias gobelin… Mas os tempos mudam estéticas e tu soubeste acompanhar as mudanças, os movimentos dos estilos, das memórias. Soubeste reinventar-te de novo, sem perder elementos chave como uma tal lareira de talha renascentista. Claro que não renunciaste a Rogério de Azevedo, nem podias, nem querias. É o teu traço, a tua estrutura, a tua matéria, a tua forma, a tua funcionalidade(s) e todos os conceitos e termos que te façam mais arquitetura e hotel. Soubeste manter essa pele e mudar o coração, sem desfazer o Império. Na mudança, de há 3 anos, aliaste-te ao movimento do design português contemporâneo.
Mostras as suas peças, crias a aliança perfeita, revelas a alma das boas ideias. Continuas a abraçar o luxo exclusivo, requintado, sumptuoso, exquisite e fazes-lo tão bem com a Munna, a Boca do Lobo, a Delightfull. Pegas-nos de surpresa quando nos deixas Baccarat e Fornasetti a viver por ali, pegas-nos o sopro quando nos embalas com Nadir Afonso. Sonoridades nacionais e internacionais. Dois mundos, de novo.

Um dos quartos do hotel e Angkor Wat Spa
Tudo em ti guarda histórias, tudo em ti é história antiga e nova.

Tudo isto com estuques minuciosamente preservados, ferro forjado artisticamente elaborado, bronzes, um vitral de 1945, de Ricardo Leone exclusivo, desenhado só para ti, e para nós, tudo ali, belo e delicado. Peles com que nos encantas e segredos originais que guardas. Os espaços que se adaptam para contar novos segredos, para relembrar novas memórias. Foi assim que criaste novas dinâmicas espaciais para o espaço de um SPA, sem água, mas carregado de momentos terapêuticos. Angkor Wat. Negro que acalma, que serena, que recupera, sinónimo de tranquilidade a oriente.

Restaurante Bar Book e pormenor do Lobby

Foi também assim, com sábia perspicácia, que agarraste na livraria de teu contorno, a Livraria Avis, e a reviveste no BOOK, onde nos serves menus dentro de livros, onde preservaste e salvaguardaste a memória de funcionalidades passadas. Bem nos lembramos de Platão, à mesa, a acompanhar o nosso repasto. Calma, pensas que não reparámos? Sentimos tudo. Até a sapataria, que por ali habitou e que manténs viva, no bar… Com um bom livro e de pés bem calçados, quem não te recorda? A doce maneira com que nos fazes circular pelos corredores, pelo bar, pelo lobby, pela varanda, o modo como nos respondes aos pedidos mais exigentes, as perguntas mais enigmáticas, com que recebes singulariedades de convidados exuberantes, modestos, famosos, reconhecidos, pops, reais, doutos… Pára. Espera.

De repente, tomamos consciência: tu não viraste hotel, tu nunca deixaste de ser a primitiva casa, do projecto inicial. És uma casa que habitamos momentaneamente, com realidades distintas. És um hotel que é um prolongamento de uma casa porque nos acolhes, nos dás atenção, nos dás o melhor percurso, a melhor visita… Porque és sempre uma filosofia intimista, ao longo do movimento do tempo. Tu, Hotel Infante Sagres, és casa dos nossos movimentos, dos movimentos de quem, por acaso, cai no teu embalo. •

www.hotelinfantesagres.pt
© Fotografia: João Pedro Rato com Canon PowerShot G16