O novo álbum combina sonoridades afro-brasileiras eletrificadas, que piscam olhos ao rock, ao funk e, é claro, ao samba, que Luca Argel e a sua banda já tinham virado pelo avesso em Samba de Guerrilha. Igualmente carregado de poesia e mensagens, Sabina é, contudo, o trabalho mais solar e dançante que o cantautor luso-brasileiro já concebeu até hoje. Palavras e sons são louvação e feitiço, alimento para o corpo e a mente.
É com estas palavras, tão bem articuladas para nos roubarem a atenção, que nos chega a boa-nova de um novo trabalho de Luca Argel. Dois anos depois de apresentar “Samba de Guerrilha” – sobre o qual entrevistámos Luca aqui, o músico está de regresso às edições com “Sabina”. Neste quarto álbum de originais, anuncia-nos que recupera e homenageia a história e o mito de uma quitandeira que foi símbolo da persistência do racismo após a abolição da escravatura e exemplo da solidariedade de rua que historicamente o enfrentou – da sua vida sabe-se pouco mais do que aconteceu num espaço de poucos dias, quando subitamente se tornou um símbolo político para depois desaparecer, e voltar como lenda.
Um álbum, diz-nos, que nasce da encruzilhada onde o mito e a história se encontram, resgatando o passado como projeção de todas as lutas do presente.
Se em “Samba de Guerrilha” Luca resgata a história política do samba, dos seus protagonistas e do papel preponderante que desempenharam na luta contra a escravatura, o racismo, a pobreza e a ditadura militar, em “Sabina” o foco é dirigido ao “corpo encantado das ruas” e aos atores e atrizes da vida quotidiana onde a história se desenrola, constrói e disputa para lá das narrativas oficiais.
A viagem sonora pela aventura de Sabina será editada em vinil, CD, e plataformas digitais e banda desenhada no dia 22 de fevereiro de 2023.
Este novo trabalho de Luca Argel é apresentado ao vivo no dia 23 de março de 2023 no b.Leza em Lisboa e no dia 26 de março no Novo Ático no Porto (os bilhetes estarão à venda brevemente).
A trajetória artística do cantor, compositor e escritor Luca Argel começou em 2012 com o lançamento do primeiro livro “esqueci de fixar o grafite”. Logo depois, uma súbita mudança para Portugal, acaba por despertar novos caminhos musicais e poéticos. Em 2016 edita o seu álbum de estreia “Tipos que tendem para o silêncio”, a que se segue “Bandeira”, em 2017, e “Conversa de Fila”, em 2019, ambos muito elogiados pela inteligência das letras e a doçura da voz. Em 2021 regressa às edições com o aclamado “Samba de Guerrilha”, álbum conceptual destacado como um dos melhores lançamentos do ano, onde Luca Argel resgata a memória e recria velhos sambas com uma musicalidade inventiva e radicalmente transformada.
Formado em música pela UNIRIO, e mestre em Literatura pela Universidade do Porto, para além da carreira a solo como compositor e como escritor, Luca Argel é também vocalista e compositor de projetos coletivos como os grupos “Samba Sem Fronteiras” e “Orquestra Bamba Social”, com quem divide a alegria de difundir a sonoridade e poesia da música brasileira em Portugal, além de dinamizar o podcast “Boi com Abóbora”, de ser um dos Djs e dinamizadores do coletivo “Tropicáustica” e de compor trilhas sonoras para dança e cinema; sem esquecer o refinamento puro com Ana Deus no projecto “Ruído Vário” onde musicam a obra do imenso Fernando Pessoa.
Caros ouvintes… É colocar fevereiro na vossa agenda musical pois vem por aí música de excelência, da pena de um músico que há muito conquistou terras lusas com as suas originais e viciantes sonoridades.
Prometemos levantar mais deste véu ritmado, em breve.
Até lá, fica o single no ar. •