Os arbustos da planta do chá convidam a perder-se pela paisagem, com o casario alvo e o Atlântico, ao fundo, a comporem a idílica imagem avistada do miradouro desta casa fundada no inicio do século XX. Termine com uma prova na sala rústica da fábrica.
A curta avenida, ladeada de plátanos, acompanha, quem entra, até à entrada do Museu da Fábrica do Chá Porto Formoso, em Porto Formoso, freguesia da Ribeira Grande, na Ilha de São Miguel, Açores. Criada no início do século XX, por Amâncio Maia, a empresa fecha em finais da década de 1980, “devido às flutuações dos preços do chá no mercado, concorrência dos chás de Moçambique, industrias tecnologicamente estagnadas, ausência de cooperação ou associação dos industriais”, esclarece José António Pacheco.
Natural de Porto Formoso, “filho de neto de produtores agrícolas de chá, que, entre outros, forneciam a folha a diversas fábricas” e licenciado em Engenharia Agrícola, pela Universidade dos Açores, José António Pacheco decide, em 1998, comprar esta unidade fabril e a sua cultura do chá, a par com a sua mulher, Regina Medonça, que, em conjunto, constituem a Pacheco & Mendonça, Lda..
A reabertura de portas ocorre em 2001. “A ideia era recuperar uma antiga fábrica, torná-la funcional e agradável a quem a visita; e quem visita os Açores gosta de apreciar a sua paisagem, conhecer a sua história, provar os seus produtos genuínos e tradicionais. A Chá Porto Formoso reúne todos estes ingredientes e, com o aumento do fluxo turístico dos últimos anos, o projecto foi uma aposta ganha”, avança o anfitrião. Desde então, Regina Mendonça organiza a anual Festa da Colheita, “que conta já com vinte edições”. O evento reúne mais de uma centena de figurantes vestidos a rigor, para recriar a apanha manual do chá de outros tempos.
Em 2013, foi a vez do Chá Porto Formoso receber a certificação de modo de produção biológico, “uma estratégia para a melhoria da qualidade do produto”, com o objectivo de “contribuir para uma agricultura sustentável e amiga do ambiente”, afirma o nosso anfitrião e também fundador da Confraria do Chá Porto Formoso, da qual é, actualmente, o seu presidente.
Sem data prevista para aceder à fábrica por parte dos visitantes, o convite a entrar no núcleo expositivo é imediato. Aqui é possível observar diversos utensílios rudimentares usados nos trabalhos de campo e nas várias fases do processo de transformação das folhas dos arbustos da Camellia sinensis – a planta do chá, originária da China. Neste mesmo espaço, é possível visionar um curto documentário alusivo a esta actividade baseada na tradição, desde a colheita das folhas, que acontece entre Abril e Setembro, aos processos naturais de transformação a que são submetidas.
O procedimento realizado na fábrica inclui cinco passos. São eles o murchamento, que decorre noite adentro; o enrolamento, por 30 minutos; a oxidação ou fermentação num tabuleiro, durante cerca de três horas, para que as folhas fiquem com uma cor acastanhada e, deste modo, concentrem o teor de cafeína; a secagem a 90 °C, em que 120 quilos de folhas demoram, mais ou menos, uma hora; e, finalmente, a selecção dos tipos de chás, a qual é efectuada através de máquinas munidas de redes, e empacotamento.
Os chás desta fábrica de Porto Formoso constituem uma lista, com cinco tipologias. O Orange Pekoe, obtido a partir do botão e da primeira folha, cujo perfume e paladar se revelam fortes, enquanto o Pekoe, composto pela segunda folha, resulta num chá com um sabor menos acentuado. Já os aromas do Boken Leaf, feito a partir da terceira folha e das partilhas das restantes, são mais suaves. O Azores Home Blend, “inspirado no fabrico caseiro de chá, que se mantém até aos nossos dias, na ilha de São Miguel” e “resulta da colheita fina do primeiro chá do ano”, foi criado em 2016 pela Fábrica de Chá Porto Formoso.
Terminada a visita, os proprietários do Chá Porto Formoso oferecem a degustação de um chá na sua sala criada para o efeito. Em contrapartida, é possível fazer uma degustação de chás, neste espaço, onde também está recriada uma cozinha tipicamente açoriana dos velhos tempos.
Antes de sair da propriedade, vá até ao miradouro. Daqui se avistam os tracejados verdejantes formados pelos arbustos da planta do chá – outros há na encosta oposta, localizada nas traseiras do casario da fábrica. A paisagem desdobra-se, ao fundo, em montes verdejantes e aglomerados de casas de Porto Formoso, com a sua Praia dos Moinhos, e o mar, ao fundo.
É ir!
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