Uma experiência sem limite / Herdade da Malhadinha Nova

Num Alentejo outrora despido de desafios, os vinhedos determinam um vinho que, ao longo de uma década, reúne consensos à mesa. Assim, como o azeite, fruto da azeitona de oliveiras do passado e do presente. Assim como o silêncio recatado pela serenidade da natureza e por uma paisagem imponente que circunda a adega, o restaurante e o hotel, uma casa de traça antiga que une o contemporâneo ao tradicional numa partilha finamente equilibrada. Bem perto de Albernôa.
O nome: Herdade da Malhadinha Nova Country House & Spa.

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Após uma viagem longa bafejada pelo sol
e em boa companhia, eis o momento da chegada.

Ao fundo, a casa de família, que guarda o precioso traço alentejano, dá as boas-vindas. De fora, os sons do campo invadem a planície a perder de vista enquanto prosseguimos de carro até ao hotel, pois a casa dos hóspedes da Herdade da Malhadinha Nova fica mais à frente, rodeada de vinhedos, imersa numa tranquilidade profunda. Na Country House, a receção dá início a uma espécies de second life apetecível num ambiente confortável e, ao mesmo tempo, tão trendy protagonizado por peças antigas que coabitam em serenidade absoluta com a decoração contemporânea rematada pelo tom cru em contraste com o mobiliário de madeira de um castanho escuro que nos remete para a uma infância ditada pelos anos passados em casa das nossas avós.

Sem que a lareira, grande, da sala, passe despercebida, sobretudo nos dias frios que estão de volta; nem a mesa enorme, no espaço contíguo à cozinha concebida como open space, a qual recebe os hóspedes logo pela manhã, com generosos pequenos almoços firmados pela variedade e pelas cores vibrantes da fruta da herdade; nem o sumptuoso candeeiro de teto, com a assinatura do designer francês Philippe Starck, colocado sob o meio da mesa da sala, chame a atenção dos nossos olhos.

Dos amplos aposentos sobressai a fusão do design minimalista da decoração com a arquitetura típica do Alentejo, perfil de conforto e bom gosto rematados por tons suaves que casam bem com a candura das paredes interiores.

 

À mesa do Adega, o restaurante da herdade, estão Rita e João Soares, dois dos mentores da Herdade da Malhadinha, Luís Duarte, enólogo consultor, e Nuno Gonzalez, enólogo residente, ambos responsáveis pelos Malhadinha e pelos Monte da Peceguina. Afinal, os néctares dos deuses são a matéria prima preciosa da família Soares, bem como o desenho das vinhas e das castas para este terroir, os quais se convertem no mérito de Luís Duarte.

E porque a experiência é versada na gastronomia, começa a apresentação da carta de outono assinada por Joachim Koerper, o chef consultor cuja “sensibilidade”  e a “experiência” são enaltecidas por Rita Soares, a administradora desta propriedade alentejana, que nos dirigiu o convite para um almoço cinco estrelas iniciado por um Creme de castanhas com cogumelos de Paris cujo sabor persiste na contemplação do palato numa combinação perfeita com um Malhadinha branco 2005. O vinho existe apenas no espaço em questão, à semelhança de todos os que antecedem a última colheita.

A conversa prossegue pela gastronomia, que mui surpreende com a Bochecha de porco acompanhada por um duo de abóbora. “A cozinha alentejana com um toque contemporâneo”, reforça Rita Soares. No momento do brinde, o protagonismo é desempenhado por um Monte da Peceguina tinto 2004, perfeito na combinação com um prato desenhado para a estação. A finalizar, uma Tarte de pêra “da nossa herdade” com gelado de baunilha criada em sintonia com os tons do outono, sob a batuta do chef executivo Bruno Antunes.

“Nas estadias longas sugerimos uma refeição regional”, declara Rita Soares. Desafio aceite. O almoço do dia seguinte converteu-se num roteiro pelos sabores do Alentejo, com uma seleção de enchidos e um queijo de cabra gratinado harmonizado com orégãos e azeite Herdade da Malhadinha Nova, extraído da azeitona dos 70 hectares de olival da herdade. Seguiu-se um prato típico de carne de novilho com grão, batata doce, abóbora, enchidos… Um repasto “de comer e chorar por mais”, da autoria da cozinheira Vitalina, que tão bem conhece a gastronomia da região. A rematar, um duo composto por um bolo de chocolate húmido com gelado de baunilha. O repasto ideal para quem se aventura a andar de bicicleta durante duas horas e meia. A propósito dos passeios de bicla, recomendamos que marque a Herdade da Malhadinha Nova no GPS do telemóvel para qualquer eventualidade…

Gastronomia aromatizada com dois dedos de conversa

O sol repousa suavemente para lá dos montes quando ainda percorremos a herdade de Moto 4 – sim, uma aventura em pleno Alentejo – rematado por um curto passeio de bicicleta, pois o compasso de espera é inatingível e o workshop Cooking Experience tem hora marcada. Em cima da bancada da cozinha em open space da Country House estão os ingredientes indispensáveis para um prato típico da região: Migas de espargos com porco preto.
Beirão de alma e coração, Bruno Antunes imbuiu o espírito da cozinha do Alentejo já lá vão três anos, revelações feitas numa conversa animada sobre o vinho, a gastronomia e a importância da qualidade dos alimentos, durante a qual Joachim Koerper elogia as migas alentejanas do chef residente. E porque o workshop é para isso mesmo, não resistimos! “Metemos a mão na massa” sob a supervisão de ambos e aprendemos, passo a passo, a receita genuína da conceção de um deleitoso repasto além Tejo. Já no final, Joachim Koerper encarregou-se do empratamento, processo criativo dotado de sabedoria, mas desfeito em garfadas acompanhadas de louvores.

A experiência prolonga-se à mesa do Adega, com mais dois pratos da carta da estação: Puré de grão de bico com ovo escalfado, presunto de pata negra e cogumelos de outono e Bacalhau acompanhado por trouxa de couve em emulsão de tinto. Um repasto divinal harmonizado com Monte da Peceguina branco 2012 e uma boa conversa, finalizado pela subtileza de Macarrons e gelado de natas, para terminar em bem.

Três dias harmonizados com bom vinho

O mesmo não seria se nos despedíssemos sem dizermos uma palavra sobre o vinhedo – 33 hectares ao todo –, as uvas colhidas pelas mãos de quem sabe, as castas – sete brancas e sete tintas –, o vinho aprimorado ao longo de uma década na adega construída de raiz com um layout traduzido por gravidade. Uma retrospetiva ascendente no culto da qualidade suprema identificada por rótulos que primam pela diferença e pela exclusividade, criados pelas mãos dos filhos de João e Rita Soares e de João Soares – o terceiro sócio –, verdadeiros mestres da arte do desenho. Traços delineadores do princípio de uma história iniciada pela nova geração da família Soares, vinculada a um presente demarcado por 450 hectares e de olhos postos no futuro.

E o mesmo não seria se nos despedíssemos sem falarmos do refúgio dos deuses em pleno Alentejo, um lugar concebido para relaxamento total do corpo e a entrega da alma por uma soma de minutos traduzidos numa eternidade tão apaziguadora; e sem dizermos para se render às experiências made by Herdade da Malhadinha Nova, onde a gastronomia, a aventura e o desporto, o romantismo, a enofilia, a natureza, as artes, e a tradição regional não conhece limites, porque há que “fazer da vida uma festa”. •

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© Fotografia: João Pedro Rato