AdegaMãe Terroir ou quando a expressão atlântica é servida no copo

Com novo rótulo, a dupla de vinhos desta referência reflecte um perfil peculiar, influenciado pelo oceano, a terra e ação do vento sobre o rocio matinal, o trabalho realizado na adega e o tempo.


AdegaMãe Terroir branco 2017 (€50) e AdegaMãe Terroir tinto 2016 (€50) são as novidades da propriedade vinhateira da família Alves, cujo CEO é Bernardo Alves. Instalada na Quinta da Archeira, localizada na freguesia de Ventosa, no concelho de Torres Vedras, esta casa tem, no seu mar de vinhas, a predominância das castas brancas, com a excepção da Pinot Noir, a única variedade de uva tinta ali plantada. 

O primeiro é feito a partir das castas Arinto e Viosinho . Esta última é proveniente de uma parcela específica e consiste na “casta-rainha” da AdegaMãe. “Dá-se muito bem com este clima atlântico e especialmente com este solo argilo-calcário, que é muito bom para castas brancas”, comenta Diogo Lopes, o enólogo da casa. Engarrafado em Agosto de 2018 e com entrada directa para o mercado em Novembro deste ano de 2022, nele prevalecem a complexidade no nariz e a sensação de mineralidade, que, na boca, confere a acidez e o final salino.


Touriga Nacional, Touriga Franca e Cabernet Sauvignon são as castas que “dão corpo” ao segundo. Vindimadas na Quinta de São Carlos, uma das históricas propriedades vinhateiras do concelho de Alenquer, situado do lado de lá das serras do Socorro e da Archeira, as referidas variedades de uva, a par com o trabalho realizado na adega, resultam num vinho complexo no nariz e com estrutura na boca, sem esquecer o final longo e persistente. Apesar da distância ser maior em relação ao oceano, é notória a ténue sensação de salinidade, característica comum aos dois AdegaMãe Terroir.

Sobre ambas as novidades, Diogo Lopes revela o desejo de que “sejam uma expressão muito pura” do que é o terroir dos Vinhos de Lisboa. Ou seja, o enólogo da casa quer ir mais além do que os atributos das castas utilizadas em cada lote, para que se consiga mostrar o “perfil genuinamente atlântico que nos difere”, daí a inexistência de castas ou lotes inscritos nos respectivos rótulos.


Eis o ponto de partida para uma prova vertical, com as quatro colheitas do AdegaMãe Terroir branco (2013, 2014, 2016 e 2017). Com estágio de cinco anos, são vinhos muito peculiares, com manifestas oscilações organoléticas a registar sobre estas colheitas, característica que diz muito sobre a influência das condições climáticas de cada ano. Sem esquecer o particular destaque para AdegaMãe Terroir branco 2014, com uma sensação de salinidade a enaltecer e a recomendar a quem tanto aprecia um branco com volume e untuosidade na boca. 


Sobre as três colheitas do AdegaMãe Terroir tinto é de referir a primeira, de 2012, feita a partir das castas Touriga Nacional e Merlot. Foi o primeiro ano em que a AdegaMãe trabalhou em parceria com a Quinta Dom Carlos, com Luís Carvalho ainda como responsável pela viticultura naquela propriedade. “Foi tudo vindimado separadamente”, afirma Diogo Lopes, e o vinho estagiou 18 meses em barrica, aos quais se somam os restantes que perfazem os seis anos de envelhecimento. Da colheita de 2015, evidenciam-se o carácter vegetal da Petit Verdot, que confere potencial de guarda a este vinho, e cujo lote é complementado pela Touriga Nacional. 

De volta às boas novas, Bernardo Alves destaca o facto de se tratar de uma apresentação “muito especial”, ou não fossem ambos a representação dos topos de gama da AdegaMãe. Ao mesmo tempo, fecham o ciclo da renovação da imagem, que já tinha dado a volta a todo o portefólio vínico do produtor a degustar no Sal na Adega, o restaurante da AdegaMãe, instalado no piso superior do edifício de betão e que é “uma exposição dos nossos vinhos”.

Brindemos!


+ AdegaMãe
© Fotografia: João Pedro Rato

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