Os traços coloridos que dão forma aos motivos da vida ilustrados nas colchas albicastrenses serviram de inspiração à artista plástica Cristina Rodrigues, que lhes concedeu uma nova interpretação para integrarem uma mostra de tapeçarias concebida com a portuguesa Ferreira de Sá.
É em Castelo Branco, no Centro de Cultura Contemporânea, que a colecção original concebida por Cristina Rodrigues para as Tapeçarias Ferreira de Sá se encontra à vista de quem o visitar. No título “Jardins da Vida” está implícita a arte de bordar protagonizada por senhoras que, através de fios de seda, ilustravam os motivos da vida replicado nas famosas colchas, como “a árvore da vida, a flora, através de motivos variados – cravos e rosa; a fauna – os pássaros, as estações do ano, os casais tradicionais”.
Mas quantos séculos conta o bordado de Castelo Branco e quão importante é não deixar cair tão valioso património no esquecimento? “As primeiras colchas bordadas que inspiraram o Bordado de Castelo Branco surgiram durante o período colonial Português e têm, fundamentalmente, duas proveniências que inspiraram as principais temáticas ainda hoje replicadas nesta técnica: As colchas inspiradas nos motivos característicos do Sul da China e as colchas inspiradas nos motivos típicos do Sul da India.”
Portanto, “esta opulenta técnica viajou por terra e mar até chegar a Castelo Branco, local onde, ainda hoje, se produz o conhecido Bordado de Castelo Branco, usando a seda natural e o linho pelas mãos das mais talentosas bordadeiras, com décadas de experiência neste nobre ofício” feito com mil e uma cores, que nos reporta a conventos e casas senhoriais dos séculos XVIII e XIX. “É precisamente nestes ambientes que surge a técnica de bordar, hoje conhecida como o Bordado de Castelo Branco” que “foi, desde sempre, uma técnica luxuosa resultado dos materiais utilizados na sua produção – linho e seda natural”.
A explicação é dada por Cristina Rodrigues, a artista plástica portuguesa que viveu em Manchester durante os últimos anos anos trocando, há um ano, a cidade de Terras de Sua Majestade por Castelo Branco, para concluir a encomenda da obra de arte em Bordado de Castelo Branco, que irá integrar este ano a colecção da Catedral de Manchester e dá vida a esta mostra composta por uma tapeçaria de grande escala concebida por um grupo de oito artesãs que ainda tecem nos teares artesanais da Ferreira de Sá baptizada de “Asas de um Anjo” executada em nó manual português – “esta técnica de produção faz parte do património histórico e cultural da empresa que, ao longo dos anos, preservou este oficio e este tipo de ponto tipicamente português, mais especificamente das zonas costeiras” – e uma tríade de narrativas produzidas em tufting – “A Árvore da Vida”, “Ramo da Vida” e ‘Jardim da Vida”.
Em comum, o trio representa-se pela palavra “vida”,“um universo fascinante cheio de histórias encantadas que ficam agora gravadas em cores e texturas nas belíssimas tapeçarias da Ferreira de Sá. Assim como dizem os versos de António Gedeão ‘(…) o sonho comanda a vida, (…)’, e é mesmo assim, entre sonhos e narrativas reais deste novo lugar que deixa uma marca em mim através dos riquíssimos motivos e cores – a representação da vida.”
Os têxteis são, uma vez mais, os eleitos por Cristina Rodrigues para dar corpo a mais um trabalho que desperta o público para tão valioso património fomentado pelo universo feminino. “O bordado, o tear manual, os linhos fazem parte da história da mulher. Esta história tem de ser contada e é muito importante para perceber a história de um país. Como mulher quero perceber melhor a minha história e o legado das mulheres portuguesas. Interesso-me sempre por projetos que me permitem conhecer um pouco mais sobre a minha herança cultural e que possibilitam trabalhar em proximidade com as artesãs.”
No percurso da artista plástica portuguesa importa, por conseguinte, salientar os projectos desenvolvidos com outras mulheres, como “A Manta Amarantina”, feito em parceria com as tecedeiras de Fridão, em Amarante (2015), “O Sudário”, com as tecedeiras da Várzea de Calde, em Viseu (2016), “The Kingdom of Heaven”, com as bordadeiras de Castelo Branco (2017) e, agora, este com as artesãs das Tapeçarias Ferreira de Sá. Todos “trazem novos elementos à história da mulher Portuguesa, e enriquecem o meu léxico visual”.
Sobre a visita aos “Jardins da Vida”, há que agendar de Terça a Domingo, das 10 às13 horas e das 14 às 18 horas, no Centro de Cultura Contemporânea, em Castelo Branco, até 10 de Dezembro de 2017. •