O tempo é precioso. Mais ainda quando se trabalha o que a terra dá em nome da preservação do ecossistema. E, nesta propriedade alentejana, o ciclo da natureza é tratado com desvelo.
O calor aperta pelas 11 da manhã na Herdade Aldeia de Cima, propriedade de Luísa Amorim e Francisco Rêgo, situada em Santana, no concelho de Portel, e que se estende ao Baixo Alentejo. Vale a sombra frondosa do montado e a destreza com que os homens retiram a cortiça dos sobreiros (quercus suber). Munidos de machados, o corte é executado com precisão. A técnica aplica-se, também, na extracção da grossa casca de cada sobre, para não prejudicar a árvore. São décadas de saber que passa de geração em geração, para que este trabalho perdure no tempo, factor de grande valor no decorrer deste ofício que vem do antigamente.
Some-se à técnica o saber empírico dos homens. Afinal, há que ter em atenção à condições atmosféricas, porque basta chover no dia seguinte à extracção da cortiça, para provocar uma “ferida” no tronco do sobreiro. Em contrapartida, a humidade nocturna, causada pela amplitude térmica, dá origem à seiva na parte interna da cortiça – que está em contacto com o tronco – facilitando, assim, a tiragem desta matéria-prima.
A idade dos sobreiros da Herdade Aldeia de Cima, em alguns casos, ultrapassa os cem anos, razão pela qual nem todos os sobros são submetidos à extracção da cortiça ao mesmo tempo. Esta realiza-se a cada dez anos, sendo os solos pobres a causa apontada para este intervalo no tempo. Só assim se obtém a espessura desejável para a produção de rolhas, desta feita, na Corticeira Amorim, a empresa da família de Luísa Amorim.
Saber esperar é, por conseguinte, uma das muitas virtudes de quem vive da terra. O exemplo estende-se, igualmente, aos sobreiros mais jovens de cuja cortiça extraída é designada de “cortiça virgem”. Esta não apresenta a espessura pretendida para a produção de rolhas, sendo aproveitada para peças de artesanato. A morosidade é, por conseguinte, encarada com naturalidade, pois só aos 25 anos e com o diâmetro do tronco a medir 70 centímetros é que o sobreiro possui a cortiça com as condições necessárias para esse fim.
Terminado o trabalho, o último número do respectivo ano é desenhado na árvore para que, dali a uma década, aquela matéria-prima seja, novamente, retirada.
Esta atitude revela o respeito do Homem pelo ciclo da natureza, pela calma que lhe é intrínseca, por um ecossistema baseado na sustentabilidade ambiental dos montados, constituído pelo sobreiro e pela azinheira (quercus rotundifólia) que, em conjunto, propiciam as condições ideias para o habitat de animais selvagens, fornecem alimento (respectivamente, o land e a bolota) ao porco alentejano e às ovelhas – neste caso, aos mais de 1500 Merinos Brancos da Herdade Aldeia de Cima – que, em regime de pastoreio ajudam, ainda, na preservação dos solos e, consequentemente, da biodiversidade. E, simultaneamente, na sustentabilidade económica ou não comportassem, os montados, a dinamização social e a manutenção do futuro.