Uma década passou desde a apresentação do primeiro ensaio efectivo deste projecto da bicentenária empresa duriense. Criado com base na recuperação de “velhas” castas autóctones do Douro, esta linha experimental reflecte um trabalho cirúrgico vinculado à necessidade de mostrar quão valioso é o património vitivinícola da região, e, este ano, estreia a edição feita a partir de Tinta Amarela.
“Hoje vamos falar precisamente de mudança, vamos falar de terroir”. As palavras são de Pedro O. Silva Reis, Fine Wine Manager, na Real Companhia Velha, referindo-se à apresentação dos novos Séries, desta linha experimental de vinhos, reflexo da ousadia partilhada com Jorge Moreira, Director de Enologia desta empresa bicentenária duriense. “Mas mais importante, é falar um pouco sobre a mudança que houve na Real Companhia Velha e na região do Douro, o que nos permite pensar hoje da maneira que pensamos”, continua Pedro O. Silva Reis acerca da Séries, que, desde o início, reúne 13 referências diferentes, num total de 30 vinhos.
Antes de avançarmos, importa explicar este projecto. A sua origem remonta a 1996, ano da estreia do que é, atualmente, um trabalho de constante inovação e experimentação. “Queríamos fazer grandes vinhos do Douro, vinhos de qualidade”, acrescenta o enólogo. Contrataram o enólogo norte-americano Jerry Luper e puseram em prática o plano de mudança na vinha, no sentido de obter uma maturação mais equilibrada. “O tempo da vindima passou a ter uma importância enorme”, salienta Jorge Moreira. Na adega, “começamos a usar técnicas diferentes de vinificação”, como os controlos de oxigénio e de maturação utilizados de forma mais rigorosa.
Outro passo importante, para avançar com este projecto experimental, foi a produção de vinhos feitos a partir de uma só casta, para outras gamas do portefólio da Real Companhia Velha. O objectivo consistiu em “perceber o que era o Douro, qual era a diversidade do Douro e perceber a individualidade de cada casta”, explica o Director de Enologia desta empresa bicentenária.
Missão: recuperar “velhas” castas autóctones do Douro
Esta acção é complementada, em 2002, com a decisão de recuperar mais de três dezenas de castas típicas do Douro, sobretudo as que estavam praticamente extintas. “Estávamos a perder a diversidade”, afirma Jorge Moreira.
Para pôr um ponto final a esta perda vertiginosa do património vitícola do Douro, quem trabalhava no Departamento de Viticultura da Real Companhia Velha começou “a fazer o levantamento de castas de talhões, que pareciam interessantes repetindo o que fizeram no princípio”.
Nesta vasta lista de variedades de uvas autóctones do Douro, tal como acontece nas vinhas velhas, plantadas até à década de 1970, na região, constam as mais conhecidas, como a Touriga Franca, a Tinta Roriz, a Tinta Amarela e a Touriga Nacional. A estas, somam-se “cascas interessantes, como a Tinta da Barca, a Cornifesto, a Malvasia Preta, a Donzelinho branco e tinto”, entre outras, realça Pedro O. Silva Reis. Todas estas estão adaptadas às “condições austeras do Douro”, o que não acontece em relação ao que se registou, com as variedades de uva plantadas entre as décadas de 1970 e 1990. “Pensava-se no número e não tanto na qualidade”, reforça o Fine Wine Manager da Real Companhia Velha.
Em finais de 1990, esta empresa bicentenária duriense passou a ter “uma abordagem muito diferente em relação às vinhas do Douro, não só na forma como se plantavam, mas também no encepamento”. Pedro O. Silva Reis refere-se ao projecto Séries, “que teve um grande, grande, grande impacto na Real Companhia Velha (…) Os vinhos Séries marcaram muito a nossa forma de produzir vinhos, técnicas que nós abordamos na adega, que se desenvolveram muito a pensar nas uvas que estamos a vinificar”.
Cada monovarietal reflecte a região no seu todo
Em suma, “voltaram às vinhas velhas e começaram a vinificar [as castas] separadamente, por parcelas. Assim, com base no trabalho iniciado em 1996, surgiu, em 2012, o projeto Séries, a semente do que serão os nossos vinhos no futuro. Muitos dos vinhos que estão, hoje, na adega, foram feitos com base nestes ensinamentos”, esclarece Jorge Moreira.
Hoje, a maioria das castas, posteriormente vindimadas, para os vinhos da Séries, está plantada na Quinta do Casal da Granja, em Alijó. Alvarelhão Branco, Alvaraça, Branco Gouvães (ou Touriga Branca), Esgana Cão, Donzelinho Branco, Moscatel Ottonel e Samarrinho são alguns desses exemplos. Já as castas tintas – Bastardo, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca e Tinto Cão – estão, sobretudo, na Quinta das Carvalhas, localizada a dois passos do Pinhão.
De acordo com a linha cronológica, o primeiro vinho é o Séries Real Companhia Velha Rufete 2010. Como foi apresentado ao mercado em 2012, este é, por conseguinte, o ano delimitador do início deste projecto, que, em 2020, celebra uma década. Tudo boas razões, para a apresentação das novas colheitas.
Nos brancos, constam o Séries Real Companhia Velha Gouvães Branco 2018 (preço sob consulta), o Séries Real Companhia Velha Donzelinho Branco 2019 (€20) e o Séries Real Companhia Velha Samarrinho 2019 (preço sob consulta). Os tintos desta nova série são o Séries Real Companhia Velha Bastardo 2017 (€20), o Séries Real Companhia Velha Rufete 2017 (€20), o Séries Real Companhia Velha Malvasia Preta 2018 (€20), o Séries Real Companhia Velha Cornifesto 2018 (€20) e, a novidade deste projecto, o Séries Real Companhia Velha Tinta Amarela 2018 (€20).
Brindemos!